São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTRÉIAS

"SOUTH PARK - MAIOR, MELHOR & SEM CORTES"
Filme-desenho é diversão para adultos pueris

DA REPORTAGEM LOCAL

Para alguns , uma tocante fábula animada sobre valores familiares, justiça social e o fim do preconceito. Para outros, o mais ultrajante filme-desenho já produzido desde que os irmãos Lumière fizeram a primeira projeção de cinema.
Com 400 palavrões e perto de 250 cenas de violência, chega finalmente ao Brasil "South Park -°Maior, Melhor & Sem Cortes", a versão para a tela grande do polêmico desenho de TV, só que bem maior (fato), bem melhor (opinião) e bem sem cortes (aviso).
"South Park", para quem não conhece, é um dos mais divertidos e corrosivos desenhos que apareceram na TV nesta década.
Parente de "Beavis & Butt-Head" e os "Simpsons", junta o que estes dois têm de melhor para atacar com palavrões e puns o establishment americano, a caricatura do "american way of life" em geral e do pop em particular.
Criado por Trey Parker e Matt Stone, os próprios Beavis & Butt-Head, se estes fossem de carne e osso, o desenho "South Park" passa aqui no Brasil em horários esquisitos no Multishow (Net e Sky) e já frequentou por pouco tempo a programação da MTV.
De traços toscos e de aparência pueril, toda a indicação de que é próprio para crianças cai por terra nas primeiras palavras e atitudes de Kenny, Cartman, Kyle e Stan, quatro amiguinhos de escola em uma típica cidadezinha americana, que leva o nome do desenho.
Essas gracinhas politicamente incorretas estão atoladas no universo adulto. Falam abertamente de divórcio, estupro, clitóris, terrorismo mesmo sem mostrar conhecimento do assunto. São crianças, enfim.
Não raro, nem chegam os créditos e algumas dessas palavras que não se diz à mesa são atiradas contra o telespectador, que ainda assiste a cada episódio uma morte violenta, mas não perturbadora, do menino Kenny.
Pois bem, "South Park" apareceu no cinema americano em junho do ano passado com aquele sufixo longo e esclarecedor. E estréia hoje no Brasil.
Quem achava já ter visto tudo com o desenho, vale o toque: o "South Park" levado à telona é bem pior (no bom sentido).
Branco, negro, judeu, mãe, homossexual, Satanás, Saddam Hussein, Bryan Adams, ninguém se salva. A história é delirante: a camarilha dos quatro de South Park está louca para assistir no cinema ao filme "Bundas em Chamas", estrelado pelos pestinhas canadenses Terrence e Phillip, que acaba de estrear na cidade. Mas a censura não deixa.
Dão um dinheiro de vodca para um mendigo, que se faz fácil de "responsável" e bota os garotos para dentro do cinema.
Assistem ao filme dentro do filme, muito mais escatológico do que a vida deles. Saem do cinema viciados em falar palavrão e logo todas as crianças da cidade estão contaminadas pelo mau comportamento à enésima.
As mães, preocupadas e depois ultrajadas, iniciam campanha contra o filme. Mais: declaram guerra ao Canadá, que prontamente revida, soltando uma bomba sobre as casas dos Baldwin. A situação fica insustentável.
Cenário bélico armado, prato cheio para o Satanás, que espera uma chance dessas para subir à superfície terrena e dominar o planeta, ao lado do namorado, Saddam Hussein. Pensa que acabou? A dupla canadense é presa por um levante orquestrado pelas mães dos meninos. Terrence e Phillip são condenados à morte.
Uma resistência é formada para salvar as pestes canadenses, liderada por Kyle, Stan e Cartman (Kenny está morto).
Esse roteiro niilista é embalado como se fosse um musical da Disney. As canções são singelas na melodia e despudoradas na letra. E são ótimas. Não dá para esquecer do hino "Uncle Fucka", de significado impublicável. A música chegou a ser premiada neste ano, no MTV Movie Awards, como a melhor canção de filme.
E o que todo esse imbróglio bizarro tem a ver com o começo do texto, sobre a tocante fábula animada sobre valores familiares, justiça social e o fim do preconceito? Pode acreditar, tem muito. Mas é preciso ver o filme.
É diversão para crianças "adultecidas" e para adultos pueris. Aos "bem-resolvidos": fiquem longe de Kyle, Stan, Kenny e, principalmente, Cartman. (LÚCIO RIBEIRO)


South Park - Maior, Melhor & Sem Cortes
South Park - Bigger, Longer, & Uncut      Direção: Trey Parker Produção: EUA, 1999 Com: vozes originais de Trey Parker, Matt Stone, George Clooney, Isaac Hayes Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco 1, Eldorado 3, Pátio Higienópolis 2 e circuito




Texto Anterior: Por trás da transformação do teatro em fundação, esconde-se um problema político
Próximo Texto: Bart Simpson também vai ao cinema
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.