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O homem que sabia demais
Silvio de Abreu revela truque de Hitchcock em "Belíssima" e insinua que Alberto
(Alexandre
Borges) é
o principal
suspeito
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Que a novela "Belíssima"
(Globo) é um fenômeno de audiência todo mundo sabe. Mas
Silvio de Abreu, autor da trama
policial que intriga milhões de
telespectadores todas as noites,
gosta de exibir provas.
"Nos intervalos, a audiência
não cai. Ou seja, as pessoas estão ligadas na coisa", afirma.
Para vidrar o público, o ex-cineasta Abreu buscou inspiração em um de seus ídolos no cinema, o mestre do suspense Alfred Hitchcock (1899-1980).
"Adoro Hitchcock. Ele falava
muito em McGuffin. Esta novela tem um McGuffin. E está todo mundo interessado em saber o que é!", revela o autor.
McGuffin é um truque que
Hitchcock usava para desconcertar o espectador. Consiste
em flagrar um personagem em
atitude suspeita. Só que o segredo desse "suspeito" não tem
relação com a trama principal.
Por exemplo, pode ser que a
secretária Yvete (Angelita Feijó) queira apenas conferir a
marca do batom de Júlia (Glória Pires) ao remexer sua bolsa.
Mas o espectador da novela
logo associa essa cena aos dois
grandes mistérios da trama
-pela ordem: Quem é o mandante dos golpes contra Júlia?
E quem é o filho de Bia Falcão
(Fernanda Montenegro) com
Murat (Lima Duarte)?
Ou seja, o McGuffin, que é
um mistério secundário, acaba
funcionando como pista falsa.
Em "Belíssima", o truque deu
certo. "Todo mundo pegou a
pista errada", diz Abreu.
Principal suspeito
Na entrevista que deu à Folha, em seu apartamento, em
São Paulo, o novelista indicou
que a estrada principal conduz
as suspeitas de vilania diretamente a Alberto Sabatini, personagem de Alexandre Borges.
Mas pode ser (em novela tudo é possível!) que Abreu estivesse lançando um McGuffin à
reportagem. A solução definitiva do mistério só será conhecida nos três últimos capítulos da
novela, que termina dia 7, antevéspera da final da Copa.
Até lá, Abreu curte a sensação de vitória antecipada. "O jogo está ganho", vibra. De fato:
"Belíssima" já é a segunda novela mais vista da história, com
pelo menos 60 milhões de telespectadores. Só fica atrás de
"Senhora do Destino" (2004).
Não é pouca coisa para quem
"vinha de duas experiências difíceis, que foram "Torre de Babel" e "Filhas da Mãe'", novelas
que se converteram em pivô de
uma queda-de-braço na cúpula
da Globo e de uma crise de audiência, respectivamente.
Em "Belíssima", a 13ª novela
escrita por Abreu, 63, nada saiu
do eixo. Ou melhor, saiu sim. A
diferença é que, desta vez, o autor conseguiu segurar as pontas
e manter a audiência, mesmo
no pior momento, quando Glória Pires, doente, ficou um mês
afastada das gravações.
Abreu viu-se sem a mocinha
Júlia Assumpção, sem a vilã Bia
Falcão (a hepatite de Pires
coincidiu com o momento da
"morte" de Bia na novela) e sem
a chance de aumentar a participação de Cláudia Abreu, porque sua personagem, Vitória,
estava trancafiada na cadeia.
A conseqüência do percalço
foi que o autor perdeu a dianteira em relação à gravação dos
capítulos e teve de reduzir o volume de cenas feitas em São
Paulo, já que não era possível
planejar com antecedência o
deslocamento das equipes.
Mesmo assim, Abreu, que
sempre localizou suas tramas
em São Paulo, acha que a cidade
"nunca esteve tão bonita na tela". Deve estar se referindo às
vezes em que a São Paulo de
"Belíssima" é realmente São
Paulo, e não o Projac...
Outra coisa que Abreu teve
de reduzir foi a participação
dos atores japoneses na trama,
por receio de que eles se tornassem "o núcleo insuportável
da novela", dadas as suas deficiências de interpretação.
"Não digo tanto o Carlos Takeshi [Takae], porque ele é um
ator experiente. Mas eu queria
ter conseguido atores melhores. Acho que a menina [Juliana Kametani, intérprete de Suzi] é bonitinha, mas é muito
verde. Era uma modelo, nunca
tinha feito nada. O garoto também [Eduardo Hashimoto/Ernesto] não correspondeu, tanto
que o personagem, que era um
dos que eu mais gostava, murchou", afirma Abreu.
Próximos capítulos
Para manter os segredos de
"Belíssima" na ordem do dia
até as últimas cenas, Abreu escreveu vários finais para as
principais tramas, a fim de confundir até mesmo o elenco.
Terão mais de uma versão
gravada as cenas que revelarão
as identidades do misterioso vilão que dá ordens a André
(Marcello Antony) e do filho(a)
de Bia e Murat. Júlia gravará
um final em que fica com André
e outro, com o grego Nikos
(Tony Ramos). O desfecho,
provavelmente trágico, de Bia
também será preservado.
Antes disso, o telespectador
de "Belíssima" se surpreenderá
com a revelação de que o "perigosão" Aquilino Santana, o Seu
Quiqui (Serafim Gonzalez), pai
de André, salvou a vida de Júlia,
ao socorrer a então menina no
acidente de avião exibido logo
no primeiro capítulo.
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