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"Homem bonito não trabalha a personalidade"
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
Veja trechos da entrevista
com Ernestina Pais.
Folha - O que te faz rir?
Ernestina Pais - A tragédia
me faz rir muito. Eu posso te
ofender, discutir. Meia hora
depois, vou fazer uma piada
e rir. Tenho um alto nível de
tragédia na vida. O escatológico e os trotes me divertem.
Não acho graça no humor sobre a mulher, quando se
prostitui e faz papel de sonsa.
Também acho engraçadas as
situações ridículas que vivo.
O que te tira do sério?
A fome, a guerra [risos],
não, não. O que me tira do sério são as injustiças mais elementares. E coisas cotidianas. Se alguém usa um CD e
não guarda, posso passar 15
dias xingando. Não tenho parâmetro para rir ou me irritar.
Qual foi o momento mais sem
graça que você viveu no
"CQC?"
Sem dúvida foi o primeiro
programa. Era como se recebesse um bebê. Estava tensa.
Com o que não se deve
brincar?
Não há nada que não possa virar humor, se passar um
tempo. Eu brinco com a minha história, com a situação
dos desaparecidos [sequestrados na ditadura]. Outro
caso foi o enterro de um amigo. Era baixinho e o caixão
era enorme. Ficava pensando se colocaram uma escora,
ou ia ficar voando [risos].
O que mais atrai: um homem
lindo ou bem-humorado?
Existe a combinação de
ambas as coisas. É difícil,
porque, em geral, o homem
bonito não trabalha o resto
da personalidade. Meu ex-marido não era um show de
humor, mas tinha seu humor
e era muito bonito. Se me
perguntam, digo que prefiro
os lindos, porque do humor
eu me encarrego [risos]. Mas,
inteligentes, sim ou sim.
Por que existem poucas mulheres fazendo humor?
É mais fácil para as mulheres se acomodarem com o
que se espera delas, não?
Com os papéis que o homem
já lhe dá. Porque é um meio
muito machista. Há culpa
das mulheres e dos homens.
Uma mulher que faz humor
tem que deixar de lado questões supostamente femininas. Porque rir de si mesma
não tem muito a ver com
quem se cuida o tempo todo.
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