São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O homem que sabia demais

Silvio de Abreu revela truque de Hitchcock em "Belíssima" e insinua que Alberto (Alexandre Borges) é o principal suspeito

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Que a novela "Belíssima" (Globo) é um fenômeno de audiência todo mundo sabe. Mas Silvio de Abreu, autor da trama policial que intriga milhões de telespectadores todas as noites, gosta de exibir provas.
"Nos intervalos, a audiência não cai. Ou seja, as pessoas estão ligadas na coisa", afirma.
Para vidrar o público, o ex-cineasta Abreu buscou inspiração em um de seus ídolos no cinema, o mestre do suspense Alfred Hitchcock (1899-1980).
"Adoro Hitchcock. Ele falava muito em McGuffin. Esta novela tem um McGuffin. E está todo mundo interessado em saber o que é!", revela o autor.
McGuffin é um truque que Hitchcock usava para desconcertar o espectador. Consiste em flagrar um personagem em atitude suspeita. Só que o segredo desse "suspeito" não tem relação com a trama principal.
Por exemplo, pode ser que a secretária Yvete (Angelita Feijó) queira apenas conferir a marca do batom de Júlia (Glória Pires) ao remexer sua bolsa.
Mas o espectador da novela logo associa essa cena aos dois grandes mistérios da trama -pela ordem: Quem é o mandante dos golpes contra Júlia? E quem é o filho de Bia Falcão (Fernanda Montenegro) com Murat (Lima Duarte)?
Ou seja, o McGuffin, que é um mistério secundário, acaba funcionando como pista falsa. Em "Belíssima", o truque deu certo. "Todo mundo pegou a pista errada", diz Abreu.

Principal suspeito
Na entrevista que deu à Folha, em seu apartamento, em São Paulo, o novelista indicou que a estrada principal conduz as suspeitas de vilania diretamente a Alberto Sabatini, personagem de Alexandre Borges.
Mas pode ser (em novela tudo é possível!) que Abreu estivesse lançando um McGuffin à reportagem. A solução definitiva do mistério só será conhecida nos três últimos capítulos da novela, que termina dia 7, antevéspera da final da Copa.
Até lá, Abreu curte a sensação de vitória antecipada. "O jogo está ganho", vibra. De fato: "Belíssima" já é a segunda novela mais vista da história, com pelo menos 60 milhões de telespectadores. Só fica atrás de "Senhora do Destino" (2004).
Não é pouca coisa para quem "vinha de duas experiências difíceis, que foram "Torre de Babel" e "Filhas da Mãe'", novelas que se converteram em pivô de uma queda-de-braço na cúpula da Globo e de uma crise de audiência, respectivamente.
Em "Belíssima", a 13ª novela escrita por Abreu, 63, nada saiu do eixo. Ou melhor, saiu sim. A diferença é que, desta vez, o autor conseguiu segurar as pontas e manter a audiência, mesmo no pior momento, quando Glória Pires, doente, ficou um mês afastada das gravações.
Abreu viu-se sem a mocinha Júlia Assumpção, sem a vilã Bia Falcão (a hepatite de Pires coincidiu com o momento da "morte" de Bia na novela) e sem a chance de aumentar a participação de Cláudia Abreu, porque sua personagem, Vitória, estava trancafiada na cadeia.
A conseqüência do percalço foi que o autor perdeu a dianteira em relação à gravação dos capítulos e teve de reduzir o volume de cenas feitas em São Paulo, já que não era possível planejar com antecedência o deslocamento das equipes.
Mesmo assim, Abreu, que sempre localizou suas tramas em São Paulo, acha que a cidade "nunca esteve tão bonita na tela". Deve estar se referindo às vezes em que a São Paulo de "Belíssima" é realmente São Paulo, e não o Projac...
Outra coisa que Abreu teve de reduzir foi a participação dos atores japoneses na trama, por receio de que eles se tornassem "o núcleo insuportável da novela", dadas as suas deficiências de interpretação.
"Não digo tanto o Carlos Takeshi [Takae], porque ele é um ator experiente. Mas eu queria ter conseguido atores melhores. Acho que a menina [Juliana Kametani, intérprete de Suzi] é bonitinha, mas é muito verde. Era uma modelo, nunca tinha feito nada. O garoto também [Eduardo Hashimoto/Ernesto] não correspondeu, tanto que o personagem, que era um dos que eu mais gostava, murchou", afirma Abreu.

Próximos capítulos
Para manter os segredos de "Belíssima" na ordem do dia até as últimas cenas, Abreu escreveu vários finais para as principais tramas, a fim de confundir até mesmo o elenco.
Terão mais de uma versão gravada as cenas que revelarão as identidades do misterioso vilão que dá ordens a André (Marcello Antony) e do filho(a) de Bia e Murat. Júlia gravará um final em que fica com André e outro, com o grego Nikos (Tony Ramos). O desfecho, provavelmente trágico, de Bia também será preservado.
Antes disso, o telespectador de "Belíssima" se surpreenderá com a revelação de que o "perigosão" Aquilino Santana, o Seu Quiqui (Serafim Gonzalez), pai de André, salvou a vida de Júlia, ao socorrer a então menina no acidente de avião exibido logo no primeiro capítulo.


Texto Anterior: Horário nobre na TV
Próximo Texto: "A TV é mais importante do que o cinema", diz novelista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.