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Mr. Punk
Criador do Sex Pistols e das polêmicas
que deram impulso ao punk, o
britânico Malcolm McLaren fala à Folha
sobre os 30 anos de "Nevermind the
Bollocks" e a atual "cultura de karaokê"
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Gênio, farsa, artista original e
rebelde, aproveitador do talento alheio -todos esses títulos já
foram aplicados ao britânico
Malcolm McLaren, 61, um ex-estudante de arte que abriu
uma loja de roupas na década
de 70 e, a partir dela, um buraco
permanente na "cultura da
mentira" que sua geração via
no Reino Unido de então.
No ano em que sua principal
criação, o Sex Pistols, celebram
30 anos do clássico
"Nevermind the Bollocks", o
disco que deu impulso ao revolucionário movimento punk,
McLaren falou à Folha sobre o
começo daquela cena, sua vasta
carreira e suas perspectivas de
um futuro violento.
FOLHA - "Nevermind the Bollocks"
está completando 30 anos. Como o
sr. vê o impacto do disco?
MALCOLM MCLAREN - Ele foi um
catalisador que ajudou a criar
um dos movimentos culturais
mais importantes do século 20,
o punk. Na época, as pessoas
não estavam preparadas para
aceitá-lo, foi um holocausto na
mídia, mas, hoje, podemos ver
o quanto ele mudou o modo de
vida. Foi algo que desconstruiu
a cultura e a democratizou, deu
oportunidade a todos de fazerem por si mesmos, esse foi o
lema ("faça você mesmo") que
orientou o punk. Ele deu propósito à atitude irresponsável,
infantil e provocadora de não
ter de ser profissional, parte de
uma indústria. Fez o amadorismo ser excitante e parecer mais
sincero, o feio parecer bonito.
FOLHA - Como um movimento tão
polêmico se tornou tão influente?
MCLAREN - Ele foi o último
grande ataque anticorporativo,
uma tentativa de devolver o
brilho à velha cultura fora-da-lei do rock, e deu horizonte e
esperança para uma nova geração. O punk mudou a maneira
como olhávamos as coisas, não
apenas na música, mas na moda, nas artes contemporâneas.
Não haveria Damien Hirst [um
dos principais artistas britânicos atuais] se não fosse o punk.
O movimento ensinava a não
temer o fracasso e isso apelava
às novas gerações, porque permitia a elas imaginar que poderiam mudar a cultura e suas vidas. E, por um momento, isso
realmente aconteceu.
FOLHA - Ter alcançado o sucesso
não foi, então, decepcionante?
MCLAREN - Muita gente não
percebeu, na época, que com o
Sex Pistols eu tentava criar um
grupo pop. Algumas pessoas
acham que o pop não tem integridade ou credibilidade suficiente, mas era ele que eu queria trazer a bordo, porque odiava a cultura britânica e não
achava que, sendo um grupo
celebrado por meia dúzia de
críticos, conseguiria mudá-la. A
maneira de se tornar grande
era aborrecer a todos.
FOLHA - Mas os Sex Pistols reclamavam dos seus métodos.
MCLAREN - Eles reclamavam
porque eu era um manipulador, não queria que eles fossem
parte de uma cena underground. Os Pistols foram muito
maiores porque foram tratados
como os Monkeys, como uma
banda pop. E, por trás disso, é
preciso entender que eu tinha
objetivos políticos, que transpareciam nas letras de John
Lydon [vocalista]: eu era um
ex-estudante de arte, tinha visto a vaidade dos anos 60, a auto-indulgência e o egoísmo, e
não queria nada além de destruir, da maneira mais provocativa possível, toda aquela cultura. Os Pistols nunca entenderam isso, sempre acharam que
eu estava criando uma fraude,
mas eu não estava interessado
nos problemas pessoais da banda, queria saber o que as manchetes dos jornais iam dizer, se
conseguiríamos colocar a imagem da rainha com um alfinete
no nariz nas primeiras páginas.
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