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MÚSICA - MIDEM
Internet é ameaça, dizem executivos
DANIEL CASTRO
enviado especial a Miami
"A distribuição de música pela
Internet é a morte do comércio de
CDs." A previsão pessimista é de
Eduardo Bautista, presidente da
SGAE, sociedade espanhola de arrecadação de direitos autorais, e
foi feita terça-feira, cerca de quatro
horas antes de a Olé! (braço da Telefônica na Internet) anunciar o
início da venda de música pela rede mundial de computadores, pelo
formato MP3, no endereço http//
:musica.ole.com).
Bautista pode estar blefando,
mas sua declaração representa o
que pensam sobre o futuro da indústria de CDs executivos de gravadoras e de escritórios de arrecadação de direitos autorais -que
estão em Miami para o terceiro
Midem Americas, feira que reúne
o mercado fonográfico independente da América Latina.
O formato MP3 (o termo mais
procurado na rede) permite a
qualquer pessoa ligada à Internet
baixar em seu computador música
com qualidade próxima à de CD e
distribuí-la quantas vezes quiser
com relativa facilidade, devido ao
seu tamanho extremamente compactado.
Nos EUA, é possível comprar por
cerca de US$ 100 um aparelho (parecido com um walkman) que toca
músicas copiadas em MP3 e gravadas domesticamente em CDs.
Num futuro próximo, essa poderá
ser a principal forma de comércio
de música.
Não é o caso da Olé!, mas existem
na Internet milhares de sites que
fornecem, de graça ou não, músicas em formato MP3 sem pagar direitos a gravadoras, músicos e
compositores. No Brasil, segundo
a União Brasileira dos Compositores, há 974 sites que vendem música via CDs ou MP3.
Ao lado do combate à pirataria, a
busca de soluções tecnológicas para taxar o MP3 e impedir sua reprodução gratuita é hoje a principal preocupação dos dirigentes de
gravadoras e de sociedades de direitos autorais.
Não é exatamente o futuro da indústria fonográfica que está em jogo, mas a cobrança de direitos autorais. Nos EUA, por exemplo, a
Ascap ainda é a única sociedade
que distribui direitos por vendas
de músicas via MP3.
"Temos que aprender a controlar esse animal, a domesticá-lo",
disse John LoFrumento, principal
executivo da Ascap, maior sociedade de direitos autorais do mundo, com cerca de 85 mil sócios.
Para o vice-presidente da Warner para a América Latina, André
Midani, eleito personagem do ano
do mercado fonográfico mundial,
a Internet e o MP3 não são uma
ameaça para as gravadoras a longo
prazo, mas sim uma saída. "Quando tudo isso passar, daqui a quatro
ou cinco anos, a música vai ter um
novo apogeu, graças à Internet",
afirmou.
Segundo Midani, o mercado fonográfico brasileiro "está muito
mal, se desmantelando" não por
causa da Internet, mas devido à
crise econômica e à falência de pequenas lojas de discos e à quebra
de grandes magazines (como Mesbla e Mappin) e à pirataria. A venda de CDs em 98 caiu 14% no Brasil, sexto maior mercado do mundo, e teve nova queda de 15% no
primeiro trimestre deste ano.
Midani afirma que os fantasmas
da indústria fonográfica hoje são o
estoque e as contas a receber. "Se
pudesse trocar esses fantasmas pelo da Internet, estaria aliviado."
O jornalista Daniel Castro viajou a convite da
Reed Midem Organisation.
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