São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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26ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

"O FILHO"

Espectador mergulha no cinema físico

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN

Depois de três filmes devastadores, até que enfim o espectador brasileiro ganha a oportunidade de conhecer o cinema dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. "O Filho", que estréia hoje na Mostra, tem lançamento em circuito já confirmado.
A fama da dupla começou em 1996, com "A Promessa". Em 1999, "Rosetta" abocanhou, em Cannes, a Palma de Ouro e o prêmio de melhor atriz.
As recompensas são justas. Mas é bom alertar que o cinema radical dos Dardenne é capaz de afugentar mais de um espectador durante a projeção.
Em "O Filho", eles narram o processo de mútuo conhecimento entre um pai, cujo bebê foi assassinado, e um adolescente de 16 anos, que cinco anos antes cometera o crime. Nada fácil, portanto.
O impacto, contudo, resulta menos da situação que do modo de encená-la. Uma câmera aflita, na mão, segue os personagens tão de perto que submete o espectador a uma imersão bastante incômoda. Sentimos a respiração, a raiva, o medo e quase o amargo na boca dos personagens.
Essa presença intensa dos corpos, por sua vez, é o que sustenta a narrativa, que recusa o uso tradicional da psicologização. Há certamente o apoio dos diálogos, só que os Dardenne priorizam a situação como um campo de forças, que o espectador entende (ou melhor, sente) a partir da movimentação dos corpos dos atores.
É inevitável que, pela situação, haja um crescendo em direção à violência. A inteligência dos Dardenne, porém, impede colocar o espectador como mero voyeur.
No lugar de desejar a vingança em nome do sangue, eles nos conduzem para a recuperação do significado moral das ações, justamente quando vítima e criminoso tocam o limite da violência. A esse pai ferido pela ausência do filho afilia-se um garoto desorientado pela ausência de um pai. Nessa soma, os Dardenne conseguem discutir, em profundidade, que significado ainda possuem palavras como paternidade e filiação.

O Filho
Le Fils


    
Direção: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Produção: Bélgica, 2002
Idioma: francês (legendas em português)
Quando: hoje, às 19h10, no Unibanco Arteplex 1 (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/ 11/3472-2365); amanhã, às 23h35, na Sala UOL de Cinema (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 0/xx/11/5096-0585); dia 29, às 18h, no Espaço Unibanco 1 (r. Augusta, 1.475, tel. 0/xx/11/288-6780)




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