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LIVRO
Tese de Marta Nehring analisa padrões estilísticos e fundo religioso no trabalho do crítico de arte e poeta mineiro
Formalismo de Mendes é redimensionado
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Foi Murilo Mendes (1901-75)
um crítico de arte formalista?
Marta Nehring enfrenta a complexa produção do literato mineiro a fim de esclarecer o sentido
dos escritos dedicados por ele a
artistas e estilos do século 20.
O livro "Murilo Mendes: Crítico
de Arte" resulta de dissertação de
mestrado na área de Teoria Literária e Literatura Comparada da
USP. Circunscreve o estado atual
do debate sobre o tema e aborda
detidamente alguns escritos.
Contudo a autora não propõe tese
conclusiva, de acordo com a etapa
da pós-graduação a que corresponde o estudo original. A relevância do comentário justifica-se
pela forma mista de prosa e poesia dos textos em questão.
Nehring adota a teoria de Giulio
Argan (1909-92) como principal
referência interpretativa. O crítico
e historiador de arte foi amigo
pessoal do homenageado. Ambos
os autores teriam em comum a revalorização de uma liberdade
criativa própria da "época em que
o artesanato era o sistema dominante de produção: a obra de arte
aparecia como objeto por excelência e modelo das outras atividades. De acordo com Argan,
com a industrialização esse sistema entra em crise. Os desdobramentos daquilo que conhecemos
como arte moderna constituem a
própria história dessa crise".
A resistência à instrumentalização utilitária da vida no período
industrial levaria Mendes a defender sucessivamente o surrealismo
durante a década de 30, a abstração construtiva após a Segunda
Guerra e a arte op/cinética contra
o pop desde os anos 60.
Tais posições, porém, coerentes
com o formalismo de Argan,
complicam-se quando somadas
ao catolicismo do brasileiro. No
capítulo dedicado ao texto sobre o
pintor italiano Magnelli (1888-1971), Nehring explora as referências a são Paulo e santo Agostinho
na análise da estética abstrata.
A resolução estilística dos textos
mais radicais de Mendes, com parágrafos blocados e grafismos
concretistas, evidencia o esforço
de síntese de um teórico de formação ampla e densa. A imparcialidade da comentadora permite enxergar o fundo religioso por
trás da negação formalista da história, ou como disse o crítico-poeta: "O desejo de evadir-se da realidade pode ser substituído por outro: o de mudar a realidade".
Embora este livro não substitua
a leitura direta dos escritos de
Murilo Mendes, esclarece uma
trajetória de meio século permeada de erudição e dialética.
Murilo Mendes: Crítico de Arte
Autora: Marta Nehring
Editora: Nankin Editorial
Quanto: R$ 29 (200 págs.)
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