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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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CINEMA

Filme do uruguaio Diego Arsuaga narra a história de três idosos que armam um roubo em defesa do patrimônio nacional

"Corazón de Fuego" encanta Gramado

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO

Por ser representante do Uruguai -país cuja média atual de produção de longas-metragens não ultrapassa dois títulos por ano- "Corazón de Fuego" (Coração de Fogo), de Diego Arsuaga, 37, foi esperado com certa reserva pelo público do 31º Festival de Gramado, que se encerrou no sábado, onde participou da competição oficial de filmes latinos.
Mas a sessão do uruguaio no Palácio dos Festivais, na última sexta, terminou com intensos aplausos e uma platéia rendida à história de três velhinhos que armam o roubo de uma locomotiva, em nome da defesa do patrimônio nacional.
A máquina seria vendida a Hollywood para ser usada em um filme. O trio de ex-funcionários do (desativado) sistema ferroviário do Uruguai decide impedir a saída do país daquilo que consideram um de seus símbolos.
"É enganosa essa idéia [de que um país que produz poucos filmes não seja capaz de realizar títulos de qualidade]. Sabemos filmar, porque produzimos muita publicidade, uma experiência que faz parecer fácil qualquer desafio do cinema", diz Arsuaga.

Co-produção
"Corazón de Fuego" (título que faz referência ao motor da locomotiva e também à tenacidade dos septuagenários ativistas) foi co-produzido pela Argentina, reunindo o mesmo conjunto de empresas que realizou "Plata Quemada", de Marcelo Piñeyro, projeto do qual a produtora de Arsuaga havia participado.
A parceria com os argentinos possibilitou ao cineasta ter o elenco de seus sonhos -os atores Héctor Alterio ("O Filho da Noiva" e "Kamchatka"), Federico Luppi e Pepe Soriano nos papéis principais.
"Sempre quis, mas nunca achei que fosse possível, reunir novamente esses três, que atuaram em "La Patagonia Rebelde" [de Héctor Olivera, de 1974], o filme que marcou minha juventude", diz o diretor Arsuaga.
Para o papel do empresário que compra e vende aos Estados Unidos a locomotiva, foi escalado o também argentino Gastón Pauls, conhecido no Brasil por sua participação como o bandido bonzinho do longa-metragem "Nove Rainhas".
Na empreitada de surrupiar uma locomotiva, divulgar seu feito à imprensa e conclamar a população a apoiá-los, os personagens rebeldes de "Corazón de Fuego" fazem não poucos discursos carregados de um idealismo de tom nacionalista, democrático e popular. Mas o diretor afirma que "a política é apenas anedótica nesse filme". E exemplifica dizendo não ser à toa que o mais inflamado dos discursos é feito para dois cavalos e algumas crianças.

Valor
O que Arsuaga pretendeu mostrar com seu filme é que, na geração anterior à dele, "as pessoas lutavam por suas idéias, por aquilo em que acreditavam, e eram consideradas por seu comportamento, não pelo que possuem". O diretor afirma que, hoje, a situação é inversa. "Valemos pelo que temos, não pelo que somos."
O roteiro do filme é assinado por Arsuaga, Beda Docampo Feijó e Fernando León de Aranoa, homônimo do diretor espanhol que concorreu em Gramado com "Segunda-Feira ao Sol".
"Corazón de Fuego" é o segundo título do diretor, mas o que ele considera sua verdadeira estréia no cinema.
"Meu primeiro filme ["Otario", 1997, também exibido em Gramado] é um exercício. Foi feito originalmente para TV, apenas para provar que no Uruguai se podia filmar, e não pela razão que um filme deve ser feito, que é apresentar uma idéia", afirma.
O próximo longa que ele prepara trará não exatamente uma idéia, mas uma "fantasia" sua: "É sobre um roubo a banco. Quem já não sonhou com isso?".
"Corazón de Fuego" tem assegurada sua distribuição nos cinemas no Brasil, mas sem data de estréia prevista.


A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da organização do Festival de Gramado


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