São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2001

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Natalia Makarova, 61, apresenta "O Lago dos Cisnes" com elenco do Theatro Municipal do Rio

A rainha do lago

Versão criada pela estrela russa da dança estréia na quinta-feira; primeira montagem de sucesso, levada aos palcos em 1895, teve música de Tchaikovsky e coreografia de Petipa e Ivanov

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Os cisnes invadiram o país, e com eles a estrela mundial Natalia Makarova. Aos 61 anos de idade, ela retornou ao Brasil em julho, para remontar a sua versão de "O Lago dos Cisnes" com o elenco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A estréia acontece na próxima quinta-feira, dia 27, na capital carioca.
A bailarina russa se destacou muito jovem no papel de Gisele; mas foi no "Lago" que ela se consagrou, pela grande musicalidade e virtuosismo de seus movimentos dos braços e das costas.
Nos ensaios, Makarova não deixa nenhum detalhe escapar. Cada gesto deve ser executado da forma mais clara possível e com o máximo de intenção expressiva. Ela encarna um ideal de precisão que se reanima compasso a compasso, nos movimentos da dança clássica.
Entre os vários ensaios, Makarova concedeu esta entrevista, por fax, para a Folha. Leia a seguir os melhores trechos.

Folha - Na sua visão, por que o "Lago" é um dos mais populares balés de todos os tempos?
Natalia Makarova -
O mistério desse sucesso situa-se não somente na beleza da música, mas na profunda mensagem poética e no conflito psicológico que caracteriza os heróis, cujo destino prende a atenção das platéias. Odette, rainha dos cisnes, nos interessa imediatamente. A coragem e a autoridade que ela possui se tornam, no balé, a própria dignidade da mulher apaixonada.
Todos os grandes bailarinos desejam dançar o "Lago". Os coreógrafos Petipa e Ivanov estão para os bailarinos como Shakespeare para os atores: sucesso ao dançar as suas criações garante, quase por definição, sucesso em todos os papéis.

Folha - Quais as principais diferenças entre a coreografia de Petipa e Ivanov e a sua?
Makarova -
Petipa é associado ao terceiro ato do balé e principalmente às danças características, que eu continuo seguindo, assim como mantive o segundo ato de Ivanov, uma obra-prima. O que acrescentei foi outra "mise-en-scène", enfatizando a essência dramática do balé.

Folha - Existe um ideal para cada gesto?
Makarova -
É preciso ter uma técnica perfeita, para que os movimentos pareçam fáceis, e não como se seu corpo estivesse em briga com eles. Ao mesmo tempo, deve-se responder à música.

Folha - Você foi uma das grandes intérpretes do papel duplo de Odile/Odette. Qual a diferença entre as duas?
Makarova -
Para mim, o segundo ato é a chave. Ali se revelam o núcleo do drama e a essência do balé -a natureza e o destino de Odette. Por vários anos, dancei uma Odette amedrontada, esvoaçante como uma moça-pássaro, em quem o amor por Siegfried desperta sentimentos humanos. Mais tarde, suavizei os maneirismos do pássaro e me concentrei na natureza humana de Odette. Eu buscava o equilíbrio exato das forças, que acredito afinal ter encontrado. Odette sabe o seu destino -a busca pela completude é marcada pelo trauma do fracasso ou pela morte.
Em Odile, descobri coisas que não possuo: agressividade, braveza e a glória no próprio triunfo. Odile se tornou mais inteligível quando pude ver nela a estrangeira misteriosa, remanescente das mulheres fatais do poeta romântico russo Alexander Blok. Eu a imagino como uma sedutora, vinda não se sabe de onde. Seu passado ambíguo a torna inacessível para todos.

Folha - Que memórias você tem dos famosos 32 "fouettés" [giros no mesmo lugar, sobre uma perna"?
Makarova -
A palavra que me vem como lembrança dos meus primeiros "fouettés" é "desastre". Na minha estréia do "Lago", no teatro Marinsky [em São Petersburgo", fui deslizando para trás, até desaparecer cortina adentro... Com os anos, foram se tornando mais fáceis; mas o senso de perigo nunca desapareceu.

Folha - Como é trabalhar com a companhia do Municipal?
Makarova -
Eles estão trabalhando duro e com uma atitude muito positiva. Os bailarinos respondem bem e são calorosos de coração. E eu, de minha parte, tento obter deles o máximo de expressividade, sem perder a clareza.



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