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MÚSICA
Um dos principais DJs do mundo, o alemão se apresenta em setembro num festival em Brasília e em festa em São Paulo
Paul Van Dyk traz dance "social" ao país
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Hedonista por definição, a dance music ganha certo corpo engajado nas mãos de Paul Van Dyk.
Aos 33 anos, o DJ alemão é, talvez,
o principal nome da eletrônica a
se envolver em campanhas sociais
e políticas nos últimos anos.
Dyk foi uma das vozes mais fortes da Rock the Vote, ação capitaneada por artistas para levar os jovens norte-americanos às urnas
nas eleições presidenciais do ano
passado, além de participar e financiar ativamente uma entidade
para crianças faveladas na Índia.
Isso é refletido na música. Em
seu quarto álbum de estúdio, "Reflections", lançado em 2003 na
Europa, Dyk tenta imprimir algumas dessas "mensagens" em canções como "Time of Our Lives",
"Like a Friend" e "Knowledge".
As facetas engajada e hedonista
de Paul Van Dyk poderão ser conferidas no Brasil pela segunda vez
-a primeira foi em 1998. Ele toca
no Brasília Music Festival-Mix,
em 10/9, e, no dia anterior, em São
Paulo, em festa especial.
Um dos maiores representantes
do trance (vertente melódica, eufórica e também um pouco mais
comercial da eletrônica), o alemão é DJ há mais de dez anos
-suas primeiras residências foram nos míticos clubes berlinenses Tresor e E-Werk- e falou à
Folha sobre sua adolescência na
Berlim Oriental e sobre a participação em campanhas sociais.
Folha - Você é considerado um DJ
de trance, mas não gosta de ser rotulado assim. Por quê?
Paul Van Dyk - Chamo apenas de
dance music eletrônica, porque é
apenas isso no final: música eletrônica feita para dançar. Claro,
toco algumas faixas que as pessoas chamam de trance, mas também toco músicas tecno e breakbeat.
Folha - No ano passado você foi
um dos artistas que participaram
da campanha "Rock the Vote" nos
EUA. Por que decidiu fazer parte?
Dyk - Foi a primeira vez que alguém da dance music se envolveu
na campanha. Não sou norte-americano, então não disse às
pessoas em quem votar, apenas
disse que o maior pilar de uma democracia é o voto. Então, uma
responsabilidade mínima que temos é a de ir votar nas eleições.
No fim, deu resultado, pois, segundo estimativas, as últimas
eleições nos EUA tiveram 11 milhões de novos eleitores. Tudo
bem que eles votaram em quem
eu não votaria...
Folha - Você é envolvido em uma
organização de caridade na Índia...
Dyk - É uma organização baseada em Mumbai chamada
Akanksha [www.akanksha.org],
que possui escolas nas favelas, em
que as crianças têm educação e
alimentação. Além disso, elas recebem orientação profissional
quando são adolescentes para
ajudar a conseguirem emprego. É
algo que realmente faz diferença.
Folha - Você acha que a eletrônica é um meio viável para expressar
posições políticas e sociais? Normalmente vemos isso no rock...
Dyk - A eletrônica é a maior forma global de arte musical que
existe: é música que não tem barreiras. É inerentemente tolerante,
de união, e isso é politicamente
importante. Além disso, não acredito que a música sozinha tenha o
poder de mudar muita coisa, mas
acredito que com a popularidade
que alguns artistas alcançam, deve-se fazer algo. O que ocorre com
o U2 é um exemplo: a banda chegou a um estágio em que Bono é
ouvido por todo o mundo.
Folha - Você nasceu e cresceu na
antiga Alemanha Oriental. Como
se interessou por eletrônica?
Dyk - Quando tinha 15, 16 anos,
ainda não sabia direito o que queria da vida. Você não sente falta
do que você não conhece... Minha
mãe me ensinou a questionar tudo, isso me ajudou.
Folha - Você concorda que a música eletrônica tornou-se muito
grande, com seus superstarDJs,
festivais enormes, seus grandes
clubes, e que isso é um problema?
Dyk - Eu sou considerado um DJ
grande, mas nunca larguei minhas raízes. Cada uma das faixas
que produzo tem uma história e
uma conexão com a minha história. Além disso, essas coisas são
um fenômeno que acontece com
todo tipo de música: sempre que
algo que nasceu underground
cresce, traz consigo um monte de
artistas ruins. É um processo normal. Então é minha tarefa tocar
apenas canções de qualidade. E
não há nada ruim com grandes
festivais, contanto que tenham
bons artistas se apresentando.
Folha - Você compôs uma música
["Wir Sind Wir"; em português: isso
somos nós] para a trilha do documentário "O Milagre de Berna - A
Verdadeira História", sobre a vitória da Alemanha sobre a Hungria
na Copa de 54. Foi um episódio histórico para seu país, não?
Dyk - Ali tentei criar não uma
canção de futebol, mas uma música que capturasse o que se passava
pela sociedade alemã tanto naquela época como agora. A canção tem três temáticas principais:
aquela vitória, que para muitos é
o episódio que fez com que os alemães conseguissem festejar novamente após a Segunda Guerra; a
reunificação das duas Alemanhas;
e o clima de agora, que traz similaridade com 1954. Nós alemães
não sabemos hoje o que esperar
do futuro, como aconteceu logo
após a Segunda Guerra. Hoje temos problemas econômicos, há
muitos desempregados, ninguém
sabe o que acontecerá. Tentei colocar tudo isso na canção. E ela se
tornou muito popular. Regravei a
música com o auxílio de uma orquestra, e fomos convidados pelo
governo para apresentá-la ao vivo
durante a celebração dos 15 anos
de reunificação das Alemanhas.
Paul Van Dyk
Quando: 9/9, em festa com os DJs Tiga,
Jon Carter e outros, no Espaço das
Américas (r. Tagipuru, 795, Barra Funda,
SP); 10/9, no Brasília Music Festival-Mix
(estádio Mané Garrincha, Brasília)
Quanto: de R$ 50 a R$ 100 (SP);
de R$ 70 a R$ 200 (Brasília)
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