São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 2005

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DVDS

"JORNADA NAS ESTRELAS: NÊMESIS"

Longa aponta desgaste de "Star Trek"

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Jornada nas Estrelas: Nêmesis", que acaba de sair em DVD numa edição especial em dois discos, é mais que simplesmente um filme da interminável franquia de ficção científica iniciada nos anos 60 pelo escritor e produtor Gene Roddenberry. Lançado em 2002, ele marcou o fim de uma era.
Também é pouco dizer que foi a conclusão da saga do elenco da série "A Nova Geração", que foi ao ar na TV americana entre 1987 e 1994 e teve outros três filmes para o cinema. Na verdade, "Nêmesis" marcou o ponto em que a saturação do mercado com "Jornada nas Estrelas" era tão grande que tornou a produção antieconômica. Desde então, a Paramount Pictures decidiu interromper a série para cinema, e os planos, ainda preliminares, para a volta da franquia à telona provavelmente não envolverão nenhum dos atores ou personagens vistos nas produções anteriores.
"Nêmesis" merecia melhor sorte. Ainda que recheado de conveniências de roteiro, é uma obra bem-produzida, conduzida por alguns craques de Hollywood. O filme foi escrito por John Logan (roteirista que ganhou um Oscar por "Gladiador") e dirigido por Stuart Baird (que editou "Superman", de 1978), o que criou um espírito diferenciado.
A película também pega carona em temas da atualidade. No enredo, o capitão Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) é chamado a negociar um tratado de paz com os romulanos (velhos inimigos já nos tempos da série original de "Jornada nas Estrelas"). A iniciativa romulana partiu de um humano chamado Shinzon, que deu um golpe de Estado e assumiu o poder no império. Ele se revela como um clone de Picard, e as coisas não são assim pacíficas; o andróide Data (Brent Spiner) também é surpreendido pela descoberta de um protótipo de si mesmo, B-4 -em inglês, a pronúncia é igual à "before" ("antes").
Como se vê, as duplas Shinzon/ Picard e B-4/Data são uma forma de tratar a velha polêmica sobre o quanto de cada indivíduo é herdado (geneticamente ou por programação) e o quanto é moldado pela vida e pelas escolhas. Uma discussão no melhor estilo "Jornada nas Estrelas", ainda que alegorias do tipo acabem deixando o realismo em segundo plano.
Rever este filme em DVD é uma grande oportunidade. Mais do que poder julgar com um certo afastamento sua qualidade, também é possível ver algumas das escolhas dolorosas que a produção teve de fazer na hora de editar o filme. O primeiro corte tinha 2h45; muito trabalho foi exigido para reduzir a duração a 1h56.
Nos extras, é possível ver várias das cenas cortadas. Pelo menos uma delas, entre Picard e Data, talvez merecesse ter sido incorporada ao filme. As opções de corte foram sempre voltadas para manter o filme mais próximo do gênero "ação" do que do "drama". É uma perda significativa, uma vez que "Nêmesis" tinha grande probabilidade de ser o último filme com "A Nova Geração" -o que acabou se confirmando.
A despeito do desgaste da marca e da bilheteria ridícula (não é fácil estrear na mesma semana que "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres"), "Nêmesis" deve resistir ao teste do tempo como uma das boas produções de "Jornada nas Estrelas", que faz 40 anos de forma discreta em 2006.


Jornada nas Estrelas: Nêmesis
   

Direção: Stuart Baird
Lançamento: Paramount (R$ 34,90)


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