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ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
Para membros da ABMI, sem criatividade, majors conspiram contra si mesmas
"Monocultura" esgota mercado, dizem indies
ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL A ITABIRA
A "monocultura" praticada pelas grandes corporações do disco
no Brasil é a principal responsável
pelo impasse vivido hoje no mercado fonográfico nacional. É assim que a Associação Brasileira de
Música Independente, a ABMI, vê
o estrangulamento do mercado,
com a disseminação da pirataria
que, sim, lança estilhaços contra
gravadoras pequenas e médias.
A imagem é evocada em referência à concentração dos lançamentos em artistas de um mesmo
filão musical (axé, sertanejo, pagode etc.) e à estratégia "extrativista", de exploração daquele perfil até o esgotamento.
A análise foi feita no último final
de semana por Eduardo Muszkat,
membro do grupo executivo da
ABMI e dono da MCD (principal
distribuidora exclusivamente independente do país), durante o 1º
Encontro Brasileiro de Produção
Musical, braço do 27º Festival de
Inverno de Itabira, Minas Gerais.
Os independentes são responsáveis por uma parcela significativa do mercado brasileiro atualmente, seja do ponto de vista do
volume de lançamentos -estima-se que duelem em número de
títulos-, seja em relação à amplitude de novos artistas e estilos.
"As grandes gravadoras não investem em novidade porque novidade é risco", afirma Muszkat.
Com um agravante: "As majors
não têm autonomia no Brasil, ainda que algumas tenham um cast
de até 80% de artistas nacionais",
diz Carlos de Andrade, dono do
selo e estúdio Visom Digital, do
Rio de Janeiro, com perfil voltado
para a música instrumental.
Ex-diretor da ABPD, entidade
que congrega todas as majors,
Andrade articula a afiliação da
ABMI à associação, de olho no
que diz ser "uma tendência internacional de integração de independentes à indústria formal".
Para ele, a estratégia das grandes
de lançar cada vez mais coletâneas de artistas consagrados a
preços promocionais é mais uma
armadilha que a indústria monta
para si mesma -e que se estende
aos independentes. "Isso deprecia
o produto do artista de renome e
cria um parâmetro ruim de preços que dificulta a aposta do consumidor em novos talentos, lançados com preços maiores."
Lojas de fraldas
Sem a mesma abrangência de
distribuição e sem verba para investir em marketing -eufemismo para o dito jabá, que determina a execução das músicas na
maior parte das rádios-, os independentes buscam maneiras diferenciadas de dar visibilidade aos
seus artistas e de chegar ao consumidor. Seis de cada dez lugares da
rede de mil pontos de venda que
recebe os cerca de 200 títulos da
MCD hoje não têm a música como atividade principal. "Vendemos nossos discos no Empório
Armani e até em lojas de fraldas,
no caso dos infantis", conta
Muszkat, da também gravadora
MCD, que tem dez títulos próprios em catálogo, especialmente
no segmento da world music.
Com tiragens iniciais modestas,
entre mil e 3.000 discos na média,
os independentes não teriam como esparramar seus discos por
lojas de todo o país. Na visão indie, mais do que levar o CD às
prateleiras das grandes redes ou
criar ramificações por todo o território nacional, a grande ambição é identificar o consumidor
que tenha interesse específico por
trabalhos de determinado perfil.
Nesse sentido, a internet é grande aliada. Felippe Llerena, da carioca Nikita -que já lançou 20 títulos desde outubro de 1999-,
divulga e vende o trabalho de artistas de sua gravadora e de parceiras na distribuidora de música
digital imusica (www.imusi
ca.com.br), que vende música a
R$ 1,80 por faixa e serve de vitrine
para estreitar o contato com mercados internacionais.
Um dos fundadores da Natasha
Records, Llerena tem feito também a ponte no exterior para artistas como Virginia Rodrigues,
licenciada pela Rykodisc, uma das
principais independentes norte-americanas -que chega a vender
500 mil cópias de artistas como
Frank Zappa ou David Bowie,
mas no grosso não passa dos
5.000 discos, em média.
Também presente no evento em
Itabira, John Telfer, ex-executivo
da Ryko e da Virgin e proprietário
da Basement Music, trabalha na
formação de uma rede de distribuição mundial independente.
Seu principal motivador é "a falta
de criatividade" das majors. "As
grandes só sabem vender música
pop. Há uma incrível demanda
mal aproveitada por música brasileira de qualidade no exterior."
O jornalista Israel do Vale viajou a convite da ABMI
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