São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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TEATRO

Beth Lopes sai da margem do teatrão

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Os atores Gabriel Braga e Regina Nunes ensaiam a peça 'À Margem da Vida', sob direção de Beth Lopes


VALMIR SANTOS
especial para a Folha

Tennessee Williams (1911-83), quem diria, tirou Beth Lopes da margem do teatrão. A diretora que sempre esteve associada à criação experimental chega à maior produção dos seus 20 anos de carreira.
Ela dirige o drama "À Margem da Vida" (44), clássico da dramaturgia norte-americana. A montagem tem pré-estréia hoje e amanhã no Teatro Faap, para convidados, e entra em cartaz na quinta.
"As pessoas sempre falam de mim como a Beth Lopes de "O Cobrador'. Virou um estigma. Eu quero mudar isso, estou numa fase totalmente diferente", garante.
A adaptação do conto homônimo de Rubem Fonseca, em 91, marcou o surgimento da Cia. de Teatro em Quadrinhos, com a qual trabalhou até ano passado.
Lopes, 42, admite que "À Margem da Vida" difere de tudo que já fez. "É a primeira vez que monto um texto mesmo, e não uma adaptação; e é Tennessee Williams, e é psicológico", destaca.
Minuciosa na ação física dos atores e no componente visual, Lopes quer conjugar sua estética com o realismo psicológico de Williams. Não pretende escapar do realismo, mas chegar a ele pela via poética.
"À Margem da Vida" retrata os conflitos de uma família assentada na irrealidade cotidiana. A mãe, Amanda (Regina Braga), se apega ao glamour de um passado que se esvaiu com o tempo e sucumbe à depressão econômica dos anos 30.
A filha Laura (Luah Guimarãez) é portadora de uma deficiência nas pernas e canaliza sua vida para uma coleção de bichinhos de vidro tão frágeis quanto ela.
A mãe tenta empurrar a filha tímida para um noivo. O candidato é Jim (André Boll), amigo do irmão dela. O sujeito é exímio no discurso de um futuro promissor e um desastre nas coisas do coração.
O quarto personagem destoa da vala da incomunicabilidade. O poeta Tom (Gabriel Braga Nunes), alter ego de Williams, também foge de uma realidade que o incomoda muito. Mas se deixa guiar por um sonho: tornar-se escritor.
Essa família fechada em seu mundo, tolhida em seus desejos e liberdades, pode estar espremida num apartamento próximo ao Minhocão, na região central de São Paulo. Pelo menos é assim na concepção de Beth Lopes.
"Que o espetáculo tenha para o espectador um impacto, uma identidade realista, com todo o intimismo e a humanidade que pede o texto", pondera.
No seu processo de criação, a diretora dispensou as referências autobiográficas do texto, como a homossexualidade de Williams e sua preocupação com a irmã mais velha, abalada psicologicamente. "O problema de Tennessee não era sua sexualidade, mas sua marginalidade. O fato de ser poeta o colocava à margem", disse.
Para desenhar um visual com tintas cinematográficas (outra linguagem que lhe é peculiar), Lopes chamou a diretora de arte Daniela Thomas, o cenógrafo Felipe Tassara e o iluminador Wagner Pinto, parceiros de outras montagens.
A interpretação não é completamente realista. Desponta revestida de uma fisicalidade "muito tênue e muito poética", segundo Lopes. "Agora eu quero botar o pé no teatro mesmo. Quero cair na vida, quero fazer coisas grandes."

Peça: À Margem da Vida
Autor: Tennessee Williams
Diretora: Beth Lopes
Com: Regina Braga, Gabriel Braga Nunes, Luah Guimarãez e André Boll
Onde: Teatro Faap (rua Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 011/3662-1992)
Quando: pré-estréia hoje e amanhã, às 21h; estréia quinta, às 21h; quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h
Quanto: R$ 20 a R$ 30



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