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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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INVASÃO AMERICANA


Formada por garotos iraquianos que cantam em inglês, a banda Unknown to No One se prepara para gravar no Ocidente


ELIZABETH RUBIN
DO "NEW YORK TIMES"

Por sobre o zumbido de um velho condicionador de ar, Art, Nadeem, Hasan, Diar e Shant estão ensaiando o single "Hey Girl" e sonhando com o estrelato ao estilo do Ocidente, grande a ponto de justificar o nome da banda: Unknown to No One (Desconhecidos para Ninguém).
As paredes estão cobertas por pôsteres do Iron Maiden, Destiny's Child, Britney. "Posso ser o seu herói, baby", promete Naseem, cuja camisa está desabotoada até a metade. E, subitamente, o teclado emudece, o ar-condicionado pára, e os meninos gritam: "Você não tira meu fôlego, mas a falta de luz tira".
É meio-dia em Bagdá. No centro da cidade, soldados norte-americanos acabam de ser atacados por uma granada. Pouco depois, os iraquianos se reuniriam sorridentes em torno do símbolo fumegante da ocupação.
Os membros do Unknown to No One, todos na casa dos 20 anos, esperam chegar à Inglaterra no final deste mês para gravar dois singles e transmitir ao mundo uma imagem mais brilhante do Iraque. "Vamos produzir singles de sucesso para eles e levá-los ao programa de Jay Leno", diz Peter Whitehead, empresário britânico que está levando a banda para Londres. "Nadeem é esperto, e será um bom embaixador."
Estamos no quarto de Hasan, no bairro de Tunis. Embora os vizinhos tenham ameaçado a família dele devido às suas aspirações ocidentais, a banda está mais preocupada com o fato de que seus pais vão vê-los dançando na TV em Londres. Art, o principal compositor, diz que "o Iraque estava isolado do mundo. Nossos pais não sabem o que é uma boy band ou ganhar milhões".
Michael Jackson foi o primeiro artista que o grupo tentou emular. Depois, no final dos anos 90, ouviram o trabalho do Backstreet Boys, Take That e N'Sync, cujos discos estavam disponíveis nos mercados locais. "Quando os Backstreet Boys apareciam na TV, eram diferentes", diz Nadeem, o principal vocalista. "Depois eu descobri Oasis, Robbie Williams, e queria usar drogas."
Com a falta de eletricidade, a banda decide fazer uma pausa, e Art conta a história do grupo. "Tínhamos esse pequeno e simples sonho, mas ainda temíamos torná-lo real. Era loucura. Havia o embargo, e Saddam Hussein ainda no poder, e só uma estação tocando pop ocidental, a FM Voz da Juventude, controlada por Uday, o filho sádico de Saddam. Cinco iraquianos cantando músicas de amor em inglês era um perigo." Ainda assim, anunciaram no rádio pedindo membros e encontraram Nadeem, Hasan e Diar.
Um ano mais tarde, gravaram uma canção composta por Art e a levaram à Voz da Juventude. "Eles disseram que só podiam tocá-la se fizéssemos uma canção para o aniversário do presidente."
A canção encomendada tocou uma vez por hora durante quase duas semanas, e a outra, de amor, foi executada apenas uma vez. A banda continuava anônima.
Até que um dia foram à casa de Alan Enwia, amigo de Hasan que tem uma loja de discos em Bagdá. Mostraram o single e pediram que ele patrocinasse e fosse o empresário da banda. Então o grupo produziu um CD com a ajuda dele e do melhor técnico de som de Bagdá.
Enwia já tinha ouvido falar de Whitehead, por isso lhe enviou um CD. O inglês o recebeu em 2002, gostou de duas das canções, mas só depois que a concentração militar nas fronteiras do Iraque começou, neste ano, ele contatou o jornal "Sunday Telegraph", de Londres, sugerindo uma reportagem com a banda.
Agora o Whitehead quer melhorar a técnica do grupo. E diz acreditar que, depois de algumas aulas, o Unknown to No One pode atrair atenção no cenário mundial.

Tradução Paulo Migliacci


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