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Paris exibe a relação de foto e impressos
A página impressa é o tema da 14ª edição do Mês da Fotografia, que reúne 60 exposições na capital francesa neste mês
Série de fotomontagens soviéticas, meio século de fotografias premiadas e
coletânea da revista francesa "VU" estão entre os destaques
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Paris se tornou, neste mês,
uma das capitais européias da
fotografia. Cerca de 60 exposições em galerias, museus e centros culturais, são apresentadas
na capital francesa, na 14ª edição do Mês da Fotografia. O
evento, realizado a cada dois
anos, é uma das principais manifestações do gênero na Europa. Na era do digital e do virtual,
o tema desta edição é a página
impressa, que marcou a história da fotografia no século 20.
O francês Gustave Flaubert,
considerado o precursor do romance moderno com "Madame Bovary", recusava-se categoricamente a ter suas obras
ilustradas. "Nunca, enquanto
estiver vivo, vou publicar meus
romances com ilustrações, porque a mais bela descrição literária é devorada pela rigidez do
desenho", escreveu numa das
cartas que enviou a seu editor
entre 1857 e 1872. Hoje, mais de
um século mais tarde, a simples
oposição entre artes literárias e
artes visuais cede lugar à força e
expressividade da imagem.
Ao escolher como tema as relações entre a fotografia e a página impressa, o evento retraça
a evolução dos suportes de publicação, questiona a inovação
no fotojornalismo, revela o diálogo entre texto e imagem e
mostra que os livros, revistas e
catálogos, além de simples
meios de difusão, podem ser espaços de reflexão e criação.
"Entre 1920 e 1960, o livro e a
imprensa foram os principais
meios de difusão da fotografia.
No momento em que telas de
computadores e muros de museus viram suportes de difusão
da imagem, é curioso revisitar
esse período fecundo da história", diz Jean-Luc Monterosso,
curador-geral do Festival.
Um dos destaques é a exposição "Odisséia de um Ícone",
que revela o processo de fabricação de três fotos do húngaro
André Kertész: "Étude d'une
Fourchette" (1928), "Distorsion #6" (1933) e "Chez Mondrian" (1926), obras-primas da
história da fotografia.
Questionando o uso da imagens como fonte de informação
ou usurpação, o festival traz
uma mostra inédita na França
com 140 fotomontagens soviéticas, realizadas entre a Revolução de 1917 e a morte de Stalin, com obras de artistas como
Rodtchenko e Maïakoviski.
Várias exposições revelam o
momento em que a fotografia e
a imprensa inventaram uma
linguagem, como a coletânea
publicada pela revista francesa
"VU", que, entre 1928 e 1940,
revolucionou o uso massivo da
fotografia com uma linha editorial ousada para a época.
O fotojornalismo também é
destaque com a exposição "As
Coisas como Elas São", que exibe meio século de fotos selecionadas pelo World Press Photo,
prêmio que consagra anualmente as melhores reportagens fotográficas do mundo.
Entre os fotógrafos da nova
geração, o coletivo Tendance
Floue, um dos mais ativos na
França, apresenta a mostra
"Somos Nós?". A exposição
reúne imagens de lugares marcados pela história, universos
misteriosos e espaços sem vida
em que o homem é o ator principal. Há expectativa ainda para a mostra do americano Ryan
McGinley, com fotos feiras durante uma viagem entre amigos no verão de 2005 nos EUA.
Por dois meses, McGinley fotografou seus colegas nus, numa
celebração à liberdade, com as
paisagens do interior do país
como pano de fundo.
Retratos
O Mês da Fotografia reserva
também um espaço privilegiado aos retratos, como o impressionante trabalho da holandesa
Désirée Dolron em três séries
de imagens, entre elas "Gaze",
retratos feitos debaixo d'água,
e "Xteriors", realizada entre
2001 e 2005 e inspirada em
técnicas da pintura clássica.
O festival exibe ainda o trabalho de um dos principais coloristas da atualidade, o americano Joël Meyerowitz, além de
fotos publicitárias e de moda e
uma exposição dedicada aos
chamados fotógrafos humanistas que, como Robert Doisneau, fotografaram a Paris popular dos anos 30 aos anos 60.
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