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Simpatizantes ajudam a emplacar peças lá fora
Produtores de peças tentam fugir de montagens "carnavalizadas" e exóticas
"Intimidade Indecente", de
Leilah Assumpção, teve boa
repercussão na Dinamarca;
"Dona Flor..." ganha versão
na cena italiana em 2010
Divulgação
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A atriz Caterina Murino, a Dona Flor italiana
DA REPORTAGEM LOCAL
Para chegar às plateias estrangeiras, os autores brasileiros ainda dependem muito da
boa vontade e do esforço de
compatriotas radicados no exterior ou de "gringos" entusiastas da cultura tupiniquim, que
promovem ciclos de leitura,
editam coleções de dramaturgia ou simplesmente apresentam os textos a atores, diretores
e produtores locais.
É o caso do gerente de marketing Augusto Monteiro, que
vive na Dinamarca há oito anos
e traduziu recentemente "Intimidade Indecente", de Leilah
Assumpção, flagrante da ruptura de um casal e do novo elo que
se estabelece entre os dois nas
décadas seguintes. "No início,
as pessoas que procurei acharam que a história era muito
sentimental, emocional para
uma plateia nórdica", lembra.
Depois de convencer a diretora artística do segundo maior
teatro do país a bancar a empreitada, Monteiro viu a peça
estrear com boas críticas e casa
cheia em abril. Agora, planeja
suas próximas importações: "A
Dona da História", de João Falcão, e "Loba de Ray-Ban", de
Renato Borghi.
A alemã Angela Meermann é
outra porta-bandeira do teatro
brasileiro. Uma das suas primeiras lembranças de teatro é
"O Pagador de Promessas", que
viu quando a família morava
aqui. Já traduziu obras de Assumpção e Marcos Caruso e
promoveu por lá leituras de
Nelson Rodrigues e Plínio Marcos. "Eventos assim ajudam a
corrigir o clichê que o público
médio nutre sobre o Brasil: mulatas peladas, latinos falando
aos berros, erotismo e nada de
dedicação política e estética.
Mas isso está mudando", acredita ela.
Carnavalização
Fugir de clichês ou, se isso for
impossível, encená-los da maneira menos carnavalizada
possível, é preocupação comum dos produtores ouvidos
pela Folha.
"Nosso projeto exclui da narrativa qualquer folclore brasileiro ou trivialização deste", diz
Luna Manca, que prepara para
o ano que vem uma montagem
italiana de "Dona Flor e Seus
Dois Maridos".
Para mostrar conhecimento
de causa, ela conta que já produziu uma performance inspirada em Clarice Lispector, conheceu Caetano Veloso em
pessoa na Europa e que sabe
que o Brasil "não é só samba e
sincretismo".
Michihiko Ikeda, que está à
frente de recém-estreada versão japonesa de "Ópera do Malandro" em Tóquio, reconhece
que os atores tiveram dificuldades em "interpretar pessoas
brasileiras dos anos 40". Para
ajudar a plateia a engolir a coisa, contratou o grupo de samba
Bárbaros. O resultado, segundo
relatos, é um permanente clima festivo e leve -não exatamente o que Chico Buarque
imaginava...
(LN)
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