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Réplica
Crítica frágil à mostra "Paralela 2006" encobre malabarismos
VITÓRIA DANIELA BOUSSO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Num ato de malabarismo, o estranho texto
"Recorte frágil encobre contradições" (Ilustrada,
18 de novembro) elogia a "Paralela 2004" por seu recorte
nacional e considera essa característica, estendida à edição
2006, uma forma de provincianismo. Reivindica um caráter
original para a arte brasileira e
a preocupação de se encontrar
nela uma categoria nacional.
Escorrega na falta de preparo
conceitual e de compreensão
teórica: o problema da originalidade na arte é um mito das
vanguardas modernistas.
A questão do nacional, no
que se refere à arte brasileira,
foi desencadeada na Semana
de Arte Moderna de 1922 para
liberar a cultura brasileira do
cenário colonial e sintonizar o
Brasil com as tendências internacionais. Mas esta é uma
questão superada.
Desde o início dos anos 80,
com a globalização, o planeta se
viu frente à diluição de fronteiras: as viagens dos artistas brasileiros se intensificaram e eles
se aglutinaram ao redor de um
mercado de arte mais profissionalizado, com a ação de galeristas como Marcantonio Vilaça, que, com alguns curadores, colocou definitivamente a
arte brasileira no mapa do
mundo.
A edição 2006 da "Paralela"
considerou essas evidências.
Na contramão do provincianismo, trabalhou em uma instância de "descuratorialização" e
deixou o artista livre para escolha e definição do formato mais
adequado da obra no espaço
expositivo, descartando-se aí
qualquer resquício de "sensacionalismo" por parte da curadoria. A "Paralela" aposta na
diversidade e não tem tema.
Quanto à produção artística
brasileira, ela é internacional
em seus procedimentos éticos,
estéticos e se afirma com poéticas contemporâneas.
Sem as estratégias de difusão
que vêm sendo colocadas em
circulação pelo mercado de arte, seria possível imaginarmos
o circuito da arte da forma como hoje este se apresenta? Não
seria pura ingenuidade supormos que nas bienais e nas grandes mostras que acontecem
mundo afora não ocorrem vendas, negociações e não existem
interesses vinculados ao marketing?
Nos anos 70, Mário Pedrosa
afirmou que a Bienal não escapou das "especulações comerciais ao redor de prêmios, combinações pessoais...". E concluiu que "as leis do mercado
capitalista não perdoam. A arte, uma vez que assume valor
de câmbio, torna-se mercadoria como qualquer presunto".
Se no tempo de Pedrosa o
mercado de arte era a grande
ameaça, hoje o foco se deslocou. Não é o mercado de arte
que nos ameaça, mas é a evanescência dos poderes públicos
e a fragilidade das nossas instituições. De Pedrosa, resguarda-se a consciência crítica e a
preservação do ato criador em
busca de emancipação.
Mercado e instituições
O mercado de arte é hoje um
dos braços de sustentação do
sistema das artes, e as galerias
tomaram uma iniciativa que
contempla a reunião de nomes
significativos da arte contemporânea brasileira. Essa ação
vem crescendo gradativamente, sem ser seguida pelas instituições culturais.
Onde, no Brasil, o público pode apreciar uma mostra como
essa, que reúne num mesmo local as obras dos maiores artistas brasileiros?
Quem pode negar a importância desses artistas e a qualidade de suas obras?
Qual o problema das galerias
terem doado obras para o acervo da municipalidade em troca
do espaço do Prodam para a
realização da "Paralela 2006"?
A profissionalização da arte
pela emergência de um sistema
marchand-crítico e institucional fortalecidos, inseridos em
uma economia, gera novas relações de produção e é uma das
formas de assegurarmos o crescimento da arte em bases dignas para artistas e demais integrantes do circuito da arte contemporânea.
Mas falta um ingrediente para que o sistema da arte se complete. Falta uma mídia sintonizada com a arte contemporânea, isenta de interesses de grupos que visam denegrir a imagem dos que pensam e agem diferentemente deles. Falta uma
mídia que identifique o trabalho sério e que possa abrir espaço para o diálogo respeitoso.
VITÓRIA DANIELA BOUSSO é diretora do Paço
das Artes e foi curadora da "Paralela 2006"
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