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MÚSICA
George Michael se confunde todo
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Liberto de
uma briga que
parecia interminável com a gravadora Sony, o
cantor inglês
George Michael, 36, inicia vida
nova, casa nova -a Virgin-
com "Songs from the Last Century". E ninguém consegue entender nada.
Começa pela (chata) questão semântica. Apanhando canções
compostas entre 1930 e 1995, ele
as chama de "canções do século
passado". Ou é irônico com o envelhecimento da canção popular
na era tecno -o que é bem bobo-, ou está querendo lançar um
disco para os 2000 -mas, tédio, o
século 21 só começa em 2001.
Depois é questão de posicionamento. Embora sempre discriminado por seu forte apelo pop,
George é artista de importância
capital na constituição do pop
pós-80, com grandes ("Faith", 87,
"Older", 98) e enormes ("Listen
without Prejudice", 90) momentos de inserção.
Agora, resolve se tornar pretensioso e avançar por solo pisado
por ícones qual Frank Sinatra
("Where or When", 37) ou Nina
Simone ("Wild Is the Wind", 57),
exibindo seus dotes de intérprete.
Bem, claro que eles existem.
Mas ele fica risível tentando incorporar Bryan Ferry -talvez o
único artista pop com desenvoltura para se embrenhar em tais
nichos da canção tradicional
(Ferry acaba de lançar CD análogo a esse, pela mesma Virgin)- e
dando a seu velho pop verniz jazzinho, salão de festinha de restaurante kitsch-chique.
Quanto à estratégia de seleção, o
cara parece mais perdido que cego em tiroteio. Soaria cândida se
não soasse macabra a colocação,
num rol de compositores ditos de
estirpe na canção tradicional, de
Sting ("Roxanne", 78, do Police) e
do U2 ("Miss Sarajevo", 95, aquela do encontro com Pavarotti). Ele
não sabe se vai ou se fica.
"Songs from the Last Century"
não é de todo ineficaz, entretanto.
Torna-se funcional quando o ídolo pop se aproxima (ainda que
sob arranjos pseudo-sofisticados)
de seu terreno de origem.
Tal acontece nas tocantes "The
First Time Ever I Saw Your Face"
(63, já cantada por Elvis Presley,
Roberta Flack e Marianne Faithfull), "Wild Is the Wind" (a que
David Bowie, além de Nina Simone, deu versão de profundidade,
em 76), até mesmo "Miss Sarajevo". Não acontece em "Roxanne",
porque Sting, francamente...
No mais, a compreensão da
canção do século (de que século?)
por George peca, ainda, pela aceitação do estereótipo do cantor
gay que vem tentar emular Ninas
Simones e Robertas Flacks. Este é
apenas um lado da canção popular, não permite a ela o rótulo globalizador que o menino pretende.
Bom, revisão é a moda e George
não quis ficar de fora. É preocupante que o tenha feito no início
de um novo ciclo, mas não é possível descobrir agora, só por esse
equívoco, para onde quer ir. Espera-se, por enquanto, a volta do
ídolo pop gay cheio de macheza e
de propriedade que ele tem conseguido sempre ser. Está de férias.
Avaliação:
Disco: Songs from the Last Century
Artista: George Michael
Gravadora: Virgin
Quanto: R$ 20, em média
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