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Mia Couto defende viés político da literatura
Em aula magna em SP, moçambicano também fez paralelo entre infância e história do país
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O escritor moçambicano
Mia Couto redigiu um texto
cerimonioso para abrir a aula
magna que realizou anteontem na pós-graduação da
Uninove. Mas, já dentro de
uma sala com 150 pessoas
inscritas, resolveu não ler o
conteúdo programado.
"Esta situação é menos
formal do que eu esperava",
disse, em comparação ainda
com sua palestra na Bienal
do Livro, no último dia 21.
A conversa partiu para um
bate-papo de uma hora e
meia, em que prevaleceram
histórias de vida do autor de
"Terra Sonâmbula" e de "O
Fio das Missangas".
Os 16 anos de Guerra Civil
em Moçambique (1975-1992)
entrecruzaram-se com os relatos de Mia sobre sua infância no berço de uma "minoria
branca" do país.
De três irmãos, ele é o do
meio, tratado desde menino
"como uma espécie de retardado", brinca o escritor.
"Meus irmãos funcionavam com eficiência. Eu não",
diz, antes de contar sobre a
primeira vez em que foi encarregado de ir buscar pães.
Já na padaria, avisado de
que deveria esperar por uma
nova fornada, ele sentou-se
na calçada e ali permaneceu
durante horas observando os
passantes. Até ser resgatado
por dois pais aflitos.
O escritor falou ainda sobre a influência de Guimarães Rosa. "Quando li "A Terceira Margem do Rio", não
era um livro o que eu estava
lendo. Eram vozes", relata.
Para ele, assim como na
obra do autor mineiro, sua
narrativa se aproxima de tradições orais.
Contar histórias, e utilizá-las como uma ferramenta política, é algo muito forte na
África, ele diz. E isso "não pode ser ignorado" por colegas
que "enfim estão deixando
as estantes dos autores africanos para as dos autores internacionais".
Em parceria com o angolano José Eduardo Agualusa,
Mia está também escrevendo
uma peça teatral. É a segunda investida dessa parceria
pela dramaturgia. Em 2007,
eles finalizaram "Chovem
Amores na Rua do Matador".
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