São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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OPINIÃO PRAÇA ROOSEVELT

Política pública e jovens artistas criaram espaço de diversidade

Programa Municipal de Fomento atraiu para a região companhias distintas interessadas em experimentação

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro e a cidade. Quais os fatores que transformam certas regiões urbanas em nichos da produção teatral? Os dez anos dos Satyros na praça Roosevelt demarcam um processo efetivo de ocupação e revitalização daquela área.
Se a produção teatral que ali se consolidou não é homogênea e está sujeita às casualidades que reuniram distintas companhias e projetos até antagônicos, há razões reconhecíveis a elucidar o fenômeno.
A mais evidente tem a ver com o Programa Municipal de Fomento ao Teatro, uma conquista dos grupos paulistanos que tem servido a diversas cidades brasileiras como um exemplo de política pública consequente para a cultura.
Na medida em que obtinham os recursos para uma pesquisa continuada, vários grupos, inclusive os Satyros, encontraram naquela área degradada condições favoráveis para instalar suas sedes.
O caso repete em novos termos o ocorrido entre as décadas de 1940 e 1960, quando o Bexiga foi o bairro eleito para abrigar a sede de diversas companhias.
Ali surgiram espaços como os do Teatro Brasileiro de Comédia, do Bela Vista (onde hoje há o Sérgio Cardoso), do Oficina e do Ruth Escobar. Foi a partir daí que o bairro se revitalizou e adquiriu a aura boêmia que guarda até hoje.

PROCESSO COLETIVO
Outra possível explicação tem caráter estético. No fim dos anos 1990, ocorreu um novo impulso criativo no teatro brasileiro gerado por uma geração de jovens artistas, muitos deles saídos da universidade e animados pela perspectiva de uma retomada dos processos coletivos de criação.
Na fórmula do "processo colaborativo" reside um conjunto de procedimentos comuns que privilegia mais a fase da criação do que o produto acabado. Nos vários espaços que foram sendo criados importava menos a existência de palcos equipados e grandes plateias do que a possibilidade de desenvolver experimentos radicais.
E eles ocorreram em diversas direções, com destaque para a dramaturgia de Mário Bortolotto e seus personagens afogados no álcool e para as explorações dos Satyros no em torno da praça, buscando contato com as comunidades de transexuais e prostitutas.
Com a vinda dos Parlapatões, um grupo que já tinha se firmado nacionalmente retomando a tradição do humor circense, o quadro se ampliou e atraiu novos coletivos. Além disso, os grupos instalados passaram a alugar seus espaços nos intervalos das montagens, o que ampliou ainda mais a diversidade oferecida na Roosevelt.
Agora, com a perspectiva de uma escola de formação de técnicos em teatro em um dos prédios da praça, a tendência é que o adensamento se intensifique. A cidade bate palmas, agradecida.


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