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A TRAMA
Ambiguidade marca o romance
da Redação
O romance "Dom Casmurro",
publicado em 1899, tem como narrador Bentinho, filho único de
uma família abastada do Rio de Janeiro, que, quando velho, revê sua
existência para "atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a
adolescência".
As lembranças de Dom Casmurro giram em torno de sua relação
com Capitu, que conhece desde
criança. Depois de passar pelo seminário, para cumprir promessa
de sua mãe, Bentinho casa-se com
Capitu, e ambos mantêm uma relação muito próxima com o casal
de amigos Escobar e Sancha.
Ao longo da narrativa, o protagonista-narrador estará permanentemente evocando episódios e
remoendo suas dúvidas sobre a
possibilidade de Capitu ter cometido adultério com Escobar, que
poderia ser o pai de seu filho tardio, Ezequiel.
O texto de Machado trabalha
com ambiguidades e deixa o leitor
ao sabor de indícios que nunca se
transformam em fatos claros e objetivos. O adultério está sempre
presente e insinuado, jamais explicitamente revelado.
Há quem veja em "Dom Casmurro" um correspondente brasileiro
de "Otelo", o clássico sobre o ciúme do inglês William Shakespeare.
"Otelo" não foi o único personagem literário que "participou" do
julgamento. Duas "primeiras-damas" da literatura universal, "Anna Karenina", de Leon Tolstói, e
"Madame Bovary", de Gustave
Flaubert, foram citadas por Carlos
Heitor Cony, como outros romances emblemáticos sobre adultério.
Mas em ambos existe uma preocupação moral de castigar as protagonistas dos romances. "Machado de Assis não teve preocupações
morais. Ele não era moralista, não
era feminista, não era machista.
Era simplesmente um homem que
olhava dentro do homem. E muito
bem", disse Cony.
O escritor também convocou para o debate os recém-lançados
"Amor de Capitu" (Ática), de Fernando Sabino, e "Capitu - Memórias Póstumas" (Artium), de Domício Proença Filho, como exemplos de releituras de "Dom Casmurro". O primeiro é centrado na
narrativa de Bentinho, assim como
no original. O segundo é a relação
de Capitu e Bentinho sob a perspectiva da personagem feminina.
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