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"EPISÓDIO 1", EU NÃO GOSTEI
Gélido e previsível, "A Ameaça Fantasma" vende e entedia
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Primeiro, desconfie de títulos
longos e pomposos, como "Star
Wars: Episódio 1 - A Ameaça Fantasma". Segundo, confie em seus
instintos. A possibilidade de mais
três (talvez seis!) episódios de
"Guerra nas Estrelas" sempre soou
caça-níqueis. Terceiro: duvide de
cineastas que não gostam de filmar. Hitchcock foi a exceção;
George Lucas, de volta atrás das
câmeras após 22 anos, é a regra.
Não surpreende, portanto, que
"A Ameaça Fantasma" seja de longe o mais tedioso filme da série. Espanta, sim, que a decepção tenha
sido muito maior do que se poderia imaginar.
Nem por um instante revisita-se
o poder de catarse e de maravilhamento da aventura original. A Força definhou e, quando ressurge no
novo filme, tem o automatismo
das citações para alegrar fãs. Nada
restou do espírito das matinês, tal a
previsibilidade da trama e a flacidez com que nos é apresentada.
Para quem andou em outras galáxias no último ano, "A Ameaça
Fantasma" é o primeiro capítulo
da saga intergaláctica que tem por
"Guerra nas Estrelas" (1977) o episódio quarto, "O Império Contra-Ataca" (1980), o quinto, e "O Retorno de Jedi" (1983), o sexto.
O sempre universal conflito de
impostos catalisa o choque entre a
despótica Federação Comercial e o
pequeno planeta Naboo. O mal e o
bem, para ir direto ao ponto na rasa filosofia lucasiana.
O vilão é um senador canalha,
Palpatine (Ian McDiarmid), que
jura apoio ao planeta ao mesmo
tempo que conspira contra sua autonomia. A mocinha é a rainha de
Naboo, Amidála (Natalie Portman), que parece mais inconfortável dentro do guarda-roupa retrô-oriental de Trisha Biggar do que ao
confrontar o inimigo.
Para defender-se, Amidála conta
com dois cavaleiros jedi, o mestre
Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e o
aprendiz Obi-Wan Kenobi (Ewan
McGregor hoje, Alec Guinness ontem), logo reforçados pelo "gungan" Jar Jar, um réptil antropomorfizado de pretenso poder cômico. Já Palpatine conta com tropas infindáveis, mas fia-se mesmo
numa espécie de anti-jedi, chifrudo e de cara vermelha com motivos
pretos: é Darth, claro, Maul.
Não, não esqueci de Anakin
Skywalker (Jake Lloyd), por mais
que o garoto esteja neste filme
mais para justificar as próximas
continuações. Anakin, o mundo
sabe, será o futuro Darth Vader,
embora Lucas reserve para os dois
próximos episódios os passos que
o farão mudar de lado. Desta vez,
parece-lhe o bastante tingi-lo com
tintas cristãs como filho de uma
imaculada concepção, anunciá-lo
como candidato a jedi e ocupá-lo
numa corrida à "Ben-Hur" e numa
batalha espacial.
As escolhas de elenco e o burocratismo das interpretações são a
maior prova de que Lucas dedicou-se muito menos à concepção e
à encenação desta trama básica do
que ao desenvolvimento de sua
moldura "high tech".
Restaria a pirotecnia dos efeitos
da Industrial Light and Magic,
mais de 2.000, quatro vezes mais
do que em "Titanic". É muita indústria e luz para nenhuma magia.
Diante do computador, aqui sim
infatigáveis, Lucas e turma procuraram de fato ocupar esmeradamente cada espaço de quadro com
seres e veículos nunca antes imaginados. Tela após tela tem inegável
plasticidade, mas a interação dramática é mínima e o acúmulo, contraproducente. Ao fim, habitat e
fauna virtuais resultam absolutamente esquecíveis.
Se assim é, como explicar tamanho sucesso? Primeiro: não confunda triunfo de marketing com
vitória cinematográfica. "A Ameaça Fantasma" contava com um público potencial que já elevara a
quase US$ 2 bilhões a arrecadação
da série. Não se tratava de um produto fílmico difícil de vender.
Em segundo lugar, parece-me
fundamental o efeito feira de ciência. Há uma imensa audiência mobilizada pela tão cantada "revolução tecnológica" dos efeitos. É o
chamariz da hora.
Por último, para o público-alvo
mais evidente, a garotada, "A
Ameaça Fantasma" não é um mero
filme, uma experiência cinematográfica emocionante como a de
"Guerra nas Estrelas" há duas décadas atrás. Na era da indústria do
entretenimento controlada pelas
grandes corporações, é sobretudo
um mega-anúncio do selo "Star
Wars", responsável pela apresentação dos novos produtos no mercado bilionário de jogos e brinquedos. Para tanto, que "A Ameaça
Fantasma" seja gélido como um videogame não importa tanto assim.
Avaliação:
Filme: Star Wars: A Ameaça Fantasma
-Episódio 1
Direção: George Lucas
Onde: cines Marabá, SP Market 3 e circuito
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