São Paulo, Sexta-feira, 25 de Junho de 1999
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MÚSICA - MIDEM
Internet é ameaça, dizem executivos

DANIEL CASTRO
enviado especial a Miami

"A distribuição de música pela Internet é a morte do comércio de CDs." A previsão pessimista é de Eduardo Bautista, presidente da SGAE, sociedade espanhola de arrecadação de direitos autorais, e foi feita terça-feira, cerca de quatro horas antes de a Olé! (braço da Telefônica na Internet) anunciar o início da venda de música pela rede mundial de computadores, pelo formato MP3, no endereço http// :musica.ole.com).
Bautista pode estar blefando, mas sua declaração representa o que pensam sobre o futuro da indústria de CDs executivos de gravadoras e de escritórios de arrecadação de direitos autorais -que estão em Miami para o terceiro Midem Americas, feira que reúne o mercado fonográfico independente da América Latina.
O formato MP3 (o termo mais procurado na rede) permite a qualquer pessoa ligada à Internet baixar em seu computador música com qualidade próxima à de CD e distribuí-la quantas vezes quiser com relativa facilidade, devido ao seu tamanho extremamente compactado.
Nos EUA, é possível comprar por cerca de US$ 100 um aparelho (parecido com um walkman) que toca músicas copiadas em MP3 e gravadas domesticamente em CDs. Num futuro próximo, essa poderá ser a principal forma de comércio de música.
Não é o caso da Olé!, mas existem na Internet milhares de sites que fornecem, de graça ou não, músicas em formato MP3 sem pagar direitos a gravadoras, músicos e compositores. No Brasil, segundo a União Brasileira dos Compositores, há 974 sites que vendem música via CDs ou MP3.
Ao lado do combate à pirataria, a busca de soluções tecnológicas para taxar o MP3 e impedir sua reprodução gratuita é hoje a principal preocupação dos dirigentes de gravadoras e de sociedades de direitos autorais.
Não é exatamente o futuro da indústria fonográfica que está em jogo, mas a cobrança de direitos autorais. Nos EUA, por exemplo, a Ascap ainda é a única sociedade que distribui direitos por vendas de músicas via MP3.
"Temos que aprender a controlar esse animal, a domesticá-lo", disse John LoFrumento, principal executivo da Ascap, maior sociedade de direitos autorais do mundo, com cerca de 85 mil sócios.
Para o vice-presidente da Warner para a América Latina, André Midani, eleito personagem do ano do mercado fonográfico mundial, a Internet e o MP3 não são uma ameaça para as gravadoras a longo prazo, mas sim uma saída. "Quando tudo isso passar, daqui a quatro ou cinco anos, a música vai ter um novo apogeu, graças à Internet", afirmou.
Segundo Midani, o mercado fonográfico brasileiro "está muito mal, se desmantelando" não por causa da Internet, mas devido à crise econômica e à falência de pequenas lojas de discos e à quebra de grandes magazines (como Mesbla e Mappin) e à pirataria. A venda de CDs em 98 caiu 14% no Brasil, sexto maior mercado do mundo, e teve nova queda de 15% no primeiro trimestre deste ano.
Midani afirma que os fantasmas da indústria fonográfica hoje são o estoque e as contas a receber. "Se pudesse trocar esses fantasmas pelo da Internet, estaria aliviado."


O jornalista Daniel Castro viajou a convite da Reed Midem Organisation.


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