|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Longa mostra a trajetória política do poeta Patativa
Documentarista resgata vida e obra
do artista nordestino morto em 2002
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Um dos mais conhecidos
poemas de Patativa do
Assaré (1909-2002),
"Triste Partida" fala do sofrimento do nordestino em São
Paulo. "Eu vendo meu burro,
meu jegue, o cavalo", pois "a
coisa tá feia", para "viver como
escravo nas terras do sul".
Embora se definisse como
"um agricultor muito pobre",
Antônio Gonçalves da Silva
-nome de batismo do poeta-
se manteve até o fim da vida no
interior do Ceará. Apenas a sua
obra migrou para os grandes
centros, como lembra o documentário "Patativa do Assaré
-Ave Poesia".
O diretor Rosemberg Cariry
("Corisco & Dadá", "Lua Cambará") já havia feito ao menos
outros dois filmes sobre o personagem: "Patativa do Assaré
-Um Poeta Camponês" e "Patativa - Um Poeta do Povo".
"Ave Poesia" recupera imagens de ambos, bem como de
documentários realizados pelos "mestres" de Cariry:
"Aruanda", de Linduarte Noronha, "O País de São Saruê", de
Vladimir Carvalho, e "Viramundo", de Geraldo Sarno.
A partir do velório de Patativa, o documentário lhe reconstitui a trajetória por suas próprias palavras. Diz ter passado
apenas seis meses na escola, e
com um professor que "também nada sabia". Autodidata,
se encantou com a poesia quando leu na infância o primeiro
folheto de cordel. Aos oito anos,
começou a fazer versos.
Preso por desacato a autoridade em 1943, quando criticou
o prefeito de Assaré em um
poema, viria a aproximar sua
obra da luta pela reforma agrária nos anos 60. Boa parte do
documentário se dedica à sua
tomada de posição política depois do golpe de 1964, com destaque para um poema contra o
ex-presidente Castello Branco.
Mais tarde, diria ser "um socialista de coração". Considerado subversivo pelo regime militar, foi solidário à dor de sua
gente. E esperançoso: "Sem-terra medo não tem/Pobre, coragem possui/Quando a força
mata cem/Vem mil e substitui". Nada mais natural para
quem se definia também como
"um poeta do povo".
Avaliação: bom
Texto Anterior: Festa de 50 anos terá mais shows Próximo Texto: Crítica: Média-metragem faz painel da improvisação poética Índice
|