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"PELÉ ETERNO"
Biografia é registro de arrepiar, no bom e também no mau sentido
FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC
Os primeiros minutos de "Pelé Eterno" são de arrepiar,
no mau sentido. As vinhetas de
abertura, um cafonérrimo balé de
bolas douradas, antecipam a estética que domina o documentário
de Aníbal Massaini Neto.
As cenas iniciais, sobre a infância de Pelé, trazem um depoimento coletivo de integrantes de sua
família, cujo texto parece decorado, dada a ausência de espontaneidade. Dona Celeste, mãe do
ex-craque, conta que havia algo
estranho naquela gravidez. "Eu
sentia umas cabeçadas, uns chutes." Risos forçados.
Até que surgem os gols e jogadas do garoto que estreou no Santos aos 15 anos, e a coisa muda de
figura. Trata-se da maior reunião
de lances do maior futebolista da
história. São mais de 300 gols, de
todas as fases da carreira do Rei,
néctar para todas as torcidas.
Está ali todo o imenso repertório de Pelé. Arrancadas, seqüências controlando a bola na cabeça
ou no peito, bolas por entre as
pernas, chutes encobrindo o goleiro, bicicletas, chutes-petardos...
É de arrepiar, no bom sentido.
A reconstituição dos dois gols
lendários dos quais não há registros -contra o Juventus, em 59,
por computador, e o "gol de placa" contra o Fluminense, em 61, a
partir da colagem de outros lances- vale mais pela curiosidade.
O filme segue, e volta aquele outro arrepio. O texto de Armando
Nogueira, que contribui bastante
para o alto teor de pieguice, passeia entre clichês ("Pelé e a bola
nasceram um para o outro") e trechos constrangedores (como, ao
exaltar suas conquistas sexuais,
diz que Pelé sempre foi bom "de
penetração e finalização"). Ah, e
tudo é entrecortado por depoimentos de Pelé, que surge a todo
instante de terno e gravata.
Se é louvável pela extensiva pesquisa, que revolveu 70 arquivos
de 15 países, o documentário se
debate numa crise de identidade
formal ao resultar numa apologia,
numa peça de propaganda a serviço da imortalidade do Rei. A
edição tem peso fundamental
nessa parcialidade: seja nos depoimentos ou nos lances de gol,
os outros jogadores estão ali mais
para realçar a grandeza de Pelé do
que para interagir com ele. Dessa
forma, quem vê o filme é instado a
crer que golaços de Tostão, Jairzinho ou Vavá só aconteceram por
causa d'Ele. Garrincha pouco
aparece, Gérson tem seu gol na final de 70 apagado da fita.
No pesar da balança, fica o gênio do craque maior. Ao final da
projeção, ainda tontos pela performance sobrenatural do protagonista, concluímos: Pelé é eterno, o filme de Massaini, não.
Pelé Eterno
Direção: Aníbal Massaini Neto
Produção: Brasil, 2004
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, SP Market e circuito
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