São Paulo, Sexta-feira, 25 de Junho de 1999
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MÚSICA
Cantor mostra em show de hoje a domingo, em SP, temas inéditos de CD independente que está produzindo
Lobão reaparece reduzido à voz e ao violão

Folha Imagem
O músico Lobão, que apresenta inéditas ao violão no fim-de-semana


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Tudo está em ordem. Metralhadora verbal, o roqueiro Lobão, 41, afinal conquistou -ainda que sem querer- plena liberdade. Sem gravadora, empresário e banda, faz temporada "bossa nova" em São Paulo, de hoje a domingo, só com violão, voz, carne e osso.
No menu, entram várias inéditas, versões de voz e violão para canções do disco "tecno" "Noite" (97), sucessos como "Chorando no Campo", "Moonlight Paranóia" e "Tudo Veludo", mais, possivelmente, "Busload of Faith", de Lou Reed, e um poema do colega já morto Júlio Barroso, que musicou e não nomeou ainda.
"Há um mês e meio, uma empresa me quis para um show fechado. Expliquei que não tinha banda nem nada, aí disseram: "Faz sozinho". Acabei fazendo, e foi um sucesso, a casa estava cheia", afirma.
"Aí fui participar do festival de teatro de Londrina, do mesmo jeito. Estava com medo de fazer flash back, cantar música para namorado dizer "a gente ouvia isso". Com shows do Farofa Carioca, do Ney Matogrosso, o meu foi recorde de público, 4.000 pessoas."
Conclusão: "Isso tudo me deu uma motivada. É diferente de 1992, quando estava meio abandonado e desanimado, não queria mais compor. Nunca estive tão produtivo quanto agora. Vejo que não é minha pessoa que causa essa situação. Fica até melhor, porque assim meu bem-estar se torna constrangedor para meus antagonistas".
Fora da Universal (que lançou "Noite") e da indústria, encontra-se em pleno processo de produção de um novo CD. "Está meio pronto desde março, está ficando até agigantado. Tenho 20 músicas."
Mas quem vai lançar? "Já falei com todo mundo, ninguém quer. A gravadoras grandes não querem nem ouvir meu nome. Aí fui procurar as independentes, elas acham o disco assoberbado, pedem para eu regravar músicas velhas. Acho patético. Posso fazer sozinho. Há a Internet, o MP3."
Ele fala do projeto: "Ando inspirado pelo Unkle e pelo Craig Armstrong, o arranjador do Massive Attack, que fez um disco maravilhoso, com orquestrações violentas. E acabei compondo umas bossas novas, o avesso do avesso."
Uma das novas é "El Desdichado 2", que o leitor da Folha pode ouvir pelo serviço Folha Informações.
Voltando aos "antagonistas", dispara: "A indústria está sofrendo de osteoporose. Elza Soares é nossa Ella Fitzgerald e está gravando independente. Eu, por minha história, só posso ficar animado -meus inimigos são halteres".
Sobre comentário recente de Caetano Veloso, na revista "Internacional Magazine", de que Lobão deveria fazer mais discos interessantes e discutir menos: "Concordo plenamente com ele quanto à quantidade. Estou lutando para que urgentemente meu material interessante seja lançado".
"Gosto da música do Peninha, pela primeira vez ele acertou. Ele e Gil sempre erram nas profecias, sempre apontam um próximo gênio que nunca acontece. Para quem já chamou Orlando Morais de gênio, "Sozinho" é bacana, bem escolhida. Seu discurso é conservador, aclimatado, apesar de "Prenda Minha" ser um disco complicado, bacana".
Por fim: "Gosto quando ele comenta o que falo, vejo que não estou falando besteira. Caetano me ouve. Está cheio de bunda-mole, um passo a frente, por favor, que tem gente atrás com mala sem alça." Alguma coisa está fora da nova ordem, como diria... Caetano.


Show: Lobão Onde: Teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca, 1.360, tel. 011/289-0985) Quando: hoje e amanhã, 21h, e dom., 20h Quanto: R$ 20

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