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Natalia Makarova, 61, apresenta "O Lago dos Cisnes" com elenco do Theatro Municipal do Rio
A rainha do lago
Versão criada pela estrela russa da dança estréia na quinta-feira; primeira montagem de sucesso, levada aos palcos em 1895, teve música de Tchaikovsky e coreografia de Petipa e Ivanov
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Os cisnes invadiram o país, e
com eles a estrela mundial Natalia
Makarova. Aos 61 anos de idade,
ela retornou ao Brasil em julho,
para remontar a sua versão de "O
Lago dos Cisnes" com o elenco do
Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A estréia acontece na próxima quinta-feira, dia 27, na capital
carioca.
A bailarina russa se destacou
muito jovem no papel de Gisele;
mas foi no "Lago" que ela se consagrou, pela grande musicalidade
e virtuosismo de seus movimentos dos braços e das costas.
Nos ensaios, Makarova não deixa nenhum detalhe escapar. Cada
gesto deve ser executado da forma
mais clara possível e com o máximo de intenção expressiva. Ela
encarna um ideal de precisão que
se reanima compasso a compasso, nos movimentos da dança
clássica.
Entre os vários ensaios, Makarova concedeu esta entrevista, por
fax, para a Folha. Leia a seguir os
melhores trechos.
Folha - Na sua visão, por que o
"Lago" é um dos mais populares
balés de todos os tempos?
Natalia Makarova - O mistério
desse sucesso situa-se não somente na beleza da música, mas na
profunda mensagem poética e no
conflito psicológico que caracteriza os heróis, cujo destino prende a
atenção das platéias. Odette, rainha dos cisnes, nos interessa imediatamente. A coragem e a autoridade que ela possui se tornam, no
balé, a própria dignidade da mulher apaixonada.
Todos os grandes bailarinos desejam dançar o "Lago". Os coreógrafos Petipa e Ivanov estão para
os bailarinos como Shakespeare
para os atores: sucesso ao dançar
as suas criações garante, quase
por definição, sucesso em todos
os papéis.
Folha - Quais as principais diferenças entre a coreografia de Petipa
e Ivanov e a sua?
Makarova - Petipa é associado ao
terceiro ato do balé e principalmente às danças características,
que eu continuo seguindo, assim
como mantive o segundo ato de
Ivanov, uma obra-prima. O que
acrescentei foi outra "mise-en-scène", enfatizando a essência
dramática do balé.
Folha - Existe um ideal para cada
gesto?
Makarova - É preciso ter uma
técnica perfeita, para que os movimentos pareçam fáceis, e não
como se seu corpo estivesse em
briga com eles. Ao mesmo tempo,
deve-se responder à música.
Folha - Você foi uma das grandes
intérpretes do papel duplo de Odile/Odette. Qual a diferença entre
as duas?
Makarova - Para mim, o segundo ato é a chave. Ali se revelam o
núcleo do drama e a essência do
balé -a natureza e o destino de
Odette. Por vários anos, dancei
uma Odette amedrontada, esvoaçante como uma moça-pássaro,
em quem o amor por Siegfried
desperta sentimentos humanos.
Mais tarde, suavizei os maneirismos do pássaro e me concentrei
na natureza humana de Odette.
Eu buscava o equilíbrio exato das
forças, que acredito afinal ter encontrado. Odette sabe o seu destino -a busca pela completude é
marcada pelo trauma do fracasso
ou pela morte.
Em Odile, descobri coisas que
não possuo: agressividade, braveza e a glória no próprio triunfo.
Odile se tornou mais inteligível
quando pude ver nela a estrangeira misteriosa, remanescente das
mulheres fatais do poeta romântico russo Alexander Blok. Eu a
imagino como uma sedutora, vinda não se sabe de onde. Seu passado ambíguo a torna inacessível
para todos.
Folha - Que memórias você tem
dos famosos 32 "fouettés" [giros
no mesmo lugar, sobre uma perna"?
Makarova - A palavra que me
vem como lembrança dos meus
primeiros "fouettés" é "desastre".
Na minha estréia do "Lago", no
teatro Marinsky [em São Petersburgo", fui deslizando para trás,
até desaparecer cortina adentro...
Com os anos, foram se tornando
mais fáceis; mas o senso de perigo
nunca desapareceu.
Folha - Como é trabalhar com a
companhia do Municipal?
Makarova - Eles estão trabalhando duro e com uma atitude muito
positiva. Os bailarinos respondem bem e são calorosos de coração. E eu, de minha parte, tento
obter deles o máximo de expressividade, sem perder a clareza.
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