São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008 |
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Crítica/"Ao Entardecer" Bom elenco não salva "sensível" filme de memórias DO CRÍTICO DA FOLHA
Três pesos pesados, como Vanessa Redgrave,
Glenn Close e Meryl
Streep, e duas pesos médios,
como Toni Collette e Claire Danes, podem converter um filme
num naufrágio ou numa nave
rumo à conquista do universo.
A despeito de tantas presenças
ilustres no elenco, "Ao Entardecer" termina como um barco
que não afunda e tampouco se
mantém à tona.
A segunda incursão do húngaro Lajos Koltai na direção
mostra de cara suas habilidades
técnicas como fotógrafo, função na qual já acumula 70 títulos. De ponta a ponta, cada detalhe de cor e jogo de luz aparece sob um cuidado pictórico, típico de filmes sobre os quais, na
falta de algo muito impressionante a reter, seus espectadores exclamam: "Tem uma fotografia maravilhosa!".
Baseado num romance de
Susan Minot, que assina o roteiro com o também escritor
Michael Cunningham (o superestimado autor de "Uma Casa
no Fim do Mundo", "Laços de
Sangue" e "As Horas"), "Ao Entardecer" é um daqueles filmes
humanistas e "sensíveis", balanço da vida de uma senhora
em seus últimos momentos.
Suas memórias se voltam para o passado, quando uma reunião de família durante uma
festa de casamento nos anos 50
traz à tona o entrecruzamento
de paixões interclasses e desejo
homossexual latente.
Um dos filhos, candidato a
escritor e decalque da figura de
dândi alcoólatra de Francis
Scott Fitzgerald, chega acompanhado da bela cantora Ann
(Claire Danes jovem, Vanessa
Redgrave idosa), cujos jogos de
sedução funcionam como reveladores de um certo esnobismo
de classes abastadas. A outra
ponta do triângulo surge na figura de Harris, um irresistível
filho de governanta.
Deste verniz "fitzgeraldiano"
o filme logo se desloca para um
foco mais interiorizado de crônica feminista sobre mulheres-bibelôs. Para isso entram em
cena as duas filhas da senhora
doente, que vão sustentar os temas dominantes: reflexões sobre incerta escolha de companheiros, papel enobrecedor da
maternidade e a conquista de
espaço social pelas mulheres.
A demarcação cronológica
entre passado e presente garante os contrastes de gerações
(mãe e filhas) e valores (sujeição e independência).
Para quem acha "As Horas"
um filme inteligente e sofisticado, "Ao Entardecer" é um programa perfeito. Já aos que tiveram indigestão com o banquete
de sensibilidade da adaptação
do romance de Michael Cunningham, recomenda-se abstenção.
AO ENTARDECER
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