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Cobain
BILHETES SUICIDAS
"Não leia meu diário quando eu não
estiver. OK, estou indo trabalhar agora. Quando você acordar nesta manhã,
por favor leia meu diário. Olhe minhas
coisas e me entenda."
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Kurt Cobain (1967-94) não
consegue se livrar da cultura
pop, mesmo oito anos depois
de ter dado um tiro na cabeça
por causa dela. Mártir da indústria fonográfica, voz de
uma geração, último grande
astro do rock e blablablá, o
atormentado ex-líder do grupo Nirvana é novamente assunto por todo lugar pop que
se olhe. Isso graças aos (enfim)
recentes lançamentos de um
livro definitivo sobre o roqueiro e do primeiro disco, pós-suicídio, de canções originais
de sua seminal banda.
A epígrafe acima abre "Journals", os diários de Cobain,
que foi lançado há duas semanas nos EUA e na Europa. O
polêmico livro traz páginas
dos cadernos pessoais em que
o líder do Nirvana mostra, de
punho próprio e em anotações
amargas, espertas, bobas, alegres, os indícios que o levaram
a fazer o que fez numa manhã
de abril de 94, em Seattle.
"Journals" (ed. Riverhead,
288 págs.) revela o mundo segundo Cobain, através de desenhos, esboços das famosas
letras, listas de bandas prediletas, cartas não enviadas, descrição da banda para conseguir empréstimo para gravar o
primeiro disco, críticas à indústria, reflexões sobre a fama.
"Journals" pegou muito mal
em boa parte da camada roqueira dos EUA, especialmente entre seus ex-companheiros
de banda, Dave Grohl e Krist
Novoselic. "A publicação é absurda e ofensiva. Não é certo
abrir assim anotações pessoais
de alguém que nem tem como
se manifestar se é contra ou a
favor da publicação", disse
Novoselic à Folha, por e-mail.
"Journals" foi achado na casa de Cobain, nos dias que sucederam sua morte, por um
então membro do Hole, banda
da viúva do roqueiro, Courtney Love. O livro teve edição
dirigida. As páginas dos diários de Cobain foram selecionadas por Love, que extraiu
partes em que o líder do Nirvana falava pesadamente de sua
relação (e de Love também)
com a heroína e do casamento.
Love, dona do espólio de
Kurt Cobain, vendeu os direitos de reprodução dos diários
de Cobain por US$ 4 milhões
(mais de R$ 14 milhões).
Não há previsão de lançamento de "Journals" no Brasil.
É incabível imitar, em português, a escrita de Cobain. E o livro teria de ter o dobro de seu
número de páginas original
para comportar sua tradução.
É possível encomendá-lo em
São Paulo, na livraria Cultura
(tel. 0/xx/11/3285-4033). A importação da edição inglesa pela
livraria sai por R$ 125,80.
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