CRÍTICA DA FOLHA

Criado em 1895, depois de uma primeira versão fracassada (e algumas outras), "O Lago dos Cisnes", com música de Tchaikovsky e coreografia de Petipa e Ivanov, responde de modo definitivo às grandes discussões do seu tempo.
O desejo de atingir uma verdade "sublime", para além de todos os limites da linguagem, se alegoriza em dança, traduzida nesses corpos femininos que procuram escapar das leis da gravidade. A dança, ali, é sempre um gesto que pensa.
Só neste ano, é a terceira vez que os brasileiros terão oportunidade de ver versões do "Lago" -primeiro o Kirov, depois Cullberg e agora o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O Municipal vai dançar a coreografia de Natalia Makarova, baseada em Petipa e Ivanov, com a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, sob a regência de Gustavo Plis-Sterenberg (maestro do Kirov).
A partitura marcou a estréia de Tchaikovsky (1840-93) como compositor para balé; mas a primeira versão do "Lago" fazia cortes radicais na música e acrescentava peças do hoje esquecido Cesare Pugni (1802-70).
Já a versão de Petipa e Ivanov faz jus à música original, que cria uma atmosfera dramática sob medida para o desenvolvimento da dança.
Criação e interpretação caminham juntas: o bailarino é tão responsável pelo sucesso do espetáculo quanto o coreógrafo.
As intérpretes buscam o "sublime" romântico na perfeição das linhas corporais. Seu contato ínfimo com o chão, só nas pontas dos pés, dramatiza um limiar da ausência de matéria e peso. Elas virtualmente se desmaterializam.
O "Lago" tem tradição no Municipal do Rio: seu corpo de baile apresentou o balé completo pela primeira vez em 1959.
Para a atual montagem, conta com grandes solistas -desde artistas da casa, como Ana Botafogo, Cecília Kerche, Roberta Marquez e Norma Pinna, Thiago Soares e André Valadão, até os artistas convidados Iñaki Urlezaga e Svetlana Zakharova.
Juntos, têm tudo para fazer deste novo "Lago" um grande espetáculo. (IB)