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Guerra de notícias
Morte de Daniel Pearl, relembrada em livros, constata que jornalistas viraram alvo
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em janeiro de 2002, o jornalista
norte-americano Daniel Pearl foi
morto por radicais islâmicos no
Paquistão. Fazia uma reportagem
sobre extremistas para o diário
econômico "The Wall Street Journal". Teve a garganta cortada em
frente a uma câmera, filme que
depois rodou o mundo via web.
Nas últimas semanas, chegaram
às livrarias brasileiras dois livros
que tratam do assunto. "Quem
Matou Daniel Pearl?", de Bernard-Henri Lévy, em que o filósofo francês discute as relações dos
EUA com o Paquistão, e "Cidadão
do Mundo", de Helene Cooper,
jornalista amiga de Pearl que faz
uma compilação de seus textos.
Sua morte causou comoção e
tocou o mundo, e os dois livros
tentam explicá-la (no primeiro
caso) ou relembrá-la (no segundo), mas fogem do principal: todos os anos, dezenas de jornalistas são mortos em conflitos ou em
ação em zonas de perigo, como
foi o caso de Daniel Pearl.
Nos 43 dias de duração oficial
da Guerra do Iraque, 16 jornalistas morreram ou desapareceram.
Para efeito de comparação, na
Guerra do Vietnã (1964-75), 50
profissionais foram mortos. Proporcionalmente, morrem muito
mais repórteres hoje em dia.
E devem morrer mais ainda,
muito por culpa da própria imprensa. Da imprensa norte-americana, que influencia o resto do
mundo e faz com que a categoria
como um todo leve a fama. É que
cada vez menos as partes envolvidas nos conflitos enxergam o repórter como uma força imparcial.
Tudo começou na Guerra do
Vietnã, um marco nesse tipo de
cobertura. Os correspondentes
gozavam então de uma liberdade
sem precedentes, por diversos
motivos, entre eles o fato dos EUA
serem então um país "convidado"
pelo Vietnã do Sul, que tomou para si a tarefa de organizar e vigiar
os jornalistas estrangeiros.
Foi muito por influência das
imagens que os norte-americanos
assistiam em suas casas nos telejornais das 18h que a sociedade civil se mobilizou e exigiu que o país
se retirasse de um conflito que
não era seu e no qual sofria baixas
terríveis e cometia atrocidades.
O Pentágono "aprendeu a lição". Desde então, em todos os
conflitos nos quais os EUA se envolveram (e foram dezenas), intensificaram o controle sobre a
imprensa norte-americana -que
passou a fazer um trabalho mais
comprometido, principalmente
as emissoras de televisão.
Com o passar do tempo, os povos dos países agredidos ou agressores que se envolveram em pinimbas com os EUA passaram a
identificar como defensores dos
interesses do governo norte-americano, pela ordem: os jornalistas
televisivos norte-americanos; os
jornalistas norte-americanos; todos os jornalistas ocidentais.
De observadores, jornalistas
passaram a inimigos. Nos Bálcãs,
por exemplo, um repórter morto
valia US$ 500. A consequência é
que o assassinato de Pearl pode
ser simbólico, mas não foi o primeiro nem será o último, infelizmente.
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