São Paulo, Sexta-feira, 25 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bentinho e José de Alencar saem derrotados

da Reportagem Local

Dois personagens saíram rastejando dos depoimentos das testemunhas de acusação. O primeiro era aguardado para o debate: Bentinho, protagonista de "Dom Casmurro". O segundo pouco poderia imaginar que participaria de um julgamento dessa natureza: o escritor romântico José de Alencar (1829-1877).
Foi a primeira testemunha da noite quem colocou os dois em situação desfavorável. Mal tomou seu lugar na tribuna, o escritor e jornalista Carlos Heitor Cony já atacou ambos.
Citando o escritor curitibano Dalton Trevisan, Cony disse: "Se Capitu não traiu Bentinho, então Machado de Assis é José de Alencar". Para ele, se o autor de "Senhora" fosse escrever sobre um adultério, "ficaria explicando todos os porquês", não deixando nada das ambiguidades de Machado.
Depois de "pôr as coisas no lugar, literariamente", Cony partiu para cima de Bento Santiago. "Assim como Bentinho diz que a Capitu adulta já estava na criança, como um fruto dentro da casca, é preciso ver que Bentinho era um corno que estava na casca. Desde a infância era um corno potencial."
Ao passo que desmerecia Bentinho, Cony fazia quase-elogios para Capitu. "Ela foi uma adúltera, mas, cá entre nós, embora testemunha de acusação, eu a absolvo, porque Capitu foi uma adúltera extraordinária. E, se não fosse, a humanidade seria muito mais chata do que é", brincou o escritor.
Antes de fazer a primeira pergunta para Cony, Luiza Nagib Eluf, a advogada de defesa de Capitu, louvou o discurso que acabara de ouvir: "Gostaria de agradecer a testemunha por absolver a Capitu, colaborando com meus esforços".
A segunda testemunha de acusação voltou a bater na mesma dupla. O também escritor e jornalista, Marcelo Rubens Paiva começou dizendo: "Bentinho era um chato e acho que tinha tendências homossexuais. A sua relação com Escobar era bem estranha". Para reforçar essa idéia, Paiva cita que Bentinho foi seminarista. Logo, porém, disse: "Se bem que a testemunha também foi", fazendo alusão a Cony.
José de Alencar também recebeu sua cota. Ao salientar a complexidade do texto machadiano, Paiva cravou: "O autor não é burro. Não é José de Alencar". (CEM)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Ambiguidade marca o romance
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.