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Teatro de exportação
Textos brasileiros ganham espaço nos palcos estrangeiros, dos clichês baianos de "Dona Flor" ao feminismo de Leilah Assumpção
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Max Overseas anda cortejando os rabos de saia da Lapa em
japonês. Já Flor vai usar o italiano para tentar esconder de
Teodoro as escapadelas com o
fantasma de Vadinho. E as quatro irmãs de "A Partilha" logo
voltarão a discutir a herança da
mãe em espanhol -18 anos depois de recorrerem ao castelhano pela primeira vez para tentar resolver o imbróglio.
As cenas com sotaque estrangeiro de "Ópera do Malandro",
de Chico Buarque, e de "Dona
Flor e Seus Dois Maridos", de
Jorge Amado, sugerem que, na
hora de escolher textos brasileiros para montar no exterior,
produtores teatrais geralmente
se guiam pelos estereótipos associados ao país, notadamente
o tripé samba-sensualidade-paraíso tropical.
Mas a notícia da remontagem de "A Partilha", de Miguel
Falabella, na Argentina e uma
lista comprida de encenações
recentes (ou prestes a estrear)
lá fora mostram que, quando se
trata de autores contemporâneos, o olhar "gringo" para a
dramaturgia brasileira é menos
simplista, reducionista.
É difícil precisar dados sobre
a "exportação" de obras nacionais. A Sociedade Brasileira de
Autores Teatrais (Sbat) não
tem levantamentos ano a ano
da negociação de direitos autorais para o exterior -a pedido
da reportagem, informou os
textos vendidos em 2008 e
2009. A Associação Brasileira
de Música e Artes (Abramus)
forneceu uma lista mais extensa, mas com informações incompletas.
Fora da órbita dessas instituições, muitos autores negociam diretamente com estrangeiros os direitos de adaptação
de seus trabalhos.
O que o cruzamento dessas
informações aponta é que Jorge Amado, Nelson Rodrigues,
Clarice Lispector e Maria Clara
Machado são os mais visados
para produções estrangeiras. O
comediógrafo João Bethencourt (1924-2006) e seu "O Dia
em que Raptaram o Papa" também já rodaram o mundo, do
Canadá a Israel.
Remessa
Dentre os contemporâneos,
o destaque é Leilah Assumpção
(de "Fala Baixo Senão Eu Grito" e "Intimidade Indecente"),
dona de uma escrita cênica de
forte cunho feminista.
Os palcos portugueses e argentinos parecem ser os mais
abertos a autores brasileiros, e
há interesse crescente na França, na Alemanha e no Uruguai.
Segundo o supervisor do setor de teatro e dança da Abramus, Guilherme Amaral, as peças são vendidas por valores
que variam de US$ 500 (R$
895) a US$ 5.000 (R$ 9.000)
-mas já houve acordo de 32
mil (R$ 84,7 mil). A negociação
também prevê a remessa ao
Brasil de um percentual da bilheteria (cerca de 10%).
Amaral explica que o grau de
notoriedade do autor e de sucesso da(s) montagem(s) do
texto aqui influem no valor da
venda para o estrangeiro.
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