São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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"Mistério se mantém até o final", diz Negrini sobre adaptação de Bressane

FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles mal se olham, se tocam ou se falam. "Mas existe algo tenso entre os dois, uma tensão erótica", explica a atriz Alessandra Negrini, 38, sobre a relação da sua personagem com a de Selton Mello, os únicos em cena no filme "A Erva do Rato".
Para construir esta "relação do avesso", foram dois meses visitando a casa do diretor, Júlio Bressane, no Leblon, quase diariamente, entre discussões e observações de pinturas clássicas e fotografias antigas. "Tudo para sacar o filme que ele estava imaginando, para penetrar esse universo Júlio Bressane."
"Achava um filme muito difícil, misterioso, por mais que a gente conversasse. Esse mistério se manteve até o final, mesmo nas filmagens. Depois que vi o filme, comecei a usufruir mais esse mistério, gostei."
No longa, os dois personagens dividem a mesma casa e cama, mas a rotina é atrapalhada pela chegada de um rato, que começa a roer as fotografias íntimas que o homem tira com esmero da companheira.
Sobre as fotos que surgem na tela, com closes bastante reveladores, Negrini logo esclarece que são de uma dublê, cujo nome surge na metade final dos créditos. "Aliás, isso devia ficar mais explícito [que uma dublê fez]", diz Negrini, embora não se importe com a nudez, contanto que seja "necessária".
"Eu não ficaria nua para qualquer filme, assim comercialzão, não fico mesmo, não sou a fim. Mas, agora, um filme que tem uma linguagem que te cubra, você pode ficar nua, é a película, é a luz, é a beleza dali."
A atriz conta que foi consultada por Bressane antes de rodar certas cenas, como uma em que aparece sem roupa sob a luz vermelha de um laboratório caseiro de revelação de fotos.
"Ele perguntou se eu queria fazer, e eu disse: "Vou pensar". Pensei e falei: "Claro que eu vou fazer". É uma cena fundamental, a tensão fica num nível máximo. Então foi uma escolha minha, foi meu culhão de atriz. Não me sinto exposta. É uma nudez muito clássica, estética."
Este é seu segundo trabalho com Bressane -o primeiro foi "Cleópatra". Ambos foram exibidos no Festival de Veneza. O diretor já a escalou para o próximo, "Beduíno", um "filme meio surrealista", segundo ela.
Paulistana que mora no Rio há 12 anos, Negrini deve voltar a fazer TV no final do ano, numa novela da Globo, onde está desde os anos 90. Sua vontade, no entanto, é se dedicar mais ao teatro, da mesma forma que fez com o cinema autoral. Ela, que já encenou "A Gaivota", de Tchecov, quer produzir sua própria peça em 2010, embora ainda não saiba qual texto.
"Amo fazer TV, mas eu também gosto dos clássicos", diz. "Pô, eu era estudante de ciências sociais [na USP] e caí na Globo. Amo estar lá, mas tem um outro lado meu que precisava ser satisfeito."


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