São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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CINEMA

Para diretor, o que era ficção na série hoje é ciência

De acordo com Chris Carter, "Arquivo X" antecipou discussão de temas como clonagem de seres humanos

Para roteirista, série "virou um gênero próprio", com ficção científica, teorias da conspiração e conflito entre o sobrenatural e o ceticismo


EDUARDO GRAÇA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Há 15 anos, ninguém se preocupava com as andanças de Jack Shephard ou com as pesquisas genéticas conduzidas por Mohinder Suresh, mas alguém duvida de que J.J. Abrams e Tim Kring, os criadores de "Lost" e "Heroes", estavam com o olho grudado na TV acompanhando as andanças de Fox Mulder e Danna Scully? Pois, após uma década exata de jejum -desde "Arquivo X - O Filme"-, David Duchovny e Gillian Anderson voltam a encarnar seus personagens mais famosos em "Arquivo X - Eu Quero Acreditar". "É difícil dizer, depois de tanto tempo, que séries influenciamos e de que maneira. Mas "Arquivo X" virou um gênero próprio, em que cabe ficção científica, teorias da conspiração e um conflito entre um homem que acredita no sobrenatural e uma cientista cética, um reverso do estereótipo que costumamos ver na TV", diz o roteirista e produtor Frank Spotnitz. O diretor Chris Carter, que, em 1997, no auge do sucesso da série, foi eleito pela revista "Time" uma das 25 pessoas mais influentes dos EUA, disse que jamais teve a tentação de associar o primeiro filme -mais voltado para os fãs, dirigido por Rob Bowman (de "Elektra")- à nova aventura da dupla de ex-agentes do FBI.

Ficção & ciência
"Mas não deixa de ser interessante lembrar que alguns dos temas que tratamos na série, como o desaparecimento das abelhas, o milho sendo usado como combustível, clonagem de seres humanos e até o trabalho da Fema [sigla em inglês para agência federal de gerenciamento de emergência] ganharam destaque com o desastre do furacão Katrina, em 2005, e suas trapalhadas. Muita coisa que escrevemos e era considerada ficção hoje é ciência convencional", diz Carter. Em um filme que fala sobre pedofilia, venda de órgãos, autocastração e assassinatos em série, Carter encontrou na sátira política um espaço para tentar ganhar a platéia. Em uma cena, ele coloca lado a lado o presidente George Bush e o temido J. Edgard Hoover, primeiro e quiçá mais poderoso diretor do FBI durante a Guerra Fria. "É um comentário sobre as gravações clandestinas de conversas telefônicas feitas pelo governo e a controvérsia sobre até onde os direitos do governo se sobrepõem aos da população, um debate que volta com força total hoje", diz. Carter conta que o 11 de Setembro foi um complicador de peso para os capítulos derradeiros de "Arquivo X" na TV (a série encerrou sua décima e última temporada em 2002). "Gravar naquela época era dificílimo. Ninguém queria ouvir uma narrativa em que o governo, ou a verdade estabelecida por quem estava no poder, estava em xeque. Fico feliz em saber que essa atmosfera já mudou, que já existem teorias da conspiração sobre os ataques às Torres Gêmeas. Durante um tempo até isso era impossível. Mas sabemos que o medo do terror é, para o espectador americano, real demais para levarmos à tela", afirma o diretor.

O jornalista EDUARDO GRAÇA viajou a convite da Fox Films



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