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ANÁLISE
De Saddam a Linkin Park, passando pelo Queen
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
A vida musical em Bagdá, como tudo na história recente
da cidade, aliás, é dividida em antes e depois da queda do regime
de Saddam Hussein, em 8 de abril.
Antes, o ex-ditador iraquiano
dominava as "paradas de sucesso", que contava ainda em menor
escala com uma pirataria incipiente, alimentada pela China,
país que não respeita as leis internacionais de direitos autorais.
O domínio da face redonda e do
bigode de Saddam se explicava
pelo culto à personalidade sob o
qual vivia aquele país, exacerbado
nos últimos meses pela iminência
da guerra. Assim, todos os cantores de sucesso tinham sido "convocados" a gravar marchas militares e baladas louvando as qualidades militares do presidente.
Os que se recusavam eram
ameaçados pela temível polícia
secreta, a mukhabarat, que frequentemente sequestrava familiares dos artistas. As estações de
TV, todas estatais, entremeavam
flashes noticiosos com esses "videoclipes"; entre os quais brilhava
Daoud al-Qaissi, um dos cantores
mais populares, assassinado em
maio último por rebeldes.
Todos tinham o mesmo estilo, a
chamada canção árabe, mas havia
"resistência". Ela se dava na forma de um pequeno mercado de
CDs piratas comercializados no
mercado central de Bagdá, principalmente de bandas norte-americanas e inglesas que conheceram
o sucesso nos anos 60, 70 e 80.
Era curioso e triste ao mesmo
tempo ver homens feitos disputando a tapa exemplares esmaecidos, com capas que na verdade
eram xerox reduzidas P&B, de "A
Night at the Opera" e "The Game", do Queen, e "The Dark Side
of the Moon" e "Atom Heart Mother", do Pink Floyd.
Depois, com a tomada dos invasores americanos, trocou-se a ditadura política pela cultural, e, via
marines e seus CD players, os bagdalis tiveram o primeiro contato
com porcarias como Linkin Park,
Limp Bizkit, Shania Twain e Avril
Lavigne. Desses vai ser mais difícil
se livrar.
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