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MÚSICA
Roy Orbison canta hinos dos solitários
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
No documentário "Roy Orbison - A Antologia" (1999), que o
canal Multishow exibe hoje, não
há entrevistas retiradas de arquivos com o cantor, um dos pilares
do rock'n'roll. Nada é dito a respeito de sua vida pessoal. Apenas
a voz dos discípulos e trechos raros de apresentações em programas de TV e shows.
É uma escolha que faz certo sentido quando o biografado em
questão é o cantor, compositor e
guitarrista norte-americano Roy
Orbison (1936-1988). Isso porque,
em letras e postura de palco, o
músico já deixava explícito um
imaginário que apenas os solitários entenderiam. Nada a ver com
a estética forjada do sofrimento
que contagia nove entre dez bandas inglesas da atualidade.
Roy Orbison fazia parte da
"classe de 55", uma turma nada
modesta que incluía Elvis Presley,
Johnny Cash, entre outros -gente da gravadora Sun, celeiro daquilo que viria a ser o rock'n'roll.
Se Elvis chacoalhava os quadris,
Orbison ficava praticamente estático tocando sua guitarra. Se todos sorriam e transpiravam alegria, Orbison vestia roupas escuras e não se separava de seus óculos escuros -não, ele não nasceu
com aqueles óculos; o programa
traz raro registro do cantor sem
eles, em "Only the Lonely".
"Artista másculo que cantava
usando falsetes", como lembra
Bono (U2) no documentário, Orbison seria um dos artistas mais
bem-sucedidos do começo dos
anos 60 com suas baladas românticas -um dos poucos não afetados pela explosão dos Beatles
(com quem chegou a excursionar
em 1963). Nas letras, Orbison encarnava o cara abandonado pela
namorada, que não tinha medo
de expor a fragilidade. Às vezes, a
história não terminava tão mal assim, como em "Running Scared".
Mais trágica foi sua vida pessoal.
Na segunda metade dos anos 60,
ele interromperia a carreira após a
morte da mulher, em 66, e a de
dois filhos, em 68. Seria apenas
nos anos 80 que sua carreira ganharia novo gás, em grande parte
impulsionada por uma geração
que o idolatrava. O cineasta David
Lynch resgataria "In Dreams" no
seu filme "Veludo Azul" (1986)
-repetiria a dose em "Cidade
dos Sonhos" (2001) com uma bizarra versão para "Crying"-, e
artistas como Bruce Springsteen
prestariam seus tributos. Ainda
haveria a superbanda Traveling
Wilburys, composta por Orbison,
George Harrison, Bob Dylan,
Tom Petty e Jeff Lynne. Quando
tudo indicava que sua carreira estouraria novamente, ele morreria
de um ataque cardíaco. Solitário,
direto para os sonhos e o inconsciente coletivo do rock.
ROY ORBISON - A ANTOLOGIA.
Documentário da série "Por Trás da
Fama". Quando: hoje, às 15h, no
Multishow.
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