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Uruguaio dá volume ao tempo em exposição
Marco Maggi apresenta segunda individual no país
DA REPORTAGEM LOCAL
Um terremoto em San Francisco fez sair dos trilhos uma locomotiva, mas o trem não tombou. Ficou de pé, paralelo ao caminho que deveria seguir. Marco Maggi acabou com a imagem
gravada na cabeça.
Da mesma forma que a locomotiva saltou dos trilhos, um
de seus desenhos parece despencar da própria moldura na
mostra em cartaz na galeria
Nara Roesler. "É uma forma de
desafiar o espaço", afirma.
O artista uruguaio radicado
nos Estados Unidos, e que já esteve na Bienal de São Paulo, faz
agora sua segunda individual
no país, com 21 obras que tentam, como ele diz, ser algo além
de objeto a ser apreciado na galeria e trazer o fator tempo para
as artes visuais.
"San Andreas Fault", o nome
da falha nas placas tectônicas
responsável pelo terremoto-estopim de toda a produção recente do artista, dá nome ao desenho a lápis que foge das bordas do quadro. São garranchos
orgânico-geométricos que podem ser associados a destroços
de uma paisagem urbana (em
escala macro) ou a microcircuitos internos de um chip de
computador (em micro).
Têm a mesma aparência os
relevos em papel alumínio de
"Pre-Columbian and Post-Clintonian", que, como o título
sugere, tenta embaralhar o fluxo do tempo entre escavação
arqueológica e era pós-moderna. "Para mim, importa mais o
tempo que o espaço", diz Maggi. "É difícil fixar a escala."
Na esteira desse desafio,
Maggi também expõe um punhado de grafite triturado sobre uma plataforma de acrílico:
contra a parede imaculada do
cubo branco, vira provocação
temporal, um potencial de desenho que não se manifesta.
Maggi lembra, por exemplo,
que na última grande exposição
do Whitney Museum, em Nova
York, era impossível ver todos
os vídeos em cartaz durante o
tempo de abertura da mostra.
CNN e "Casablanca"
É a mesma lógica por trás de
suas chamadas "Turner Boxes". Quem olha para os quadros enxerga um grid todo
branco com fiapos de cor. Do
lado de trás do quadro, que o
público não pode ver, há reproduções de obras de Andy Warhol, Gerhard Richter, Mira
Schendel e Hélio Oiticica.
Numa brincadeira com o canal de notícias CNN, do empresário Ted Turner, Maggi chama
essas séries de coberturas completas. "Quando a imprensa diz
que vai mostrar algo, diz estar
cobrindo tudo", lembra Maggi.
"É a incapacidade de ver."
Não espanta que Turner tenha comprado também os direitos para colorir clássicos do
cinema. "Manipular informação é sua especialidade, seja na
Guerra do Iraque seja em "Casablanca'", ataca o artista.
(SM)
MARCO MAGGI
Quando: de seg. a sex., das 10h às
19h; sáb., das 11h às 15h; até 13/9
Onde: Nara Roesler (av. Europa,
655, tel. 0/xx/11/3063-2344; livre)
Quanto: entrada franca
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