|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POPLOAD
O estranho caso Urge Overkill
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
A história é a de sempre,
você já leu neste espaço diversas vezes, contada de diversos
jeitos. Mas "Popload" não resiste
e acaba sempre voltando a ela.
Dia desses sintonizo a rádio
rock 1, de manhã: ecoa "Girl
You'll Be a Woman Soon", do
grupo Urge Overkill. Normal. À
tarde, ao sintonizar na estação
rock 2, sou brindado com "Girl
You'll Be a Woman Soon".
A gota d'água foi no dia seguinte. Urge Overkill de novo. Comecei a raciocinar, preocupado. Devia estar ocorrendo algum fato
importante na música que eu,
com tantos anos acompanhando
(ou tentando acompanhar) os caminhos do pop, não entendia.
Pensei: o Urge Overkill é uma
banda de Chicago surgida nos
anos 80 e fez certo sucesso no começo dos 90, pegando carona no
vapor grunge. A banda nem existe
mais. Acontece que Quentin Tarantino pegou a música em 95 e
botou no megassucesso "Pulp
Fiction". E até hoje a música é,
também, megassucesso nas rádios brasileiras. Só aqui.
Você pensa o motivo: a banda
não existe, a música é velha, não
movimenta mercado nenhum, o
fã-clube brasileiro do Urge Overkill (?) não deve ser assim tão
atuante, a gravadora que detém a
marca Urge Overkill (?) não deve
"pressionar", a canção não está
em novela... Mas Urge Overkill e
"Girl.." estão bem vivos nas rádios rock daqui.
Intrigada com esse enigma intransponível e assustador, a "Popload" procurou os programadores/diretores artísticos da Brasil
2000 FM, 89 FM e Rádio Mix, as
três rádios rock de São Paulo, para fazer a pergunta: por quê?
Esta coluna, romântica, não
quer acreditar no que prega André Midani, um dos principais
executivos da indústria fonográfica nacional dos anos 60 aos 90.
Para ele, música velha de banda
que não repercute e sem gravadora é colocada na programação para ocupar buraco destinado às
músicas que são escaladas para
tocar mediante pagamento de jabá. Não tem jabá, então não toca
uma música nova. Bota uma dessas canções antigas quaisquer.
O único que respondeu para explicar o fenômeno Urge Overkill
foi Marcos Vicca, da Mix.
Pergunta - Quais os critérios para
uma canção entrar no playlist?
Marcos Vicca - São simplesmente
artísticos. Os lançamentos são ouvidos e avaliados levando-se em
consideração a proposta do projeto artístico da emissora e o potencial que a canção possa despertar em nossa audiência.
Pergunta - O pedido de ouvinte
também determina a quantidade
de vezes que a música é tocada?
Vicca - Sem dúvida. Uma música
muito pedida será mais executada. Uma que não toca, mas tem
muitos pedidos, será analisada.
Pergunta - Por que bandas pequenas como Urge Overkill, que
não existem mais, não movimentam mercado, não dão shows, ainda têm vida nas rádios rock?
Vicca - Algumas canções marcaram uma época, e também a vida
das pessoas. Seja por um filme,
um sucesso passageiro, um comercial de TV. É importante que
músicas que tenham "história" na
vida das pessoas componham a
programação de uma emissora. A
rádio não deve apenas buscar novos ouvintes, mas também manter aqueles que a acompanham há
anos. Mesmo que as bandas não
existam mais ou não signifiquem
mais nada, a canção ficou.
Diante das explicações de Vicca,
agora eu entendi por que uma
música como "Girl You'll...", de
uma banda como o Urge Overkill,
toca tanto nas rádios do Brasil.
lucio@uol.com.br
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Cinema/estréia - "Num Céu Azul Escuro": Tcheco brinca de general em meio à Segunda Guerra Índice
|