São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Paris exibe a relação de foto e impressos

A página impressa é o tema da 14ª edição do Mês da Fotografia, que reúne 60 exposições na capital francesa neste mês

Série de fotomontagens soviéticas, meio século de fotografias premiadas e coletânea da revista francesa "VU" estão entre os destaques


ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Paris se tornou, neste mês, uma das capitais européias da fotografia. Cerca de 60 exposições em galerias, museus e centros culturais, são apresentadas na capital francesa, na 14ª edição do Mês da Fotografia. O evento, realizado a cada dois anos, é uma das principais manifestações do gênero na Europa. Na era do digital e do virtual, o tema desta edição é a página impressa, que marcou a história da fotografia no século 20.
O francês Gustave Flaubert, considerado o precursor do romance moderno com "Madame Bovary", recusava-se categoricamente a ter suas obras ilustradas. "Nunca, enquanto estiver vivo, vou publicar meus romances com ilustrações, porque a mais bela descrição literária é devorada pela rigidez do desenho", escreveu numa das cartas que enviou a seu editor entre 1857 e 1872. Hoje, mais de um século mais tarde, a simples oposição entre artes literárias e artes visuais cede lugar à força e expressividade da imagem.
Ao escolher como tema as relações entre a fotografia e a página impressa, o evento retraça a evolução dos suportes de publicação, questiona a inovação no fotojornalismo, revela o diálogo entre texto e imagem e mostra que os livros, revistas e catálogos, além de simples meios de difusão, podem ser espaços de reflexão e criação.
"Entre 1920 e 1960, o livro e a imprensa foram os principais meios de difusão da fotografia. No momento em que telas de computadores e muros de museus viram suportes de difusão da imagem, é curioso revisitar esse período fecundo da história", diz Jean-Luc Monterosso, curador-geral do Festival.
Um dos destaques é a exposição "Odisséia de um Ícone", que revela o processo de fabricação de três fotos do húngaro André Kertész: "Étude d'une Fourchette" (1928), "Distorsion #6" (1933) e "Chez Mondrian" (1926), obras-primas da história da fotografia.
Questionando o uso da imagens como fonte de informação ou usurpação, o festival traz uma mostra inédita na França com 140 fotomontagens soviéticas, realizadas entre a Revolução de 1917 e a morte de Stalin, com obras de artistas como Rodtchenko e Maïakoviski.
Várias exposições revelam o momento em que a fotografia e a imprensa inventaram uma linguagem, como a coletânea publicada pela revista francesa "VU", que, entre 1928 e 1940, revolucionou o uso massivo da fotografia com uma linha editorial ousada para a época.
O fotojornalismo também é destaque com a exposição "As Coisas como Elas São", que exibe meio século de fotos selecionadas pelo World Press Photo, prêmio que consagra anualmente as melhores reportagens fotográficas do mundo.
Entre os fotógrafos da nova geração, o coletivo Tendance Floue, um dos mais ativos na França, apresenta a mostra "Somos Nós?". A exposição reúne imagens de lugares marcados pela história, universos misteriosos e espaços sem vida em que o homem é o ator principal. Há expectativa ainda para a mostra do americano Ryan McGinley, com fotos feiras durante uma viagem entre amigos no verão de 2005 nos EUA. Por dois meses, McGinley fotografou seus colegas nus, numa celebração à liberdade, com as paisagens do interior do país como pano de fundo.

Retratos
O Mês da Fotografia reserva também um espaço privilegiado aos retratos, como o impressionante trabalho da holandesa Désirée Dolron em três séries de imagens, entre elas "Gaze", retratos feitos debaixo d'água, e "Xteriors", realizada entre 2001 e 2005 e inspirada em técnicas da pintura clássica.
O festival exibe ainda o trabalho de um dos principais coloristas da atualidade, o americano Joël Meyerowitz, além de fotos publicitárias e de moda e uma exposição dedicada aos chamados fotógrafos humanistas que, como Robert Doisneau, fotografaram a Paris popular dos anos 30 aos anos 60.


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