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DISCO/CRÍTICA
Bala de canhão, bolinha de sabão
DA REPORTAGEM LOCAL
Sendo uma coletânea de canções escritas em momentos
variados, "Imprensa Cantada
2003" resulta num trabalho fragmentário, descontínuo como, por
exemplo, um jornal.
Agindo como cronista musical
de assuntos vários (até Fórmula 1
vira tema, numa das faixas mais
inspiradas), Tom Zé quer bulir
com a imprensa, com os jogos de
espelhos entre a arte e sua reportagem. Termina adotando a abordagem habitual, do artista que se
sente tolhido pela crítica, pela seleção de seus depoimentos etc.
Isso resulta no aparente paradoxo de "censura" virar tema central
do disco, em tempo de suposta
ausência de censura oficial no
Brasil. Falando da parceria da
"bala de canhão" (a censura) com
a "bolinha de sabão" (a arte), diz
"Sem Saia, sem Cera, Censura":
"A censura, ela morre de amor
pela arte/ mas é a enxada acarinhando a fada".
Inverte-se o espelho e se chega
ao oposto, que Tom Zé transmite
logo nas primeiras linhas de seu
livro: "Os escritores não sei o que
pensam, mas em música liberdade é um inferno. Prefiro o cerceamento completo, que não deixa
uma polegada para respirar".
É, pois, em linguagem de brando açoite que o disco se desenvolve, na rejeição ao cimento do rock
("Desenrock-Se"), na atualização
precisa da declaração de amor à
cidade feia e desumana ("São São
Paulo", de 68), na zombaria amorosa ao tropicalismo no arranjo
loquaz de Max de Castro para
"Companheiro Bush".
Comunhão tropicalista entre a
faca e a ferida, "Imprensa Cantada 2003" segue nesse prumo de
música e texto, sempre expondo a
carne crua do turbilhão Tom Zé.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Imprensa Cantada 2003
Artista: Tom Zé
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 26, em média
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