São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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"É preciso esquecer Maio de 68", afirma ativista durante palestra

DO ENVIADO A PORTO ALEGRE

Quando Daniel Cohn-Bendit sobe ao palco e desanda a falar e gesticular, é fácil entender o papel que ele deve ter exercido nas revoltas estudantis do longínquo 1968, tanto nas ruas quanto no campus da Universidade de Nanterre.
A retórica inflamada, os braços incansáveis para cima e para baixo, a cabeleira (sim, ele ainda a tem!) entre o loiro e o ruivo e o rosto sempre transtornado fazem de qualquer lugar-comum um ovo de Colombo.
"Esqueçam 68!", brada logo no início. Está bem, mas, se apagássemos essa parte de sua biografia, ele certamente não estaria ali na nossa frente, falando a quase mil pessoas reunidas no auditório da Universidade Federal do Rio Grande Sul.
Cohn-Bendit faz um apanhado das utopias que fracassaram na história -Revolução Francesa, comunismo, fascismo, Revolução Cubana. Nada mais justo e de bom senso do que defender essa ideia, pois todas resultaram em barbárie, lembra.
A democracia burguesa, afirma, é a única alternativa possível, pois ela constitui a base das sociedades abertas.
China, Irã, Rússia e a Venezuela de Chávez não são sociedades abertas porque não têm a liberdade como fundamento. "Eu era um anarquista libertário e demorei para entender que as mudanças só ocorrem se houver estruturas democráticas."
Para ele, só restam duas utopias possíveis: primeiro, a União Europeia, que é um sonho de integração política e cultural. O banimento do uso de burcas e a deportação de ciganos na França, a proibição de minaretes na Suíça ou o fenômeno Berlusconi são apenas retrocessos temporários e normais, crava.
A outra utopia de Dani, o ex-vermelho, é a verde. É preciso mudar modos de produção e estilos de vida para não esgotar o planeta.
Mas, quando nos damos conta de que o ícone de uma geração fala ali sozinho no alto do palco só tendo à frente o logo da petroquímica que o trouxe -e a vários outros nomes de inegável prestígio intelectual-, somos obrigados a concordar com ele: talvez seja melhor esquecer Maio de 68. (MFP)

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