São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2011

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ANÁLISE

Nós existimos e pleiteamos nosso quadrado nesse latifúndio

PITTY
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde que me entendo por banda da cena soteropolitana, uma incongruência se faz notar: como uma cidade com tantos grupos legais, com tantos discos de rock sendo feitos e com público não consolida esses fatos dentro e fora das suas fronteiras?
Nessa equação, faltam dois elementos vitais: divulgação em meios de massa e casas de show de médio porte para as bandas que já não tocam só para os amigos mas ainda não enchem uma Concha Acústica. O resto, temos.
Mesmo com essas incertezas rondando seu trabalho, o roqueiro baiano não deixa de fazê-lo. A internet ajuda na divulgação independente e livre de conchavos, mas ainda não é suficiente para sair do gueto.
Faz-se necessário o apoio da mídia de massa, do rádio e da TV, que, na Bahia, ainda é quase totalmente dedicada aos ritmos populares e à cultura local tipo exportação. Muitas vezes ouvi o argumento de que "não existe público de rock na Bahia" e quase me deixei levar por ele.
Até o dia em que a minha banda tocou no Festival de Verão de Salvador. Concluí que o público que estava ali, vibrante, não sabia que existíamos até finalmente aparecermos na TV aberta.
Hoje há projetos incríveis realizados com o apoio do poder público, algo antes era impensável. Já é um passo. A cultura baiana, encantadora e de inegável valor, envolve o candomblé e seus ritmos, os blocos afro, a Roma Negra, a guitarra de Armandinho, Dodô e Osmar, Caymmi e sua brejeirice. Mas a industrialização do axé calcou outra Bahia no imaginário popular.
"Roqueiro baiano" vira um epíteto digno de menção pela suposta excentricidade: uns o enunciam em tom heroico, outros, de descrença.
Essas manifestações musicais podem coexistir. Se essa ideia ainda soa estranha por aqui, é porque o é por lá. Pleiteamos nosso quadrado nesse latifúndio. Não adianta nos escondermos debaixo do tapete: nós existimos.
Roqueiro na Bahia não monta banda porque pensa em ficar rico e famoso. É um chamado interno ao qual simplesmente não se pode fugir. Se, no final, ficar rico e famoso, melhor ainda.

PITTY é cantora e compositora e vive em São Paulo há oito anos


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