São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Um dos principais DJs do mundo, o alemão se apresenta em setembro num festival em Brasília e em festa em São Paulo

Paul Van Dyk traz dance "social" ao país

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Hedonista por definição, a dance music ganha certo corpo engajado nas mãos de Paul Van Dyk. Aos 33 anos, o DJ alemão é, talvez, o principal nome da eletrônica a se envolver em campanhas sociais e políticas nos últimos anos.
Dyk foi uma das vozes mais fortes da Rock the Vote, ação capitaneada por artistas para levar os jovens norte-americanos às urnas nas eleições presidenciais do ano passado, além de participar e financiar ativamente uma entidade para crianças faveladas na Índia.
Isso é refletido na música. Em seu quarto álbum de estúdio, "Reflections", lançado em 2003 na Europa, Dyk tenta imprimir algumas dessas "mensagens" em canções como "Time of Our Lives", "Like a Friend" e "Knowledge".
As facetas engajada e hedonista de Paul Van Dyk poderão ser conferidas no Brasil pela segunda vez -a primeira foi em 1998. Ele toca no Brasília Music Festival-Mix, em 10/9, e, no dia anterior, em São Paulo, em festa especial.
Um dos maiores representantes do trance (vertente melódica, eufórica e também um pouco mais comercial da eletrônica), o alemão é DJ há mais de dez anos -suas primeiras residências foram nos míticos clubes berlinenses Tresor e E-Werk- e falou à Folha sobre sua adolescência na Berlim Oriental e sobre a participação em campanhas sociais.

 

Folha - Você é considerado um DJ de trance, mas não gosta de ser rotulado assim. Por quê?
Paul Van Dyk -
Chamo apenas de dance music eletrônica, porque é apenas isso no final: música eletrônica feita para dançar. Claro, toco algumas faixas que as pessoas chamam de trance, mas também toco músicas tecno e breakbeat.

Folha - No ano passado você foi um dos artistas que participaram da campanha "Rock the Vote" nos EUA. Por que decidiu fazer parte?
Dyk -
Foi a primeira vez que alguém da dance music se envolveu na campanha. Não sou norte-americano, então não disse às pessoas em quem votar, apenas disse que o maior pilar de uma democracia é o voto. Então, uma responsabilidade mínima que temos é a de ir votar nas eleições. No fim, deu resultado, pois, segundo estimativas, as últimas eleições nos EUA tiveram 11 milhões de novos eleitores. Tudo bem que eles votaram em quem eu não votaria...

Folha - Você é envolvido em uma organização de caridade na Índia...
Dyk -
É uma organização baseada em Mumbai chamada Akanksha [www.akanksha.org], que possui escolas nas favelas, em que as crianças têm educação e alimentação. Além disso, elas recebem orientação profissional quando são adolescentes para ajudar a conseguirem emprego. É algo que realmente faz diferença.

Folha - Você acha que a eletrônica é um meio viável para expressar posições políticas e sociais? Normalmente vemos isso no rock...
Dyk -
A eletrônica é a maior forma global de arte musical que existe: é música que não tem barreiras. É inerentemente tolerante, de união, e isso é politicamente importante. Além disso, não acredito que a música sozinha tenha o poder de mudar muita coisa, mas acredito que com a popularidade que alguns artistas alcançam, deve-se fazer algo. O que ocorre com o U2 é um exemplo: a banda chegou a um estágio em que Bono é ouvido por todo o mundo.

Folha - Você nasceu e cresceu na antiga Alemanha Oriental. Como se interessou por eletrônica?
Dyk -
Quando tinha 15, 16 anos, ainda não sabia direito o que queria da vida. Você não sente falta do que você não conhece... Minha mãe me ensinou a questionar tudo, isso me ajudou.

Folha - Você concorda que a música eletrônica tornou-se muito grande, com seus superstarDJs, festivais enormes, seus grandes clubes, e que isso é um problema?
Dyk -
Eu sou considerado um DJ grande, mas nunca larguei minhas raízes. Cada uma das faixas que produzo tem uma história e uma conexão com a minha história. Além disso, essas coisas são um fenômeno que acontece com todo tipo de música: sempre que algo que nasceu underground cresce, traz consigo um monte de artistas ruins. É um processo normal. Então é minha tarefa tocar apenas canções de qualidade. E não há nada ruim com grandes festivais, contanto que tenham bons artistas se apresentando.

Folha - Você compôs uma música ["Wir Sind Wir"; em português: isso somos nós] para a trilha do documentário "O Milagre de Berna - A Verdadeira História", sobre a vitória da Alemanha sobre a Hungria na Copa de 54. Foi um episódio histórico para seu país, não?
Dyk -
Ali tentei criar não uma canção de futebol, mas uma música que capturasse o que se passava pela sociedade alemã tanto naquela época como agora. A canção tem três temáticas principais: aquela vitória, que para muitos é o episódio que fez com que os alemães conseguissem festejar novamente após a Segunda Guerra; a reunificação das duas Alemanhas; e o clima de agora, que traz similaridade com 1954. Nós alemães não sabemos hoje o que esperar do futuro, como aconteceu logo após a Segunda Guerra. Hoje temos problemas econômicos, há muitos desempregados, ninguém sabe o que acontecerá. Tentei colocar tudo isso na canção. E ela se tornou muito popular. Regravei a música com o auxílio de uma orquestra, e fomos convidados pelo governo para apresentá-la ao vivo durante a celebração dos 15 anos de reunificação das Alemanhas.


Paul Van Dyk
Quando:
9/9, em festa com os DJs Tiga, Jon Carter e outros, no Espaço das Américas (r. Tagipuru, 795, Barra Funda, SP); 10/9, no Brasília Music Festival-Mix (estádio Mané Garrincha, Brasília)
Quanto: de R$ 50 a R$ 100 (SP); de R$ 70 a R$ 200 (Brasília)


Texto Anterior: Cinema: Diretor Milos Forman filmará a vida de Goya
Próximo Texto: Pearl Jam e Elvis Costello vêm ao Brasil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.