São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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Simpatizantes ajudam a emplacar peças lá fora

Produtores de peças tentam fugir de montagens "carnavalizadas" e exóticas

"Intimidade Indecente", de Leilah Assumpção, teve boa repercussão na Dinamarca; "Dona Flor..." ganha versão na cena italiana em 2010


Divulgação
A atriz Caterina Murino, a Dona Flor italiana

DA REPORTAGEM LOCAL

Para chegar às plateias estrangeiras, os autores brasileiros ainda dependem muito da boa vontade e do esforço de compatriotas radicados no exterior ou de "gringos" entusiastas da cultura tupiniquim, que promovem ciclos de leitura, editam coleções de dramaturgia ou simplesmente apresentam os textos a atores, diretores e produtores locais.
É o caso do gerente de marketing Augusto Monteiro, que vive na Dinamarca há oito anos e traduziu recentemente "Intimidade Indecente", de Leilah Assumpção, flagrante da ruptura de um casal e do novo elo que se estabelece entre os dois nas décadas seguintes. "No início, as pessoas que procurei acharam que a história era muito sentimental, emocional para uma plateia nórdica", lembra.
Depois de convencer a diretora artística do segundo maior teatro do país a bancar a empreitada, Monteiro viu a peça estrear com boas críticas e casa cheia em abril. Agora, planeja suas próximas importações: "A Dona da História", de João Falcão, e "Loba de Ray-Ban", de Renato Borghi.
A alemã Angela Meermann é outra porta-bandeira do teatro brasileiro. Uma das suas primeiras lembranças de teatro é "O Pagador de Promessas", que viu quando a família morava aqui. Já traduziu obras de Assumpção e Marcos Caruso e promoveu por lá leituras de Nelson Rodrigues e Plínio Marcos. "Eventos assim ajudam a corrigir o clichê que o público médio nutre sobre o Brasil: mulatas peladas, latinos falando aos berros, erotismo e nada de dedicação política e estética. Mas isso está mudando", acredita ela.

Carnavalização
Fugir de clichês ou, se isso for impossível, encená-los da maneira menos carnavalizada possível, é preocupação comum dos produtores ouvidos pela Folha.
"Nosso projeto exclui da narrativa qualquer folclore brasileiro ou trivialização deste", diz Luna Manca, que prepara para o ano que vem uma montagem italiana de "Dona Flor e Seus Dois Maridos".
Para mostrar conhecimento de causa, ela conta que já produziu uma performance inspirada em Clarice Lispector, conheceu Caetano Veloso em pessoa na Europa e que sabe que o Brasil "não é só samba e sincretismo".
Michihiko Ikeda, que está à frente de recém-estreada versão japonesa de "Ópera do Malandro" em Tóquio, reconhece que os atores tiveram dificuldades em "interpretar pessoas brasileiras dos anos 40". Para ajudar a plateia a engolir a coisa, contratou o grupo de samba Bárbaros. O resultado, segundo relatos, é um permanente clima festivo e leve -não exatamente o que Chico Buarque imaginava...
(LN)


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