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OPINIÃO PRAÇA ROOSEVELT
Política pública e jovens artistas criaram espaço de diversidade
Programa Municipal de Fomento atraiu para a região companhias distintas interessadas em experimentação
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O teatro e a cidade. Quais
os fatores que transformam
certas regiões urbanas em nichos da produção teatral? Os
dez anos dos Satyros na praça Roosevelt demarcam um
processo efetivo de ocupação
e revitalização daquela área.
Se a produção teatral que
ali se consolidou não é homogênea e está sujeita às casualidades que reuniram distintas companhias e projetos
até antagônicos, há razões
reconhecíveis a elucidar o fenômeno.
A mais evidente tem a ver
com o Programa Municipal
de Fomento ao Teatro, uma
conquista dos grupos paulistanos que tem servido a diversas cidades brasileiras como um exemplo de política
pública consequente para a
cultura.
Na medida em que obtinham os recursos para uma
pesquisa continuada, vários
grupos, inclusive os Satyros,
encontraram naquela área
degradada condições favoráveis para instalar suas sedes.
O caso repete em novos
termos o ocorrido entre as décadas de 1940 e 1960, quando o Bexiga foi o bairro eleito
para abrigar a sede de diversas companhias.
Ali surgiram espaços como
os do Teatro Brasileiro de Comédia, do Bela Vista (onde
hoje há o Sérgio Cardoso), do
Oficina e do Ruth Escobar.
Foi a partir daí que o bairro se
revitalizou e adquiriu a aura
boêmia que guarda até hoje.
PROCESSO COLETIVO
Outra possível explicação
tem caráter estético. No fim
dos anos 1990, ocorreu um
novo impulso criativo no teatro brasileiro gerado por uma
geração de jovens artistas,
muitos deles saídos da universidade e animados pela
perspectiva de uma retomada dos processos coletivos de
criação.
Na fórmula do "processo
colaborativo" reside um conjunto de procedimentos comuns que privilegia mais a
fase da criação do que o produto acabado. Nos vários espaços que foram sendo criados importava menos a existência de palcos equipados e
grandes plateias do que a
possibilidade de desenvolver
experimentos radicais.
E eles ocorreram em diversas direções, com destaque
para a dramaturgia de Mário
Bortolotto e seus personagens afogados no álcool e para as explorações dos Satyros
no em torno da praça, buscando contato com as comunidades de transexuais e
prostitutas.
Com a vinda dos Parlapatões, um grupo que já tinha
se firmado nacionalmente retomando a tradição do humor circense, o quadro se
ampliou e atraiu novos coletivos. Além disso, os grupos
instalados passaram a alugar
seus espaços nos intervalos
das montagens, o que ampliou ainda mais a diversidade oferecida na Roosevelt.
Agora, com a perspectiva
de uma escola de formação
de técnicos em teatro em um
dos prédios da praça, a tendência é que o adensamento
se intensifique. A cidade bate
palmas, agradecida.
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