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Bienal recebe deboche do Los Super Elegantes
Dupla fará paródia do curador da mostra, Ivo Mesquita, e da modelo Gisele Bündchen para abordar crise nas artes plásticas
Apresentação de mexicana e argentino acontece hoje e quinta; dupla despontou em Los Angeles como banda
de pop latino debochado
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela devora uma goiaba, anda
pelo quarto e elogia a nova sunga do amigo Martiniano Lopez-Crozet, parceiro dela na dupla
Los Super Elegantes. Milena
Muzquiz, antes de receber a reportagem num hotel em São
Paulo, confessou que escrevera
um lembrete para o compromisso no espelho do banheiro,
porque a gravidez de quatro
meses prejudica sua memória.
E não, eles não são um casal,
nem é dele o filho. Lopez-Crozet é gay assumido; lembra até
que um missionário loiro e esbelto o fez perder o sono no vôo
de Los Angeles para cá.
Sem romance, e juntos há 13
anos na dupla que faz performances hoje e quinta na Bienal
de São Paulo, formam um duo
debochado e explosivo, emblemas do que se convencionou
chamar estética terceiro-mundista na arte contemporânea.
Ela é mexicana -garota de
Tijuana acostumada a cruzar a
fronteira ao norte rumo a San
Diego três vezes por semana-,
ele, argentino. Agora radicados
nos Estados Unidos, fazem um
esforço colorido para misturar
Primeiro e Terceiro mundos.
E vão além. Misturam também artes plásticas e música.
Foi como banda de pop latino
que surgiu Los Super Elegantes, abrindo para o American
Music Club, de Mark Eitzel, em
San Francisco.
"Ele era meu ídolo e, para
chegar perto dele, disse que tinha uma banda. Antes de subir
ao palco, inventamos esse nome, Los Super Elegantes", conta Lopez-Crozet.
Ivo e Gisele
Da mesma forma dispersa
que vão elencando assuntos na
conversa, de Sartre e Fassbinder a lojas da grife H&M, construíram o roteiro até agora
mantido sob segredo para a peça teatral que mostram nesta
Bienal. É uma paródia que desfila, de salto alto, do existencialismo às mazelas do mundo fashion e das artes plásticas.
Na trama, Lopez-Crozet é
Ivo Mesquita, o curador desta
edição da Bienal. Muzquiz encarna Gisele Bündchen. São
amigos "fartos da realidade",
que buscam se isolar no próprio vazio existencial. "Estamos usando o conceito de vazio
desta Bienal para fazer um site-specific, uma escultura de
idéias", descreve Muzquiz.
Como não ficaram prontas as
Havaianas gigantescas que
pensaram como cenário, o encontro de Ivo e Gisele acontece
num restaurante com paredes
de acrílico coloridas. Tudo vai
bem, até que ela tropeça e despenca do alto de seus saltos, e
os dois acabam morrendo, ou
algo parecido. Mas isso não importa, porque aí vem um número musical funk com danças
exóticas e tribais. "A narrativa
não é o mais importante."
"A gente ama o absurdo das
situações", diz Lopez-Crozet.
"É como se uma criança fizesse
uma colagem sobre o Brasil,
com coisas como Havaianas,
Gisele", emenda Muzquiz.
Eles confessam que não tinham idéia do que fazer até junho, quando foram confirmados para a mostra. "Aí comecei
a ler as notícias sobre o vazio, o
caos da Bienal, e tudo me pareceu genial", diz Lopez-Crozet.
"Sempre acabamos metidos
nas situações mais insólitas."
Tanto que, adiantam, são fictícias as versões performáticas
de Ivo e Gisele. "Não pesquisamos a biografia deles, podia ser
qualquer um, até Elizabeth
Taylor no lugar da Gisele", afirma Muzquiz. É uma ressalva,
no entanto, dispensável: sua
versão de Bündchen, longe das
origens gaúchas, vem da Amazônia e tinha algum tipo de relação com ex-escravos.
Nenhum dos dois quis revelar como termina a história de
Ivo e Gisele, mas Muzquiz dá
uma pista, lembrando "Um
Convidado Bem Trapalhão",
comédia de Blake Edwards:
"De repente, sem saber como
terminar o filme, ele faz um elefante roxo entrar na sala, as paredes despencam, é o caos".
28ª BIENAL DE SÃO PAULO
Quando: hoje e qui., às 20h
Onde: pavilhão da Bienal (pq. Ibirapuera, portão 3, tel.: 0/ xx/11/5576-7600)
Quanto: entrada franca
Classificação: livre
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