São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Crítica

Longa mostra a trajetória política do poeta Patativa

Documentarista resgata vida e obra do artista nordestino morto em 2002

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Um dos mais conhecidos poemas de Patativa do Assaré (1909-2002), "Triste Partida" fala do sofrimento do nordestino em São Paulo. "Eu vendo meu burro, meu jegue, o cavalo", pois "a coisa tá feia", para "viver como escravo nas terras do sul".
Embora se definisse como "um agricultor muito pobre", Antônio Gonçalves da Silva -nome de batismo do poeta- se manteve até o fim da vida no interior do Ceará. Apenas a sua obra migrou para os grandes centros, como lembra o documentário "Patativa do Assaré -Ave Poesia".
O diretor Rosemberg Cariry ("Corisco & Dadá", "Lua Cambará") já havia feito ao menos outros dois filmes sobre o personagem: "Patativa do Assaré -Um Poeta Camponês" e "Patativa - Um Poeta do Povo".
"Ave Poesia" recupera imagens de ambos, bem como de documentários realizados pelos "mestres" de Cariry: "Aruanda", de Linduarte Noronha, "O País de São Saruê", de Vladimir Carvalho, e "Viramundo", de Geraldo Sarno.
A partir do velório de Patativa, o documentário lhe reconstitui a trajetória por suas próprias palavras. Diz ter passado apenas seis meses na escola, e com um professor que "também nada sabia". Autodidata, se encantou com a poesia quando leu na infância o primeiro folheto de cordel. Aos oito anos, começou a fazer versos.
Preso por desacato a autoridade em 1943, quando criticou o prefeito de Assaré em um poema, viria a aproximar sua obra da luta pela reforma agrária nos anos 60. Boa parte do documentário se dedica à sua tomada de posição política depois do golpe de 1964, com destaque para um poema contra o ex-presidente Castello Branco.
Mais tarde, diria ser "um socialista de coração". Considerado subversivo pelo regime militar, foi solidário à dor de sua gente. E esperançoso: "Sem-terra medo não tem/Pobre, coragem possui/Quando a força mata cem/Vem mil e substitui". Nada mais natural para quem se definia também como "um poeta do povo".

Avaliação: bom

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