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HORROR
Edição de "Os Olhos sem Rosto" traz documentário "O Sangue das Bestas"
Clássico de Georges Franju mira o insólito e a poesia
Divulgação
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A atriz Edith Scob em cena do clássico do horror francês "Os Olhos sem Rosto", de Georges Franju, que sai em edição em DVD |
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE DOMINGO
Dos diretores do cinema moderno francês, Georges
Franju (1912-87) é um dos menos
conhecidos ou lembrados. E, no
entanto, é um cineasta de primeira grandeza, dono de uma obra
inventiva e interessante, na qual
se destaca "Os Olhos sem Rosto",
um clássico do cinema de horror.
É este filme de 1959 que sai finalmente em DVD no Brasil, numa
edição mais bem cuidada que as
habituais, com depoimentos do
diretor e ainda seu melhor documentário, "O Sangue das Bestas".
Franju era um respeitável documentarista antes de fazer longas
de ficção. Em "O Sangue das Bestas" (1949), que causou comoção
na época, ele mostra a rotina de
três abatedouros em Paris. As
imagens em preto-e-branco são
cruas e diretas, bem como a narração. Os açougueiros aproximam-se com seus facões, as cabeças dos bichos são decepadas e o
sangue espirra quente, emanando
um vapor sinistro no inverno de
Paris. Entre uma carnificina e outra, Franju exibe a desolação dos
subúrbios parisienses e a vida correndo indiferente lá fora.
O filme não é um libelo vegetarianista, não se perde em discursos ou simbolismos. O que importa é o confronto entre horror e
poesia, que se questionam sucessivamente. Mas não é descabido
pensar que Franju está também
aludindo aos extermínios durante
a Segunda Guerra e que, no fundo, o filme é uma fábula política.
"Eu sou realista pela força das
coisas. O sonho, a poesia, o insólito devem emergir da própria realidade", declarou o diretor. "Os
Olhos sem Rosto" é a demonstração, no plano ficcional, de um cinema que alcança o insólito e a
poesia pela via mais realista.
Todos agem no filme dentro de
parâmetros verossímeis. O sistema que os emoldura, porém, é o
da absoluta loucura. Um médico
deseja reconstituir o rosto de sua
filha, destruído num acidente. Para tanto, precisa da pele do rosto
de outras moças, que ele vai sacrificando uma a uma, à medida que
as experiências dão errado.
A narrativa e as imagens passam livremente da repulsão ao lirismo, do choque à contemplação, do patético à tragédia, elaboradas por um cinema meticuloso,
cruel, inteligente e, sobretudo, visionário, que ganhou uma atualidade suplementar nesta época de
reengenharia do corpo e da supremacia da imagem e da ciência.
Os Olhos sem Rosto/O Sangue
das Bestas
Direção: Georges Franju
Distribuidora: Magnus Opus; R$ 40
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