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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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POPLOAD

O estranho caso Urge Overkill

LÚCIO RIBEIRO COLUNISTA DA FOLHA

A história é a de sempre, você já leu neste espaço diversas vezes, contada de diversos jeitos. Mas "Popload" não resiste e acaba sempre voltando a ela.
Dia desses sintonizo a rádio rock 1, de manhã: ecoa "Girl You'll Be a Woman Soon", do grupo Urge Overkill. Normal. À tarde, ao sintonizar na estação rock 2, sou brindado com "Girl You'll Be a Woman Soon".
A gota d'água foi no dia seguinte. Urge Overkill de novo. Comecei a raciocinar, preocupado. Devia estar ocorrendo algum fato importante na música que eu, com tantos anos acompanhando (ou tentando acompanhar) os caminhos do pop, não entendia.
Pensei: o Urge Overkill é uma banda de Chicago surgida nos anos 80 e fez certo sucesso no começo dos 90, pegando carona no vapor grunge. A banda nem existe mais. Acontece que Quentin Tarantino pegou a música em 95 e botou no megassucesso "Pulp Fiction". E até hoje a música é, também, megassucesso nas rádios brasileiras. Só aqui.
Você pensa o motivo: a banda não existe, a música é velha, não movimenta mercado nenhum, o fã-clube brasileiro do Urge Overkill (?) não deve ser assim tão atuante, a gravadora que detém a marca Urge Overkill (?) não deve "pressionar", a canção não está em novela... Mas Urge Overkill e "Girl.." estão bem vivos nas rádios rock daqui.
Intrigada com esse enigma intransponível e assustador, a "Popload" procurou os programadores/diretores artísticos da Brasil 2000 FM, 89 FM e Rádio Mix, as três rádios rock de São Paulo, para fazer a pergunta: por quê?
Esta coluna, romântica, não quer acreditar no que prega André Midani, um dos principais executivos da indústria fonográfica nacional dos anos 60 aos 90.
Para ele, música velha de banda que não repercute e sem gravadora é colocada na programação para ocupar buraco destinado às músicas que são escaladas para tocar mediante pagamento de jabá. Não tem jabá, então não toca uma música nova. Bota uma dessas canções antigas quaisquer.
O único que respondeu para explicar o fenômeno Urge Overkill foi Marcos Vicca, da Mix.
 

Pergunta - Quais os critérios para uma canção entrar no playlist?
Marcos Vicca -
São simplesmente artísticos. Os lançamentos são ouvidos e avaliados levando-se em consideração a proposta do projeto artístico da emissora e o potencial que a canção possa despertar em nossa audiência.

Pergunta - O pedido de ouvinte também determina a quantidade de vezes que a música é tocada?
Vicca -
Sem dúvida. Uma música muito pedida será mais executada. Uma que não toca, mas tem muitos pedidos, será analisada.

Pergunta - Por que bandas pequenas como Urge Overkill, que não existem mais, não movimentam mercado, não dão shows, ainda têm vida nas rádios rock?
Vicca -
Algumas canções marcaram uma época, e também a vida das pessoas. Seja por um filme, um sucesso passageiro, um comercial de TV. É importante que músicas que tenham "história" na vida das pessoas componham a programação de uma emissora. A rádio não deve apenas buscar novos ouvintes, mas também manter aqueles que a acompanham há anos. Mesmo que as bandas não existam mais ou não signifiquem mais nada, a canção ficou.
 
Diante das explicações de Vicca, agora eu entendi por que uma música como "Girl You'll...", de uma banda como o Urge Overkill, toca tanto nas rádios do Brasil.

lucio@uol.com.br


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