São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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Em busca da imortalidade


Paulo Coelho e Hélio Jaguaribe se enfrentam hoje em eleição para a cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras


SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O escritor Paulo Coelho, 54, e o sociólogo Hélio Jaguaribe, 78, se enfrentam hoje novamente na eleição para a cadeira 21 da ABL (Academia Brasileira de Letras), vaga desde a morte de Roberto Campos, em outubro de 2001.
Na primeira disputa, em 21 de março deste ano, nenhum dos três principais candidatos -Paulo Coelho, Hélio Jaguaribe e o diplomata Mario Gibson Barboza, 84- conseguiu obter os 19 votos necessários para se eleger.
Novas inscrições foram abertas e outras pessoas se candidataram para a vaga de Roberto Campos. O terceiro nome de peso para a cadeira, Mario Gibson, no entanto, decidiu não concorrer de novo.
Com sua saída, a disputa entre o escritor e o sociólogo se acirrou. Há quem diga que a desistência do diplomata favorece a candidatura de Jaguaribe. Grande parte dos acadêmicos, no entanto, vê um clima pró-Paulo Coelho desta vez, cenário que contrasta com a posição tradicional da Academia. Até há pouco tempo, a possibilidade de o escritor se tornar um imortal não era vista com bons olhos pelos membros da ABL.
Arnaldo Niskier, eleito acadêmico há quase 20 anos, confirma o favoritismo, mas pondera que os votos de seis pessoas que até agora não revelaram suas intenções podem ser decisivos.
Niskier nega que antes houvesse preconceito contra a literatura e a candidatura de Coelho por parte da Academia. Ele prefere dizer que a presença constante do escritor fez com que muitos mudassem de opinião sobre seu "verdadeiro valor".
Desde o impasse da última eleição, o escritor tem sido visto com frequência nos salões da ABL. Sua idéia era conhecer melhor os acadêmicos e tentar ganhar sua simpatia. Até então, sua ausência era motivo de críticas de alguns membros -Paulo Coelho esteve fora do Brasil nos cinco meses que antecederam a primeira eleição.
Esse comportamento era apontado pelos imortais antipáticos à sua candidatura como um dos motivos pela preferência por Jaguaribe. "A gente gosta de ser bajulado, de receber um agrado", admitiu um acadêmico que preferiu não se identificar.
Outras declarações de imortais que vão votar no sociólogo são as supostas faltas de tradição e seriedade da literatura do "mago".
Nas eleições de hoje, caso nenhum dos candidatos atinja o quórum de 19 votos no primeiro escrutínio, serão realizados outros quatro. Ao fim de cada um, a apuração será divulgada.
Caso o quórum não seja atingido, haverá uma segunda eleição, com mais quatro escrutínios. Se ainda assim nenhum candidato obtiver maioria, a disputa será anulada e as inscrições para a cadeira serão novamente abertas para nova eleição, após três meses. Nenhum dos candidatos favoritos, entretanto, acredita em outro impasse.
Concorrendo pela primeira vez, Hélio Jaguaribe diz que, caso não seja eleito, não irá participar de outra disputa. Ele reconhece que a saída de Barboza fortalece sua candidatura. "Não estou herdando os votos do Mario Gibson, mas é verdade que parte deles virá para mim. Acho que posso ter uns 20 ou 21 votos a meu favor."
Paulo Coelho, diferente de seu adversário, prefere evitar o clima de "já ganhou" alardeado por membros da ABL. "Vai ser uma disputa apertada. Não dá para tentar antecipar o resultado."
Mais preparado para a disputa do que na primeira eleição para a cadeira número 21, em março deste ano, desta vez o escritor deixou um pouco de lado sua agenda apertada e adiou compromissos para poder frequentar a ABL. "A Academia tem um ritual e eu, como todos os que querem entrar para ela, tenho que cumprir esse ritual", disse. A nova postura permitiu que nomes importantes da ABL, como Niskier e Murilo Melo Filho, tidos como grandes articuladores de candidaturas, decidissem ficar ao seu lado.



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