São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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DVDS

HORROR


Edição de "Os Olhos sem Rosto" traz documentário "O Sangue das Bestas"

Clássico de Georges Franju mira o insólito e a poesia

Divulgação
A atriz Edith Scob em cena do clássico do horror francês "Os Olhos sem Rosto", de Georges Franju, que sai em edição em DVD


ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE DOMINGO

Dos diretores do cinema moderno francês, Georges Franju (1912-87) é um dos menos conhecidos ou lembrados. E, no entanto, é um cineasta de primeira grandeza, dono de uma obra inventiva e interessante, na qual se destaca "Os Olhos sem Rosto", um clássico do cinema de horror.
É este filme de 1959 que sai finalmente em DVD no Brasil, numa edição mais bem cuidada que as habituais, com depoimentos do diretor e ainda seu melhor documentário, "O Sangue das Bestas".
Franju era um respeitável documentarista antes de fazer longas de ficção. Em "O Sangue das Bestas" (1949), que causou comoção na época, ele mostra a rotina de três abatedouros em Paris. As imagens em preto-e-branco são cruas e diretas, bem como a narração. Os açougueiros aproximam-se com seus facões, as cabeças dos bichos são decepadas e o sangue espirra quente, emanando um vapor sinistro no inverno de Paris. Entre uma carnificina e outra, Franju exibe a desolação dos subúrbios parisienses e a vida correndo indiferente lá fora.
O filme não é um libelo vegetarianista, não se perde em discursos ou simbolismos. O que importa é o confronto entre horror e poesia, que se questionam sucessivamente. Mas não é descabido pensar que Franju está também aludindo aos extermínios durante a Segunda Guerra e que, no fundo, o filme é uma fábula política.
"Eu sou realista pela força das coisas. O sonho, a poesia, o insólito devem emergir da própria realidade", declarou o diretor. "Os Olhos sem Rosto" é a demonstração, no plano ficcional, de um cinema que alcança o insólito e a poesia pela via mais realista.
Todos agem no filme dentro de parâmetros verossímeis. O sistema que os emoldura, porém, é o da absoluta loucura. Um médico deseja reconstituir o rosto de sua filha, destruído num acidente. Para tanto, precisa da pele do rosto de outras moças, que ele vai sacrificando uma a uma, à medida que as experiências dão errado.
A narrativa e as imagens passam livremente da repulsão ao lirismo, do choque à contemplação, do patético à tragédia, elaboradas por um cinema meticuloso, cruel, inteligente e, sobretudo, visionário, que ganhou uma atualidade suplementar nesta época de reengenharia do corpo e da supremacia da imagem e da ciência.


Os Olhos sem Rosto/O Sangue das Bestas
    
Direção: Georges Franju
Distribuidora: Magnus Opus; R$ 40



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