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Nouvel organiza mostra do escultor César
GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Até 26 de outubro, Jean Nouvel reina em seu próprio palácio. Quatorze anos depois de
projetar o prédio da Fundação
Cartier -centro de arte contemporânea ao sul de Paris- o
arquiteto volta ao espaço, agora
como curador e cenógrafo da
exposição "César", homenagem ao escultor César Baldaccini, morto há dez anos.
A marca principal das obras
de César é o uso de material industrial e sucata: latarias de
carro, plástico, alumínio e o
questionamento dos cânones
da escultura tradicional. Como
fazer essas peças monumentais
e multicoloridas interagirem
com o espaço, marcado pela
transparência e pela leveza?
Nouvel criou um percurso lúdico: as obras, quase cem ao todo, aparecem esparramadas ao
longo de três andares e algumas
são expostas em áreas não convencionais -dentro da "lojinha" do museu, por exemplo-
ou espalhadas por um jardim.
O arquiteto preferiu separar
as esculturas por temas/técnicas, criando quatro grupos: feras (animais imaginários), empréstimos humanos, expansões
e compressões. As séries não ficam efetivamente separadas,
pois as paredes são de vidro.
Animais imaginários
Criados entre 1949 e 1966, os
chamados animais imaginários
marcam o começo do uso do
ferro e da técnica da solda pelo
escultor. Instalado numa fábrica em Villetaneuse (subúrbio
de Paris), César começou a misturar restos de ferro -blocos,
hastes e chapas. "César desprezava o trabalho artístico fácil,
instantâneo e automático. [...]
A vida de um artista é marcada
por aquilo que ele consegue extrair do seu tempo, e ele fez um
trabalho de real profundidade",
escreve Nouvel, em texto para a
exposição.
A partir de 1965, o escultor
começa a produção das chamadas "expansões humanas": esculturas criadas a partir de
moldes anatômicos (seios e
principalmente dedos), concebidas com resina poliéster, alumínio, cristal Baccarat, em escala ampliada.
Mas fica guardada no subsolo
a parte mais conhecida de sua
obra. Num retorno aos depósitos de ferragens da periferia parisiense, César descobre a "Big
Squeeze" -prensa utilizada para comprimir automóveis- e
desenvolve com ela uma série
de "compressões" metálicas.
Na época de sua apresentação, as obras foram duramente
criticadas por representarem
"o abandono da mão humana
pelo uso exclusivo da máquina". Para César, tratava-se de
um processo que exigia planificações e cálculos detalhados.
Polêmica à parte, ao entrar
na sala subterrânea, o espectador se depara com uma espécie
de "cemitério", com metais de
todas as cores. Se algumas esculturas guardam a forma do
automóvel, outras são apenas
reminiscências metálicas.
Intitulada "Suite Milanese",
por exemplo, a última série do
escultor gerou blocos monocromáticos, com tons propostos pela Fiat em 1998.
Mas não só de curadorias vive o arquiteto. Vencedor do
Pritsker deste ano, Nouvel continua a deixar marcas sobre Paris. Seu escritório acaba de vencer concurso para a construção
de um arranha-céu em La Défense (centro financeiro da capital francesa).
CÉSAR: ANTHOLOGIE PAR JEAN NOUVEL
Quando: de ter. a dom., das 11h às
20h; até 26/10
Onde: Fondation Cartier (261, boulevard Raspail, Paris, tel. 00/xx/
33142185650)
Quanto: 7 euros
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