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Bentinho e José de Alencar saem derrotados
da Reportagem Local
Dois personagens saíram rastejando dos depoimentos das testemunhas de acusação. O primeiro
era aguardado para o debate: Bentinho, protagonista de "Dom Casmurro". O segundo pouco poderia
imaginar que participaria de um
julgamento dessa natureza: o escritor romântico José de Alencar
(1829-1877).
Foi a primeira testemunha da
noite quem colocou os dois em situação desfavorável. Mal tomou
seu lugar na tribuna, o escritor e
jornalista Carlos Heitor Cony já
atacou ambos.
Citando o escritor curitibano
Dalton Trevisan, Cony disse: "Se
Capitu não traiu Bentinho, então
Machado de Assis é José de Alencar". Para ele, se o autor de "Senhora" fosse escrever sobre um
adultério, "ficaria explicando todos os porquês", não deixando nada das ambiguidades de Machado.
Depois de "pôr as coisas no lugar, literariamente", Cony partiu
para cima de Bento Santiago. "Assim como Bentinho diz que a Capitu adulta já estava na criança, como um fruto dentro da casca, é
preciso ver que Bentinho era um
corno que estava na casca. Desde a
infância era um corno potencial."
Ao passo que desmerecia Bentinho, Cony fazia quase-elogios para
Capitu. "Ela foi uma adúltera, mas,
cá entre nós, embora testemunha
de acusação, eu a absolvo, porque
Capitu foi uma adúltera extraordinária. E, se não fosse, a humanidade seria muito mais chata do que
é", brincou o escritor.
Antes de fazer a primeira pergunta para Cony, Luiza Nagib Eluf,
a advogada de defesa de Capitu,
louvou o discurso que acabara de
ouvir: "Gostaria de agradecer a
testemunha por absolver a Capitu,
colaborando com meus esforços".
A segunda testemunha de acusação voltou a bater na mesma dupla. O também escritor e jornalista,
Marcelo Rubens Paiva começou
dizendo: "Bentinho era um chato e
acho que tinha tendências homossexuais. A sua relação com Escobar
era bem estranha". Para reforçar
essa idéia, Paiva cita que Bentinho
foi seminarista. Logo, porém, disse: "Se bem que a testemunha também foi", fazendo alusão a Cony.
José de Alencar também recebeu
sua cota. Ao salientar a complexidade do texto machadiano, Paiva
cravou: "O autor não é burro. Não
é José de Alencar".
(CEM)
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