São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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Teatro de exportação

Textos brasileiros ganham espaço nos palcos estrangeiros, dos clichês baianos de "Dona Flor" ao feminismo de Leilah Assumpção

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Max Overseas anda cortejando os rabos de saia da Lapa em japonês. Já Flor vai usar o italiano para tentar esconder de Teodoro as escapadelas com o fantasma de Vadinho. E as quatro irmãs de "A Partilha" logo voltarão a discutir a herança da mãe em espanhol -18 anos depois de recorrerem ao castelhano pela primeira vez para tentar resolver o imbróglio.
As cenas com sotaque estrangeiro de "Ópera do Malandro", de Chico Buarque, e de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Jorge Amado, sugerem que, na hora de escolher textos brasileiros para montar no exterior, produtores teatrais geralmente se guiam pelos estereótipos associados ao país, notadamente o tripé samba-sensualidade-paraíso tropical.
Mas a notícia da remontagem de "A Partilha", de Miguel Falabella, na Argentina e uma lista comprida de encenações recentes (ou prestes a estrear) lá fora mostram que, quando se trata de autores contemporâneos, o olhar "gringo" para a dramaturgia brasileira é menos simplista, reducionista.
É difícil precisar dados sobre a "exportação" de obras nacionais. A Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat) não tem levantamentos ano a ano da negociação de direitos autorais para o exterior -a pedido da reportagem, informou os textos vendidos em 2008 e 2009. A Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus) forneceu uma lista mais extensa, mas com informações incompletas.
Fora da órbita dessas instituições, muitos autores negociam diretamente com estrangeiros os direitos de adaptação de seus trabalhos.
O que o cruzamento dessas informações aponta é que Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector e Maria Clara Machado são os mais visados para produções estrangeiras. O comediógrafo João Bethencourt (1924-2006) e seu "O Dia em que Raptaram o Papa" também já rodaram o mundo, do Canadá a Israel.

Remessa
Dentre os contemporâneos, o destaque é Leilah Assumpção (de "Fala Baixo Senão Eu Grito" e "Intimidade Indecente"), dona de uma escrita cênica de forte cunho feminista.
Os palcos portugueses e argentinos parecem ser os mais abertos a autores brasileiros, e há interesse crescente na França, na Alemanha e no Uruguai.
Segundo o supervisor do setor de teatro e dança da Abramus, Guilherme Amaral, as peças são vendidas por valores que variam de US$ 500 (R$ 895) a US$ 5.000 (R$ 9.000) -mas já houve acordo de 32 mil (R$ 84,7 mil). A negociação também prevê a remessa ao Brasil de um percentual da bilheteria (cerca de 10%).
Amaral explica que o grau de notoriedade do autor e de sucesso da(s) montagem(s) do texto aqui influem no valor da venda para o estrangeiro.


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