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Candidatos nanicos ainda têm esperança
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Às 16h de hoje, quando receberem um bloquinho de 12 cédulas -cada uma com o nome
de um candidato-, os imortais da ABL deverão escolher entre Paulo Coelho e Hélio Jaguaribe. Para o lixo, irão as cédulas com dez outros nomes, os chamados candidatos nanicos. O paranaense Paulo Hirano, 66, é um deles.
"Poder ganhar eu posso",
acredita ele, que diz já ser
membro de academias de Paranapuã e Irajá, no Rio, e de
uma outra no Uruguai. "Os outros são famosos, mas não têm
passagens por tantas academias como eu. Se não der, insisto. Sou teimoso."
Descendente de japoneses,
ele publicou um único livro, de
poesias, em 1979, chamado
"Extroversão". "Mas tenho 30
inéditos, no duro! Poesia, conto, crítica, esses problemas de
política. Escrevo cartas para
jornais também", completa.
"Esses são os não-candidatos", considera Arnaldo Niskier, 66, ex-presidente da ABL.
Para se candidatar à imortalidade, conta ele, basta ter escrito
um livro, qualquer um, e enviar
uma carta solicitando a vaga.
Uma regra estabelecida por
Machado de Assis ao criar o estatuto e, portanto, "imexível".
"Há três tipos de não-candidatos: os ingênuos, os sonhadores e os exibicionistas. Ganham apenas um minuto de fama", fala Niskier. O acadêmico
Marcos Almir Madeira, 86,
pensa igual: "Se inscrevem para
pôr no currículo "foi candidato
à Academia". É uma ingenuidade, uma coisa meio cômica".
Cômica ou não, os candidatos parecem levar a sério. "Por
que quero entrar na academia?
Filho, veja bem: meu lugar é
lá", diz o sergipano Felisbelo da
Silva, 72, autor dos versos "Anjo de amor que os passos meus
conduz/ Banindo os pedregais
do meu caminho", que abrem
seu poema "Mãe".
"Tenho mais de cem obras",
gaba-se Silva, ex-investigador.
"Filho, veja bem: tem gente na
Academia com um livro ou
dois", exalta-se. Um de seus
best-sellers é "Como Redigir
Petições, Procurações, Contratos, Distratos e Atestados".
Waldemar Cláudio dos Santos, 82, está na sétima candidatura. "Escrevi 23 livros, publiquei seis. Mandei um para o
príncipe Charles", conta.
Laurita Mourão, 76, escreve
literatura erótica, vide "O Incesto em Segundo Grau" e "Decamourão". "Sei que não terei votos. Mas gostaria de sugerir
um slogan à Academia: "Cultura, Letras e Sexo". Tem coisa
mais importante na vida?"
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