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Crítica/ "Vila 21"
Argentino começa promissor, mas tromba com cacoetes
DO CRÍTICO DA FOLHA
Uma daquelas coincidências reveladoras
ambienta a ação do filme argentino "Vila 21" em
2002, ano de lançamento de
"Cidade de Deus". As relações
entre um e outro são diretas, a
começar pela ideia de obter espaço no mercado internacional
com um registro "de dentro" da
infância e juventude em favela
na região metropolitana de
Buenos Aires.
Impregnada pela importância do futebol no país, a história
começa em 31 de maio de 2002,
quando teve início a Copa do
Mundo do Japão e da Coreia do
Sul, com a partida entre França
e Senegal. Três amigos (Julio
Zarza, Johnatan Rodriguez e
Fernando Roa) tentam assistir
à cerimônia de abertura pela
televisão de uma lanchonete.
Forçados a se retirar, eles
têm cerca de 48 horas para encontrar um modo de ver -em
uma "TV em cores", como exigem- a estreia da seleção argentina, uma das favoritas para
a conquista do torneio, contra a
Nigéria, pelo "grupo da morte"
da Copa, que incluía também
Inglaterra e Suécia.
Para complicar, o fuso horário fará com que o jogo seja
transmitido no final da madrugada. Dificuldade exposta, o diretor e roteirista Ezio Massa
passa a acompanhar o trio em
sua movimentação pela cidade
durante esses dois dias, até o
clímax em que cada um se vira
por conta própria para torcer
pela seleção.
Se a referência é "Cidade de
Deus", o drama social vai superar o humor -que, em circunstâncias semelhantes, foi explorado por "A Copa" (1999), de
Khyentse Norbu, e "A Grande
Final" (2006), de Gerardo Olivares. E Massa o faz com ênfase
em diversos cacoetes estéticos,
como montagem entrecortada
e câmera na mão.
Apesar da vitória na estreia, a
Argentina foi eliminada da Copa de 2002 ainda na primeira
fase, em campanha frustrante
depois de início promissor. O
mesmo se aplica a "Vila 21", que
gera mais interesse pelo registro documental da miséria e
falta de perspectivas do que como ficção capaz de satisfazer as
expectativas criadas pelo ponto
de partida.
(SÉRGIO RIZZO)
VILA 21
Direção: Ezio Massa
Com: Julio Zarza, Fernando Roa e Johnatan Rodriguez
Produção: Argentina, 2008
Onde: no HSBC Belas Artes
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
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