São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Uruguaio dá volume ao tempo em exposição

Marco Maggi apresenta segunda individual no país

DA REPORTAGEM LOCAL

Um terremoto em San Francisco fez sair dos trilhos uma locomotiva, mas o trem não tombou. Ficou de pé, paralelo ao caminho que deveria seguir. Marco Maggi acabou com a imagem gravada na cabeça. Da mesma forma que a locomotiva saltou dos trilhos, um de seus desenhos parece despencar da própria moldura na mostra em cartaz na galeria Nara Roesler. "É uma forma de desafiar o espaço", afirma.
O artista uruguaio radicado nos Estados Unidos, e que já esteve na Bienal de São Paulo, faz agora sua segunda individual no país, com 21 obras que tentam, como ele diz, ser algo além de objeto a ser apreciado na galeria e trazer o fator tempo para as artes visuais.
"San Andreas Fault", o nome da falha nas placas tectônicas responsável pelo terremoto-estopim de toda a produção recente do artista, dá nome ao desenho a lápis que foge das bordas do quadro. São garranchos orgânico-geométricos que podem ser associados a destroços de uma paisagem urbana (em escala macro) ou a microcircuitos internos de um chip de computador (em micro).
Têm a mesma aparência os relevos em papel alumínio de "Pre-Columbian and Post-Clintonian", que, como o título sugere, tenta embaralhar o fluxo do tempo entre escavação arqueológica e era pós-moderna. "Para mim, importa mais o tempo que o espaço", diz Maggi. "É difícil fixar a escala."
Na esteira desse desafio, Maggi também expõe um punhado de grafite triturado sobre uma plataforma de acrílico: contra a parede imaculada do cubo branco, vira provocação temporal, um potencial de desenho que não se manifesta. Maggi lembra, por exemplo, que na última grande exposição do Whitney Museum, em Nova York, era impossível ver todos os vídeos em cartaz durante o tempo de abertura da mostra.

CNN e "Casablanca"
É a mesma lógica por trás de suas chamadas "Turner Boxes". Quem olha para os quadros enxerga um grid todo branco com fiapos de cor. Do lado de trás do quadro, que o público não pode ver, há reproduções de obras de Andy Warhol, Gerhard Richter, Mira Schendel e Hélio Oiticica.
Numa brincadeira com o canal de notícias CNN, do empresário Ted Turner, Maggi chama essas séries de coberturas completas. "Quando a imprensa diz que vai mostrar algo, diz estar cobrindo tudo", lembra Maggi. "É a incapacidade de ver."
Não espanta que Turner tenha comprado também os direitos para colorir clássicos do cinema. "Manipular informação é sua especialidade, seja na Guerra do Iraque seja em "Casablanca'", ataca o artista. (SM)


MARCO MAGGI
Quando:
de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h; até 13/9
Onde: Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 0/xx/11/3063-2344; livre)
Quanto: entrada franca



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