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CINEMA/ESTRÉIAS
"SOUTH PARK - MAIOR, MELHOR & SEM CORTES"
Filme-desenho é diversão para adultos pueris
DA REPORTAGEM LOCAL
Para alguns , uma tocante
fábula animada sobre valores
familiares, justiça social e o fim do
preconceito. Para outros, o mais
ultrajante filme-desenho já produzido desde que os irmãos Lumière fizeram a primeira projeção
de cinema.
Com 400 palavrões e perto de
250 cenas de violência, chega finalmente ao Brasil "South Park
-°Maior, Melhor & Sem Cortes", a
versão para a tela grande do polêmico desenho de TV, só que bem
maior (fato), bem melhor (opinião) e bem sem cortes (aviso).
"South Park", para quem não
conhece, é um dos mais divertidos e corrosivos desenhos que
apareceram na TV nesta década.
Parente de "Beavis & Butt-Head" e os "Simpsons", junta o
que estes dois têm de melhor para
atacar com palavrões e puns o establishment americano, a caricatura do "american way of life" em
geral e do pop em particular.
Criado por Trey Parker e Matt
Stone, os próprios Beavis & Butt-Head, se estes fossem de carne e
osso, o desenho "South Park"
passa aqui no Brasil em horários
esquisitos no Multishow (Net e
Sky) e já frequentou por pouco
tempo a programação da MTV.
De traços toscos e de aparência
pueril, toda a indicação de que é
próprio para crianças cai por terra
nas primeiras palavras e atitudes
de Kenny, Cartman, Kyle e Stan,
quatro amiguinhos de escola em
uma típica cidadezinha americana, que leva o nome do desenho.
Essas gracinhas politicamente
incorretas estão atoladas no universo adulto. Falam abertamente
de divórcio, estupro, clitóris, terrorismo mesmo sem mostrar conhecimento do assunto. São
crianças, enfim.
Não raro, nem chegam os créditos e algumas dessas palavras que
não se diz à mesa são atiradas
contra o telespectador, que ainda
assiste a cada episódio uma morte
violenta, mas não perturbadora,
do menino Kenny.
Pois bem, "South Park" apareceu no cinema americano em junho do ano passado com aquele
sufixo longo e esclarecedor. E estréia hoje no Brasil.
Quem achava já ter visto tudo
com o desenho, vale o toque: o
"South Park" levado à telona é
bem pior (no bom sentido).
Branco, negro, judeu, mãe, homossexual, Satanás, Saddam
Hussein, Bryan Adams, ninguém
se salva. A história é delirante: a
camarilha dos quatro de South
Park está louca para assistir no cinema ao filme "Bundas em Chamas", estrelado pelos pestinhas
canadenses Terrence e Phillip,
que acaba de estrear na cidade.
Mas a censura não deixa.
Dão um dinheiro de vodca para
um mendigo, que se faz fácil de
"responsável" e bota os garotos
para dentro do cinema.
Assistem ao filme dentro do filme, muito mais escatológico do
que a vida deles. Saem do cinema
viciados em falar palavrão e logo
todas as crianças da cidade estão
contaminadas pelo mau comportamento à enésima.
As mães, preocupadas e depois
ultrajadas, iniciam campanha
contra o filme. Mais: declaram
guerra ao Canadá, que prontamente revida, soltando uma bomba sobre as casas dos Baldwin. A
situação fica insustentável.
Cenário bélico armado, prato
cheio para o Satanás, que espera
uma chance dessas para subir à
superfície terrena e dominar o
planeta, ao lado do namorado,
Saddam Hussein. Pensa que acabou? A dupla canadense é presa
por um levante orquestrado pelas
mães dos meninos. Terrence e
Phillip são condenados à morte.
Uma resistência é formada para
salvar as pestes canadenses, liderada por Kyle, Stan e Cartman
(Kenny está morto).
Esse roteiro niilista é embalado
como se fosse um musical da Disney. As canções são singelas na
melodia e despudoradas na letra.
E são ótimas. Não dá para esquecer do hino "Uncle Fucka", de significado impublicável. A música
chegou a ser premiada neste ano,
no MTV Movie Awards, como a
melhor canção de filme.
E o que todo esse imbróglio bizarro tem a ver com o começo do
texto, sobre a tocante fábula animada sobre valores familiares,
justiça social e o fim do preconceito? Pode acreditar, tem muito.
Mas é preciso ver o filme.
É diversão para crianças "adultecidas" e para adultos pueris.
Aos "bem-resolvidos": fiquem
longe de Kyle, Stan, Kenny e,
principalmente, Cartman.
(LÚCIO RIBEIRO)
South Park - Maior, Melhor &
Sem Cortes
South Park - Bigger, Longer, & Uncut
Direção: Trey Parker
Produção: EUA, 1999
Com: vozes originais de Trey Parker,
Matt Stone, George Clooney, Isaac Hayes
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco 1, Eldorado 3, Pátio
Higienópolis 2 e circuito
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