São Paulo, Sexta-feira, 25 de Junho de 1999
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A TRAMA
Ambiguidade marca o romance

da Redação

O romance "Dom Casmurro", publicado em 1899, tem como narrador Bentinho, filho único de uma família abastada do Rio de Janeiro, que, quando velho, revê sua existência para "atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência".
As lembranças de Dom Casmurro giram em torno de sua relação com Capitu, que conhece desde criança. Depois de passar pelo seminário, para cumprir promessa de sua mãe, Bentinho casa-se com Capitu, e ambos mantêm uma relação muito próxima com o casal de amigos Escobar e Sancha.
Ao longo da narrativa, o protagonista-narrador estará permanentemente evocando episódios e remoendo suas dúvidas sobre a possibilidade de Capitu ter cometido adultério com Escobar, que poderia ser o pai de seu filho tardio, Ezequiel.
O texto de Machado trabalha com ambiguidades e deixa o leitor ao sabor de indícios que nunca se transformam em fatos claros e objetivos. O adultério está sempre presente e insinuado, jamais explicitamente revelado.
Há quem veja em "Dom Casmurro" um correspondente brasileiro de "Otelo", o clássico sobre o ciúme do inglês William Shakespeare.
"Otelo" não foi o único personagem literário que "participou" do julgamento. Duas "primeiras-damas" da literatura universal, "Anna Karenina", de Leon Tolstói, e "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, foram citadas por Carlos Heitor Cony, como outros romances emblemáticos sobre adultério.
Mas em ambos existe uma preocupação moral de castigar as protagonistas dos romances. "Machado de Assis não teve preocupações morais. Ele não era moralista, não era feminista, não era machista. Era simplesmente um homem que olhava dentro do homem. E muito bem", disse Cony.
O escritor também convocou para o debate os recém-lançados "Amor de Capitu" (Ática), de Fernando Sabino, e "Capitu - Memórias Póstumas" (Artium), de Domício Proença Filho, como exemplos de releituras de "Dom Casmurro". O primeiro é centrado na narrativa de Bentinho, assim como no original. O segundo é a relação de Capitu e Bentinho sob a perspectiva da personagem feminina.


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