São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Livros

Morais biografa saga de marechal

"Montenegro" revela aventuras com "sabor de Indiana Jones" do criador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)

Herói da Revolução de 30, Casimiro Montenegro Filho também era um "playboy", que se casou apenas aos 50 anos, com uma sobrinha


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Próximo de tirar seu "brevê" de "piloto de turismo", que lhe permite voar com ultraleves com cabine, o jornalista e escritor Fernando Morais (autor de "Olga" e "Chatô", entre outros) deu asas à sua atração por aventuras na biografia do marechal Casimiro Montenegro Filho (1904-2000), um herói "de carne e osso", segundo o autor.
"Montenegro", lançado pela editora Planeta, tem "sabor de Indiana Jones", brinca Morais. O livro narra a trajetória do militar, cujos feitos aventureiros incluem um bombardeio aéreo, em Minas Gerais, de quartéis leais ao presidente Washington Luís, durante a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. A pilotagem do primeiro vôo do Correio Aéreo Nacional. E a criação, em 1945, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, centro de excelência inspirado no Massachussets Institut of Technology (MIT).

Obstáculos
Morais ressalta que o ITA é a maior aventura de Montenegro. O marechal, que já nonagenário dizia que "qualquer tropeiro" teria feito as peripécias que ele realizou durante o período revolucionário, enfrentou, para criar e manter o ITA, o "paredão do ceticismo, da burocracia e da ciumeira".
"Obstáculos que ele superava de modo singular. Quando o presidente Dutra vetou o nome de Oscar Niemeyer para projetar o ITA, porque ele era comunista, Montenegro superou silenciosamente o que poderia virar um escândalo. Chamou o arquiteto e disse: "mantenha seu projeto e arranje um amigo para assinar as plantas'".
Curiosamente, um dos maiores "vilões" das aventuras de Montenegro foi um amigo seu, o brigadeiro Eduardo Gomes. Companheiro de revoluções, amigo do marechal desde 1924, quando recebeu dele instrução de vôo, o patrono da Força Aérea Brasileira discordava das idéias que Montenegro tinha para o ITA. O brigadeiro achava que a instituição deveria ser "uma grande oficina mecânica" para atender à FAB. Montenegro queria que o ITA fosse um centro de produção de conhecimento para toda a sociedade.
"Uma guerra surda foi separando aos poucos os dois amigos, até que, após o golpe de 1964, Gomes assumiu o Ministério da Aeronáutica e degolou Montenegro da direção do ITA. O brigadeiro não acreditava que o futuro da aviação estava nos motores a jato. E quando o reitor do ITA, Charly Künzi, foi ao ministro dizer que os alunos do ITA eram contratados por grandes corporações americanas e que, portanto, não eram comunistas, Gomes esbravejou: "Bob Kennedy é comunista". Não fosse Montenegro, o ITA de hoje não existiria."

Playboy
O sabor de aventura da trajetória de Montenegro vai além da vida pública. Playboy, Montenegro casou-se apenas aos 50 anos. Com uma sobrinha.
"Ele era um homem muito bonito, herói de guerra, alto oficial da FAB, piloto de avião, e fazia enorme sucesso com as mulheres. Em Copacabana, era possível vê-lo desfilando em seus carrões conversíveis repletos de moças. Tanto fez que aos 51 anos acabou se casando com Maria Antonietta, filha caçula do irmão, trinta anos mais nova, e que ele carregara no colo quando bebê. Não é exatamente o que imaginamos quando se fala em "vida de militar'".
A propósito da vida militar, Morais diz que chegou a ter preconceito, achar que seria linear a história de um marechal. Acabou se surpreendendo e hoje fala do orgulho por alguém que sonhava com um Brasil potência aeronáutica mundial.
"Basta olhar a Embraer, nascida de uma costela do ITA. Me parece saudável a coincidência de que o livro aparece quando o novo governo se divide entre desenvolvimentistas e monetaristas. Para os primeiros, "Montenegro" é uma cartilha."


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