São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Nouvel organiza mostra do escultor César

GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Até 26 de outubro, Jean Nouvel reina em seu próprio palácio. Quatorze anos depois de projetar o prédio da Fundação Cartier -centro de arte contemporânea ao sul de Paris- o arquiteto volta ao espaço, agora como curador e cenógrafo da exposição "César", homenagem ao escultor César Baldaccini, morto há dez anos.
A marca principal das obras de César é o uso de material industrial e sucata: latarias de carro, plástico, alumínio e o questionamento dos cânones da escultura tradicional. Como fazer essas peças monumentais e multicoloridas interagirem com o espaço, marcado pela transparência e pela leveza?
Nouvel criou um percurso lúdico: as obras, quase cem ao todo, aparecem esparramadas ao longo de três andares e algumas são expostas em áreas não convencionais -dentro da "lojinha" do museu, por exemplo- ou espalhadas por um jardim. O arquiteto preferiu separar as esculturas por temas/técnicas, criando quatro grupos: feras (animais imaginários), empréstimos humanos, expansões e compressões. As séries não ficam efetivamente separadas, pois as paredes são de vidro.

Animais imaginários
Criados entre 1949 e 1966, os chamados animais imaginários marcam o começo do uso do ferro e da técnica da solda pelo escultor. Instalado numa fábrica em Villetaneuse (subúrbio de Paris), César começou a misturar restos de ferro -blocos, hastes e chapas. "César desprezava o trabalho artístico fácil, instantâneo e automático. [...]
A vida de um artista é marcada por aquilo que ele consegue extrair do seu tempo, e ele fez um trabalho de real profundidade", escreve Nouvel, em texto para a exposição.
A partir de 1965, o escultor começa a produção das chamadas "expansões humanas": esculturas criadas a partir de moldes anatômicos (seios e principalmente dedos), concebidas com resina poliéster, alumínio, cristal Baccarat, em escala ampliada. Mas fica guardada no subsolo a parte mais conhecida de sua obra. Num retorno aos depósitos de ferragens da periferia parisiense, César descobre a "Big Squeeze" -prensa utilizada para comprimir automóveis- e desenvolve com ela uma série de "compressões" metálicas.
Na época de sua apresentação, as obras foram duramente criticadas por representarem "o abandono da mão humana pelo uso exclusivo da máquina". Para César, tratava-se de um processo que exigia planificações e cálculos detalhados. Polêmica à parte, ao entrar na sala subterrânea, o espectador se depara com uma espécie de "cemitério", com metais de todas as cores. Se algumas esculturas guardam a forma do automóvel, outras são apenas reminiscências metálicas.
Intitulada "Suite Milanese", por exemplo, a última série do escultor gerou blocos monocromáticos, com tons propostos pela Fiat em 1998. Mas não só de curadorias vive o arquiteto. Vencedor do Pritsker deste ano, Nouvel continua a deixar marcas sobre Paris. Seu escritório acaba de vencer concurso para a construção de um arranha-céu em La Défense (centro financeiro da capital francesa).


CÉSAR: ANTHOLOGIE PAR JEAN NOUVEL
Quando: de ter. a dom., das 11h às 20h; até 26/10
Onde: Fondation Cartier (261, boulevard Raspail, Paris, tel. 00/xx/ 33142185650)
Quanto: 7 euros



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