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MÚSICA
Guilherme de Brito, 78, parceiro de Nelson Cavaquinho em "A Flor e o Espinho", grava disco de sambas inéditos
Lua Discos dá alento à tradição e inovação
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Cabe tudo num pote só. Uma
mesma gravadora independente,
Lua Discos, acelera suas atividades e dá guarida a frentes aparentemente opostas da sagrada música popular brasileira.
Fundada em 98 e dirigida em
São Paulo pelo compositor e publicitário carioca Thomas Roth, a
Lua acaba de gravar o que o sambista carioca Guilherme de Brito,
78, classifica como seu "primeiro
disco comercial" no Brasil (antes,
só gravara no Japão).
Parceiro histórico de Nelson
Cavaquinho e autor dos versos
"tire seu sorriso do caminho/ que
eu quero passar com a minha
dor" (de "A Flor e o Espinho"), ele
registrou, em cerca de uma semana de estúdio, 12 sambas inéditos
de sua autoria.
Entre os próximos projetos da
Lua, previstos para lançamento
em 2001, estão o primeiro disco
solo do também histórico Casquinha, da Velha Guarda da Portela,
e um CD em que o (anti)tropicalista Jards Macalé se dedica ao repertório de Moreira da Silva
(1902-2000).
Um templo da tradição, a Lua
Discos? Não é bem assim. Ainda
em 2000, antes desses lançamentos, o selo deve editar "Garotas
Boas Vão pro Céu, Garotas Más
Vão pra Qualquer Lugar...", o segundo CD de Rebeca Matta. Novo
talento baiano, Rebeca se revelou
em 98, integrando as linguagens
da MPB e da música eletrônica.
Guilherme de Brito
De sua casa, no Rio, Guilherme
de Brito reage à novidade de se
lançar cantor no Brasil entre sereno e satisfeito: "Esse disco foi uma
surpresa para mim. Moacyr Luz
veio aqui em casa e disse que eu ia
fazer um disco pela gravadora
Lua, de São Paulo. Fiquei muito
surpreso e feliz. Só saí do estúdio
com a gravação pronta".
Também sambista, Moacyr Luz
(quarto colocado no recente festival da Globo, com "Eu Só Quero
Beber Água") é o produtor e
orientador do projeto. Os cantores Luiz Melodia e Cássia Eller
participam do disco, em dois duetos com Guilherme.
"Era para sair no final do ano,
mas Moacyr quer que lancem logo o disco. Estou à disposição",
define Guilherme.
Ele diz que o título do CD permanece indefinido: "Eu queria
que fosse "O Canto do Cisne". O
cisne só canta quando morre, e
como estou no fim da vida... Mas
Moacyr não quis esse nome".
Por que a opção apenas por
sambas inéditos? ""A Flor e o Espinho" não está lá. Moacyr quis fazer um negócio novo, e fiquei dependendo da orientação dele. Ficou aquela discussão, "essa vai",
"essa não vai"... Só há uma música
que foi gravada quando Nelson
Cavaquinho era vivo, mas que depois ficou esquecida e é como se
fosse inédita."
Entre as eleitas, ele destaca "A
Vegetariana", samba satírico que
apresentou em São Paulo em
shows que fez em abril, no Villaggio Café. "Ai, ai, ai, não posso com
essa criatura/ ai, ai, ai, porque ela
só gosta de verdura", canta, satirizando a seu modo a atual música
de bunda.
Cantos de cisne à parte, Guilherme explicita, enfim, o efeito
causado pelo convite inesperado:
"Foi uma injeção de ânimo. Agora vou voltar a compor, a me interessar de novo pela música. Eu
havia abandonado".
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