São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ravi quer sair da sombra de Coltrane

EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA

O saxofonista Ravi Coltrane, 35, vem à edição 2000 do Free Jazz Festival para mostrar que, muito mais que um sobrenome, tem um estilo próprio. Ele toca no MAM do Rio no dia 21 deste mês. No dia seguinte, apresenta-se no Jockey Club de São Paulo.
Filho do também saxofonista John (1926-67) e da pianista Alice Coltrane, 63, Ravi demorou para embarcar no estilo musical cultuado pelos pais. "No início, eu só ouvia rhythm and blues e pop dos anos 70. Gostava de Stevie Wonder e Earth Wind & Fire", disse o músico à Folha, por telefone, de seu apartamento em Nova York.
Para estimulá-lo a aprender um instrumento, Alice presenteou o filho com um clarinete, quando Ravi tinha 4 anos. Com esse instrumento, ele começou a tocar marchas nas bandas do colégio.
Mais ou menos na mesma época em que Ravi atingiu a maioridade civil, ele chegou à maioridade musical. Em vez do pop da infância, começou a pôr para girar discos de Charlie Parker, Sonny Rollins e do próprio pai.
"Aquilo era sofisticado demais. Por isso senti a necessidade de me matricular numa escola séria para aprender jazz." E foi o que ele fez. Passou a ocupar uma cadeira no Instituto de Artes da Califórnia.
"Quando saí de lá, montei as minhas primeiras bandas. Tocava nos bares de Los Angeles, por cachês que giravam em torno de US$ 20. Além disso, cheguei a excursionar com a minha mãe."
O sobrenome começou a fazer diferença na carreira de Ravi em 1990. Naquele ano, ele foi assistir a um show do baterista Elvin Jones, que fez parte do quarteto que acompanhou John Coltrane na fase mais frutífera do saxofonista.
"Jones fez vários shows em Los Angeles. Fui vê-lo na primeira noite e me apresentei, sem dizer que eu tocava. Na última noite, voltei ao teatro e conversei mais demoradamente com ele. Foi então que disse ser um saxofonista."
Nada além disso aconteceu naquela noite. Seis meses depois, Jones ligou para Ravi dizendo que precisava de um saxofonista para sua banda. O convite foi aceito, e Ravi tocou com Jones de 91 a 93.
"Nós excursionamos muito. Por isso a maior lição que tive com Jones foi a de saber me virar em viagens", brinca Ravi. Depois desse começo promissor, veio seu maior desafio: como tocar o mesmo estilo e o mesmo instrumento do pai sem ser reconhecido apenas como filho de John Coltrane?
Ravi tomou uma decisão acertada. Em vez de adotar o fraseado introspectivo e quase religioso do pai, ele desenvolveu um estilo calcado na musicalidade dos saxofonistas do hard bop -aquele jazz que se diferencia do bebop pelo fato de ser mais melódico e preservar traços dos populares gospel e rhythm and blues.
Assim, o fraseado de Ravi -registrado em seus discos "Moving Pictures" e "From the Round Box"- descende muito mais dos saxofones de Joe Henderson, Sonny Rollins e Sonny Stitt.
Mas há críticos que insistem em manter Ravi sob a sombra paterna. "A vida é assim. Se o filho do Miles Davis resolver tocar trompete, vai ter o mesmo problema."
Para os shows que fará no Brasil, Ravi traz um quinteto. Além do seu sax, sua banda terá baixo, piano, bateria e trompete, formação igual à dos tempos em que seu pai tocava com Miles Davis.


Show: Ravi Coltrane
Onde e quando: MAM do Rio (21/10) e Jockey Club de São Paulo (22/10)
Quanto: R$ 60 (esgotados)
Internet: www.freejazz.com.br


Texto Anterior: Música: Lua Discos dá alento à tradição e inovação
Próximo Texto: Patrimônio: Projeto resgata arquivos coloniais sobre a capitania de São Paulo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.