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"É preciso esquecer Maio de 68", afirma ativista durante palestra
DO ENVIADO A PORTO ALEGRE
Quando Daniel Cohn-Bendit sobe ao palco e desanda a
falar e gesticular, é fácil entender o papel que ele deve
ter exercido nas revoltas estudantis do longínquo 1968,
tanto nas ruas quanto no
campus da Universidade de
Nanterre.
A retórica inflamada, os
braços incansáveis para cima e para baixo, a cabeleira
(sim, ele ainda a tem!) entre o
loiro e o ruivo e o rosto sempre transtornado fazem de
qualquer lugar-comum um
ovo de Colombo.
"Esqueçam 68!", brada logo no início. Está bem, mas,
se apagássemos essa parte
de sua biografia, ele certamente não estaria ali na nossa frente, falando a quase mil
pessoas reunidas no auditório da Universidade Federal
do Rio Grande Sul.
Cohn-Bendit faz um apanhado das utopias que fracassaram na história -Revolução Francesa, comunismo,
fascismo, Revolução Cubana. Nada mais justo e de bom
senso do que defender essa
ideia, pois todas resultaram
em barbárie, lembra.
A democracia burguesa,
afirma, é a única alternativa
possível, pois ela constitui a
base das sociedades abertas.
China, Irã, Rússia e a Venezuela de Chávez não são
sociedades abertas porque
não têm a liberdade como
fundamento. "Eu era um
anarquista libertário e demorei para entender que as mudanças só ocorrem se houver
estruturas democráticas."
Para ele, só restam duas
utopias possíveis: primeiro,
a União Europeia, que é um
sonho de integração política
e cultural. O banimento do
uso de burcas e a deportação
de ciganos na França, a proibição de minaretes na Suíça
ou o fenômeno Berlusconi
são apenas retrocessos temporários e normais, crava.
A outra utopia de Dani, o
ex-vermelho, é a verde. É preciso mudar modos de produção e estilos de vida para não
esgotar o planeta.
Mas, quando nos damos
conta de que o ícone de uma
geração fala ali sozinho no
alto do palco só tendo à frente o logo da petroquímica
que o trouxe -e a vários outros nomes de inegável prestígio intelectual-, somos
obrigados a concordar com
ele: talvez seja melhor esquecer Maio de 68.
(MFP)
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