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Varela retorna em ano eleitoral frio
Peça "A História do Brasil Segundo Ernesto Varela - Como Chegamos Aqui?" estréia hoje para discutir a política do país
Nas quintas, Marcelo Tas promoverá debates após as apresentações, com nomes como Fernando Meirelles e Washington Olivetto
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 25 de abril de 1984, ao
chegar ao Congresso Nacional
para acompanhar a votação da
emenda Dante de Oliveira,
ponto culminante da campanha das Diretas Já, o jornalista
e apresentador de TV Marcelo
Tas percebeu que no crachá
que lhe daria acesso ao plenário
era outro o nome que aparecia:
Ernesto Varela.
O funcionário do Legislativo
tinha entendido tudo. Afinal,
Varela, o personagem que fazia
"perguntas óbvias" e desconcertantes a políticos e celebridades, criado no ano anterior
por Tas em parceria com o hoje
cineasta Fernando Meirelles, já
havia se tornado àquela altura
uma espécie de repórter-símbolo da redemocratização.
Mais de duas décadas depois,
num ano eleitoral que desperta
quase nenhum entusiasmo,
suas entrevistas e reportagens
históricas reaparecem na peça-palestra "A História do Brasil
Segundo Ernesto Varela - Como Chegamos Aqui?", que trará, após as sessões da próxima
quinta-feira, convidados para
debaterem o país. Já estão confirmados Meirelles, o publicitário Washington Olivetto e o filósofo Roberto Romano.
O ano de surgimento do repórter, que fazia suas matérias
para a TV Gazeta (SP), na companhia do câmera Valdeci
(Meirelles), foi o mesmo das
primeiras manifestações públicas favoráveis às eleições diretas para presidente da República no país.
Um dos mais antigos vídeos
na peça é de 27/11/1983, quando a dupla filmou em frente ao
estádio do Pacaembu o primeiro ato paulistano do movimento. Lá estavam, mais jovens e
saudáveis, petistas como Luiz
Inácio Lula da Silva, Marta e
Eduardo Suplicy -este nem
tão saudável assim, já que, recém-acidentado, era empurrado pela então mulher numa cadeira de rodas. A eles todos Varela perguntava: "Qual é o prazer da política?".
Lula responde que o prazer é
que o povo participe, Marta diz
não saber exatamente por que,
afinal, tem que dividir com a
política seu marido, e Suplicy,
bem, Suplicy, enfaixado, pede
para Varela, por favor, "não bater aí nas minhas costas, porque é um dos lugares em que
está doendo".
A pergunta se torna mais
simples e óbvia num dos primeiros encontros registrados
entre Varela e Paulo Maluf, que
se repetiria várias vezes dali
por diante, quando o repórter
pergunta ao então candidato da
situação à Presidência da República se, como dizem, ele de
fato é corrupto. Maluf, de cara
amarrada, abandona o entrevistador sem lhe dar resposta.
"Perguntar para o Maluf se
ele é ladrão é uma pergunta óbvia. O Varela sempre faz perguntas muito simples e óbvias",
diz Tas. "Não valorizamos o óbvio. Às vezes é ele que traz as
maiores revelações."
Contrastes
A comparação, inevitável durante a peça, entre aqueles anos
que conjugavam esperança e
informalidade, de um lado, e
um ranço autoritário de poderosos de ocasião, resquício militar, do outro, e os anos que
correm, de desesperança na política, faz Tas falar com respeito
até de quem era o inimigo público nš 1 da época. "Maluf não
mudou muito. É candidato de
novo e um exemplo de perseverança impressionante. Perto
desse cinismo de hoje, de mensaleiros e sanguessugas, ele é
um homem coerente."
Resquícios do militarismo
ainda se faziam sentir em 1986,
quando Varela entrevista Nabi
Abi Chedid, deputado e cartola
da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que fica irritado com a interpelação de Varela sobre política e o acusa de
ser um mau patriota.
De outro lado, a nos basearmos na entrevista que o repórter da Globo Tonico Ferreira
concede a Varela durante comício das Diretas em São Paulo, a
informalidade também era
grande, e profissionais de grandes veículos da mídia e da imprensa pareciam lidar com desenvoltura com os constrangimentos de seu ofício.
Comentando seu passado em
"jornaizinhos" alternativos na
faculdade, Ferreira é questionado por Varela: "E agora?".
"Agora eu faço o jornalão da situação", responde.
Para outra pergunta "simples" de Varela, sobre o fato de a
Globo não ter "divulgado tanto" o movimento pró-Diretas
até aquela data, Ferreira é, mais
uma vez, direto, afirmando que
se trata de uma "decisão da empresa". A Globo havia escolhido
"não cobrir" até aquele comício, ele diz.
(RAFAEL CARIELLO)
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