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Livros
Morais biografa saga de marechal
"Montenegro" revela aventuras com "sabor de Indiana Jones" do criador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
Herói da Revolução de 30, Casimiro Montenegro Filho também era um "playboy", que se casou apenas aos 50 anos, com uma sobrinha
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Próximo de tirar seu "brevê"
de "piloto de turismo", que lhe
permite voar com ultraleves
com cabine, o jornalista e escritor Fernando Morais (autor de
"Olga" e "Chatô", entre outros)
deu asas à sua atração por aventuras na biografia do marechal
Casimiro Montenegro Filho
(1904-2000), um herói "de carne e osso", segundo o autor.
"Montenegro", lançado pela
editora Planeta, tem "sabor de
Indiana Jones", brinca Morais.
O livro narra a trajetória do militar, cujos feitos aventureiros
incluem um bombardeio aéreo,
em Minas Gerais, de quartéis
leais ao presidente Washington
Luís, durante a Revolução de
1930, que levou Getúlio Vargas
ao poder. A pilotagem do primeiro vôo do Correio Aéreo
Nacional. E a criação, em 1945,
do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, centro de excelência
inspirado no Massachussets
Institut of Technology (MIT).
Obstáculos
Morais ressalta que o ITA é a
maior aventura de Montenegro. O marechal, que já nonagenário dizia que "qualquer tropeiro" teria feito as peripécias
que ele realizou durante o período revolucionário, enfrentou, para criar e manter o ITA, o
"paredão do ceticismo, da burocracia e da ciumeira".
"Obstáculos que ele superava
de modo singular. Quando o
presidente Dutra vetou o nome
de Oscar Niemeyer para projetar o ITA, porque ele era comunista, Montenegro superou silenciosamente o que poderia
virar um escândalo. Chamou o
arquiteto e disse: "mantenha
seu projeto e arranje um amigo
para assinar as plantas'".
Curiosamente, um dos maiores "vilões" das aventuras de
Montenegro foi um amigo seu,
o brigadeiro Eduardo Gomes.
Companheiro de revoluções,
amigo do marechal desde 1924,
quando recebeu dele instrução
de vôo, o patrono da Força Aérea Brasileira discordava das
idéias que Montenegro tinha
para o ITA. O brigadeiro achava
que a instituição deveria ser
"uma grande oficina mecânica"
para atender à FAB. Montenegro queria que o ITA fosse um
centro de produção de conhecimento para toda a sociedade.
"Uma guerra surda foi separando aos poucos os dois amigos, até que, após o golpe de
1964, Gomes assumiu o Ministério da Aeronáutica e degolou
Montenegro da direção do ITA.
O brigadeiro não acreditava
que o futuro da aviação estava
nos motores a jato. E quando o
reitor do ITA, Charly Künzi, foi
ao ministro dizer que os alunos
do ITA eram contratados por
grandes corporações americanas e que, portanto, não eram
comunistas, Gomes esbravejou: "Bob Kennedy é comunista". Não fosse Montenegro, o
ITA de hoje não existiria."
Playboy
O sabor de aventura da trajetória de Montenegro vai além
da vida pública. Playboy, Montenegro casou-se apenas aos 50
anos. Com uma sobrinha.
"Ele era um homem muito
bonito, herói de guerra, alto oficial da FAB, piloto de avião, e
fazia enorme sucesso com as
mulheres. Em Copacabana, era
possível vê-lo desfilando em
seus carrões conversíveis repletos de moças. Tanto fez que
aos 51 anos acabou se casando
com Maria Antonietta, filha caçula do irmão, trinta anos mais
nova, e que ele carregara no colo quando bebê. Não é exatamente o que imaginamos quando se fala em "vida de militar'".
A propósito da vida militar,
Morais diz que chegou a ter
preconceito, achar que seria linear a história de um marechal.
Acabou se surpreendendo e hoje fala do orgulho por alguém
que sonhava com um Brasil potência aeronáutica mundial.
"Basta olhar a Embraer, nascida de uma costela do ITA. Me
parece saudável a coincidência
de que o livro aparece quando o
novo governo se divide entre
desenvolvimentistas e monetaristas. Para os primeiros, "Montenegro" é uma cartilha."
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